Por Bette Lucchese, Lucas Soares, Junior Alves, Sérgio Telles, RJ1


Moradores de Petrópolis reclamam de falta de infraestrutura, um ano após tragédia que matou 235 pessoas

Moradores de Petrópolis reclamam de falta de infraestrutura, um ano após tragédia que matou 235 pessoas

Uma foto encontrada em meio aos escombros do Morro da Oficina conta a história de uma família que foi destruída pela maior tragédia da história de Petrópolis, que completa um ano esta semana. O maior temporal que a cidade da Região Serrana já viu registrou 235 mortos no dia 15 de fevereiro do ano passado.

O RJ1 conversou com famílias, que relatam a dificuldade de conviver com as perdas um ano depois. Algumas também reclamam que pouca coisa mudou na cidade.

A imagem encontrada no Morro da Oficina é a única lembrança da família de Cristiane Gróes da Silva.

“A mãe do meu neto, que eu perdi. É a Joyce, minha sobrinha. Eu perdi 9 pessoas”, disse Cristiane.

Ela conta que a foto foi tirada há dez anos. Mostra um momento feliz, os 15 anos da filha, Mariana.

Cristiane lembra momento feliz da família antes do temporal que atingiu Petrópolis — Foto: Reprodução/ TV Globo

“Minha sogra, que paparicava demais, era o xodó, entregando um presente. A gente estava saindo para ir para o salão de festas, comemorar os 15 anos dela. [Aniversário] Da minha filha Mariana, mãe do meu neto”, destacou Cristiane.

Mariana foi a única na imagem que sobreviveu. A avó, Waldecir da Silva Afonso, de 74 anos, e a prima, Joyce da Silva Afonso, de 23 anos, foram soterradas. Dois filhos de Joyce também morreram.

Donativos

Cristiane costuma visitar lugar onde ficava a casa da família em Petrópolis. Ela perdeu 9 familiares — Foto: Reprodução/ TV Globo

Depois da tragédia, Cristiane mantém um ritual. Ela recolhe donativos e entrega aos sobreviventes. Saudosa, sempre visita a área onde ficava a casa dela e dos parentes. Questionada sobre o motivo de voltar ao local, ela destaca a importância da memória.

“Eu me sinto perto deles. Eu vou até lá, onde lambeu a pedra. Eu tento entender como aquela pedra rolou. E eu não consigo, sabe?”, disse Cristiane.

Após um dia inteiro andando nos locais mais atingidos, a equipe de reportagem encontrou apenas um canteiro de obras.

Mesmo após as mortes causadas pela chuva, ainda é possível observar casas na beira do precipício, encostas com fendas e moradores que insistem em viver em áreas interditadas por falta de condições financeiras para sair. Eles contam que não conseguiram o aluguel social ou tiveram o benefício cortado.

“As casas aí, tudo caindo, ninguém fez nada. Casas em perigo que estão para cair na rua, que é via pública, com ônibus, creche, tudo. Não fizeram nada”, disse Patrícia Teixeira de Paula, moradora da Chácara Flora, outra área de Petrópolis fortemente atingida.

A Vila Felipe, outra região que registrou vários mortos por causa do temporal de fevereiro do ano passado, parece uma terra-fantasma.

Uma placa anuncia obras de contenção e drenagem de encostas. Mas ainda falta a data de início.

Placa anuncia a execução de obras na Vila Felipe, uma das áreas atingidas pelo temporal em Petrópolis, mas sem data de início — Foto: Reprodução/ TV Globo

Valdenir Dias Lopes sempre visita o lugar onde morou.

“Quando chega aqui, você lembra da sobrinha, da mãe e das 40 pessoas, que eram amigos, conhecidos do bairro”, disse Valdenir.

Segundo ele, só limparam o entulho da região, mas nenhuma obra de melhoria foi realizada.

Cidade traumatizada

Os moradores de Petrópolis vivem com medo de que a tragédia se repita. Ao mesmo tempo, eles remoem a lembrança sobre a maneira dolorosa, como perderam pessoas queridas.

“É isso aí. Cidade totalmente despreparada, você vê aí, entra todo mundo em pânico, desespero total. É o que a gente está vivendo. Todos os dias. Psicológico abalado, totalmente desestruturado. Você vê o tempo fechando, já entra em desespero. Aí, o que a gente ouve? ‘Vamos para locais seguros’. E aí, você tem que trabalhar, você tem que que pagar conta. E aí, como é que você faz? É muito complicado”, desabafou Cristiane.

O que dizem os citados

A Prefeitura de Petrópolis disse que concluiu 48 obras de médio e grande porte no ano passado. E tem outras 41 obras em andamento e 40 em fase de licitação. O poder municipal disse também que essas primeiras obras tiveram como foco a volta da mobilidade nas ruas da cidade. E que, agora, o foco está nos principais pontos dos desastres: o Morro da Oficina e a Vila Felipe.

Sobre o aluguel social, o Governo do Estado do Rio de Janeiro disse que foram identificadas falhas na documentação e teve que suspender o pagamento de 111 pessoas que possuem renda maior do que três salários mínimos. E disse que, só no ano passado, foram pagos mais de R$ 17 milhões em aluguéis sociais na cidade.

Sobre as obras, o Governo do Rio de Janeiro afirmou que está investindo R$ 255 milhões em ações com cinco encostas e no Túnel Extravasor, que passa por reparos para evitar novos alagamentos. O poder estadual afirmou ainda que nenhuma obra que estava em execução foi paralisada. E que atua em intervenções na região da RFua Teresa, no Sargento Boening, Valparaíso, com mais da metade das obras prontas.

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