RJ2 traz novas denúncias sobre o Ceperj
Mais de R$ 220 milhões em espécie foram sacados em caixas eletrônicos por pessoas contratadas pelo Centro de Estudos e Pesquisas do Estado (Ceperj).
O pagamento de funcionários estaduais e federais, mesmo que temporários, em caixas eletrônicos é proibido. E mais: o Ministério Público do Rio (MPRJ) diz que a prática é um indício de fraude e que tantos saques em dinheiro constituem a “nítida afronta às normas de prevenção à lavagem de dinheiro”.
Desse valor, R$ 12 milhões foram sacados em uma agência bancária em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
O maior beneficiário desses pagamentos, Fabrício Manhães Cabral, fez 14 saques este ano, totalizando quase R$ 123 mil. Ele foi servidor da Câmara Municipal de Campos até setembro de 2021. Já outras duas pessoas retiraram 18 pagamentos.
Um funcionário de uma agência falou que, entre o dia 5 e o dia 15, são cerca de 70 a 100 pessoas por dia para retirar pagamentos. Ele afirmou que as devoluções de parte do dinheiro são feitas diretamente para eles, nos caixas, no esquema de “rachadinha”.
“As pessoas falam às vezes para a gente e perguntam para a gente se sabe quanto é que precisa devolver”, conta. “Vem pelo CPF delas e elas trazem a identidade. A gente coloca o CPF e coloca para o nome delas, e elas têm direito de fazer o saque”.
Veja outros locais em que agências tiveram altos saques por pessoas contratadas pelo Ceperj:
- Nova Iguaçu: mais de R$ 7 milhões;
- Barra Mansa: R$ 5 milhões;
- Duque de Caxias: quase R$ 5 milhões;
- Bangu, Zona Oeste do Rio: R$ 4,5 milhões;
- Volta Redonda: R$ 4 milhões.
Para o MP, a prática indica remuneração por mão de obra temporária, já que a maioria recebeu mais de um pagamento. Só que a natureza do serviço prestado não se enquadra na lei que autoriza a contratação temporária no estado. O MP não sabe como eles foram contratados.
A investigação também apurou o pagamento pelo Ceperj a dois funcionários efetivos do governo: Elizabeth Valle Viana Paiva, engenheira civil do Departamento de Estradas e Rodagem, e Frederico Aldabaide Munck Machado, ajudante da Secretaria de Governo. Eles receberam dois pagamentos de mais de R$ 7 mil.
Segundo o MP, a medida pode configurar “burla à proibição prevista na Constituição sobre acumulação de cargos públicos”.
As denúncias também apontam políticos como donos dos cargos secretos, como o deputado Rodrigo Bacellar, do PL, que é de Campos dos Goytacazes e foi secretário estadual de governo até julho.