Por g1 Rio


Começa julgamento de Flordelis, ex-deputada acusada de mandar matar o marido, há 3 anos

Começa julgamento de Flordelis, ex-deputada acusada de mandar matar o marido, há 3 anos

O julgamento da ex-deputada federal Flordelis teve início nesta segunda-feira (7), no Tribunal do Júri de Niterói, onde a pastora e cantora gospel responderá, junto com mais quatro acusados, pela morte do pastor Anderson do Carmo, marido dela, executado a tiros em junho de 2019.

O caso que deixou em choque todo o país é complexo e conta com o envolvimento de pelo menos 11 pessoas, segundo a Justiça. Entre os acusados, estão seis dos 52 filhos adotivos do casal Flordelis e Anderson, além de três filhos biológicos e uma neta. Quatro pessoas já foram julgadas, sendo dois condenados pelo assassinato do pastor.

Além de Flordelis, também serão julgados nesta segunda-feira Simone dos Santos Rodrigues, Marzy Teixeira, André Luiz de Oliveira e Rayane dos Santos.

Por causa do número de réus, a sessão deve durar mais de um dia. As partes convocaram 30 testemunhas.

Flordelis no banco dos réus, no primeiro dia de julgamento — Foto: Brunno Dantas/TJRJ

A morte de Anderson do Carmo ocorreu na noite de 16 de junho de 2019. O pastor foi morto, com mais de 30 tiros, na garagem da casa onde morava com a família, em Pendotiba, Niterói.

Para a polícia, ficou evidenciada a intenção de matá-lo, sem que Anderson tivesse a chance de reagir.

Flordelis responde por homicídio

Denunciada como a mandante da execução, a ex-deputada e missionária responde por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Segundo a Polícia Civil e o MP, há indícios que Flordelis botou veneno na comida de Anderson do Carmo e mandou comprar a arma do crime.

Flordelis está presa desde o dia 13 de agosto. Ela teve a prisão preventiva decretada pela juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, 48 horas após a ex-parlamentar ter tido o mandato de deputada federal cassado no plenário da Câmara dos Deputados.

Filhos condenados

Em novembro de 2021, dois dos filhos da ex-deputada federal Flordelis foram condenados por envolvimento no crime.

Flávio dos Santos Rodrigues, acusado de atirar no padrasto, foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio triplamente qualificado, porte ilegal de arma, uso de documento ilegal e associação criminosa armada.

Lucas Cézar dos Santos Souza, apontado por comprar a arma do crime, foi condenado a sete anos e meio por homicídio triplamente qualificado. Sua pena foi reduzida por ter colaborado com as investigações.

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Cinco meses após a condenação dos primeiros envolvidos no crime, a Justiça voltou a julgar a participação de outros filhos do casal Flordelis e Anderson.

Na ocasião, Carlos Ubiraci Francisco da Silva, filho afetivo de Flordelis, foi absolvido pela morte do pastor Anderson do Carmo. Carlos respondia por homicídio triplamente qualificado. Apesar da absolvição por homicídio, ele foi condenado por associação criminosa.

Os outros três réus, Adriano dos Santos Rodrigues (filho biológico de Flordelis), Marcos Siqueira Costa (ex-policial militar) e Andrea Santos Maia (mulher de Marcos Siqueira) foram condenados por uso de documento falso duas vezes e por associação criminosa armada.

Esse documento falso foi uma carta forjada a fim de inocentar Flordelis. Segundo as investigações, Marcos teria auxiliado a esposa na mensagem falsa em que Lucas teria revelado que Mizael, outro filho adotivo de Flordelis, teria oferecido a ele um emprego e um carro em troca de um “susto” em Anderson do Carmo.

Flordelis e Anderson do Carmo — Foto: TV Globo

Adriano pegou quatro anos e seis meses de reclusão em regime semiaberto; Andrea foi condenada a três meses e dez dias de prisão em regime inicialmente semiaberto; Carlos Ubiraci pegou dois anos, dois meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto; Já Marcos Siqueira teve sua pena determinada em cinco anos e 20 dias de prisão em regime inicialmente fechado.

Outros réus

André Luiz de Oliveira, filho adotivo de Flordelis, responde por uso de documento falso e associação criminosa armada.

Segundo a Justiça, André recebeu de Flordelis uma mensagem, em outubro de 2018, em que ela pedia ajuda para criar um plano para ajudar a matar o pastor Anderson do Carmo.

Em outra troca de mensagens, de dezembro de 2018, Flordelis conversou com André Luiz, que escreveu: "Mãe, eu estou com a senhora. Não dá pra eu fazer muita coisa, mas estou com a senhora".

6 pontos para entender o caso Flordelis

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Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, responde por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada.

Marzy teria recebido a quantia de R$ 5 mil de Simone dos Santos Rodrigues para pagar a morte do pastor Anderson do Carmo. Investigação aponta que Marzy fez buscas por matador na internet.

Rayane dos Santos Oliveira, neta biológica de Flordelis e filha de Simone, responde por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.

Segundo o Ministério Público, Flordelis encomendou a morte de Anderson e pediu à neta que procurasse pessoas para assassiná-lo.

Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, responde por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada.

Em depoimento, Simone confessou ter pagado R$ 5 mil pela morte do pastor Anderson do Carmo. O motivo seriam as constantes investidas sexuais do pastor.

Veneno na comida

Ao longo das investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Civil, agentes e procuradores descobriram que o plano para matar Anderson teve início em maio de 2018.

Na ocasião, Flordelis teria tentado assassinar o marido por envenenamento, utilizando doses de arsênico e cianeto.

“O envenenamento foi feito de forma gradual, sucessiva. O arsênico era posto na comida do pastor de forma dissimulada. Até 2019, ele teve várias passagens na emergência de hospitais de Niterói, com diarreia, vômitos, sudorese, e se tratando como se fossem outras coisas”, explicou o promotor Sérgio Luiz.

Formação de família

Há cerca de 30 anos, Flordelis acolheu cinco adolescentes em sua casa. Eles eram Anderson, Carlos André, Mizael e Cristiana. A pastora tinha três filhos biológicos de um primeiro casamento: Simone, Flávio e Adriano.

Anderson do Carmo foi namorado de Simone dos Santos Rodrigues, mas em 1998, ele se casou com a mãe dela, Flordelis, 16 anos mais velha que ele. Depois chegou Daniel.

No segundo andar da casa onde a família morava em Pendotiba, Niterói, havia o quarto de Flordelis e Anderson. No cômodo ficava a geladeira à disposição desse grupo.

Os depoimentos dos filhos adotivos prestados à polícia e as investigações mostraram um cenário de mágoas e ressentimentos.

Família que Flordelis formou era considerada modelo de amor e solidariedade

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Com o controle do dinheiro, Anderson passou a ser combatido por parte da família. Meses antes de morrer, ele foi parar no hospital algumas vezes.

O inquérito policial revelou que integrantes da própria família estavam tentando envenená-lo. Produtos foram colocados no suco, no feijão ou iogurte.

A filha Roberta presenciou duas irmãs passarem mal quando provaram a comida do pai. Suspeita, a filha biológica de Flordelis, Simone, disse que pesquisou o venene cianeto na internet apenas por curiosidade.

Depois do crime, a família se dividiu entre os que ficaram ao lado da mãe e os que romperam com Flordelis.

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