Por Guilherme Boisson e Pedro Figueiredo, RJ2


Edson Torres e Pastor Everaldo agiram nos governos Garotinho e Rosinha

Edson Torres e Pastor Everaldo agiram nos governos Garotinho e Rosinha

Os supostos esquemas do Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, e o homem apontado como seu braço-direito, Edson Torres, com os governos do Rio de Janeiro tiveram início em 1998, de acordo com as investigação do Ministério Público Federal.

O empresário Edson Torres disse ao MPF que conheceu o pastor Everaldo durante a campanha para o estado em 1994, mas que os esquemas dos dois com o governo só começaram quatro anos depois.

Torres e Everaldo foram presos temporariamente na Operação Tris in Idem, que apura corrupção na Saúde do estado, no dia 28 de agosto. O pastor teve a prisão convertida em preventiva e seguia preso até esta terça-feira (15). Edson foi liberado após o fim da prisão temporária.

Ganhos nos governos Garotinho

De acordo com as investigações, Torres e o pastor Everaldo apoiaram a candidatura de Anthony Garotinho em 1998 para o governo do estado e contaram ainda com o apoio do ex-deputado Eduardo Cunha. Garotinho venceu a eleição.

Segundo o Ministério Público Federal, como Torres tinha relações políticas com o grupo que estava no poder, ele foi beneficiado e suas empresas tiveram ganhos exponenciais no período: passou a ter grande crescimento econômico com contratos em órgãos como Detran e Cedae.

Ainda segundo o MPF, Pastor Everaldo, Edson Torres, Garotinho e Eduardo Cunha recebiam propina de 5% dos valores dos contratos com a Cedae.

Em 2002, Garotinho renunciou para concorrer à presidência, e Benedita da Silva assumiu o governo. Edson Torres contou que durante o mandato de Benedita acabou tendo problemas com seus contratos junto ao governo do Rio e que apoiou, ainda em 2002, a candidatura de Rosinha Garotinho para governadora. Eleita, ela foi empossada em 2003.

Edson Torres disse em depoimento que no governo de Rosinha teve um crescimento muito grande com as empresas Dinâmica e Segurança Patrimonial e Dinâmica Serviços, e que ganhou contratos com o Detran, Cedae, entre outros órgãos públicos. Disse ainda que alguns foram fechados de maneira lícita, mas admitiu a forma ilícita de outros.

O empresário contou aos procuradores que o grupo perdeu força no governo de Sérgio Cabral e que, a partir de 2006, acabou afastado das licitações e contratos públicos.

A partir de então, Edson Torres diz ter ficado de fora dos contratos do governo do estado durante 12 anos: nos dois mandatos de Cabral e no de Luiz Fernando Pezão, a partir de 2014.

Witzel escolhido como o novo aliado

De acordo com o Ministério Público Federal, com o avanço da Operação Lava Jato no Rio e a desarticulação da organização criminosa chefiada por Cabral, “velhos atores” se mobilizaram para voltar ao poder no estado. Witzel teria sido escolhido para dar "novo rosto ao grupo político.

Segundo os procuradores, Edson Torres informou que a cooptação de Witzel para fazer parte da organização criminosa, que estava em gestação, se iniciou ainda em 2017.

No documento, o MPF adicionou um registro feito na agenda de Witzel, que comprovaria o encontro dele com Edson Torres e com o Pastor Everaldo em 2017.

De acordo com o MPF, Edson Torres disse que, em abril de 2018, entregou pessoalmente R$ 200 mil em espécie que estavam em uma pasta “modelo 007”. O dinheiro, em maços de R$ 50 mil, foi entregue ao pastor Everaldo, que repassou a Witzel, que colocou a quantia em uma bolsa.

O valor seria a última parcela dos R$ 980 mil pagos pela organização criminosa a Witzel, e uma garantia por ele ter largado a magistratura para concorrer às eleições.

Segundo o Ministério Público Federal, Witzel começou as eleições com poucas intenções de voto, mas depois de ficar em primeiro lugar no primeiro turno, o grupo econômico que apoiava a candidatura dele cresceu de tamanho, na expectativa de receber contratos com a administração pública ao assumir o governo.

Depois de eleito, segundo o MPF, Witzel se tornou o principal chefe da organização criminosa, com participação ativa, loteando os recursos públicos do estado, recebendo vantagem ilícita e lavando dinheiro.

O que dizem os citados

Os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho afirmam que não receberam propina, não são investigados e que romperam com Eduardo Cunha justamente porque descobriu irregularidades na Cedae.

O governador afastado Wilson Witzel considerou as acusações mentirosas. Disse que o que possui é fruto do seu trabalho e compatível com a sua realidade financeira e que está tudo declarado no imposto de renda. Segundo Witzel, todo o seu patrimônio se resume à casa no Grajaú e não há qualquer sinal exterior de riqueza.

A defesa de Eduardo Cunha disse que trata-se de uma acusação absolutamente infundada e afirma que não participou de qualquer esquema.

A defesa do Pastor Everaldo vem afirmando que confia na justiça e que sempre esteve à disposição das autoridades. O Pastor reitera a confiança na sua libertação.

Victor Hugo Cavalcante negou qualquer conduta criminosa.

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