Os registros do Tribunal Superior Eleitoral mostram que Bruno Kopke foi o quinto maior doador da campanha de Witzel — Foto: Reprodução
Diretor médico da Organização Social (OS) Unir Saúde, Bruno José da Costa Kopke Ribeiro foi o quinto maior doador da campanha do então candidato ao Governo do RJ Wilson Witzel. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral verificados pelo G1, Kopke doou, no dia 26 de outubro de 2018, R$ 75 mil à corrida eleitoral do atual governador.
A informação foi antecipada pelo Blog do Berta e discutida por deputados na Comissão de Saúde e Gastos com a Covid da Assembleia Legislativa (Alerj). A sessão foi realizada na manhã desta segunda-feira (20), quando os parlamentares ouviram o depoimento do diretor-executivo da Unir Saúde, Marcus Velhote.
Desde o governo Sérgio Cabral, a Unir cuidava da administração de unidades de saúde no Rio de Janeiro. No entanto, em outubro do ano passado, após pareceres jurídicos da Secretaria de Saúde e da Cas Civil, a OS foi desqualificada por incapacidade na prestação de serviços médicos.
Mesmo assim, no dia 23 de março deste ano, em decisão monocrática, Witzel ignorou os pareceres e restituiu à Unir o direito de voltar a fazer contratos com o Governo do Estado.
Decisão de Witzel restituiu à Unir o direito de celebrar contratos com o Estado. — Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Em maio, após a Operação Favorito prender pessoas ligadas a Unir Saúde – que entre 2018 e 2019 recebeu mais de R$ 180 milhões para administrar dez UPAs da capital e da Baixada Fluminense –, o governador desqualificou a OS.
A restituição da capacidade de contratação com o Estado do Rio à Unir Saúde foi o que motivou os deputados Luiz Paulo e Lucinha, ambos do PSDB, a pedirem a impeachment do governador. O processo está em andamento.
"É no mínimo estranho que um doador físico faça uma contribuição tão elevada quanto essa, de R$ 75 mil, em um momento no qual empresas não podiam mais fazer doações. Fica ainda mais estranho quando vemos que a OS a qual Bruno Kopke era ligado acabou beneficiada por uma decisão do governador. Como podemos ter certeza de que ele, ao fazer essa doação, não estava cumprindo uma missão empresarial? Ainda não temos como afirmar, mas precisamos tirar essa dúvida", analisou Luiz Paulo.
A situação também causou estranhamento à presidente da Comissão de Saúde, Martha Rocha (PDT). Tanto que ela colocou em votação a convocação de Kopke para depoimento diante das comissões. A proposta foi aceita.
Deputada Martha Rocha (PDT) sugeriu que Bruno Kopke seja ouvido pelas comissões. A sugestão foi acolhida. — Foto: Reprodução/GloboNews
"A meu ver, é relevante ouvir o Bruno Kopke, diretor médico da Unir que estava no processo de desqualificação e de reabilitação, e que fez uma doação de R$ 75 mil para a campanha do governador Wilson Witzel".
Questionado pelo G1, o Governo do Estado enviou uma resposta em três tópicos:
- O governador Wilson Witzel não tem e nunca teve qualquer relação com Bruno Kopke;
- O Instituto Unir Saúde havia entrado com recurso e, após este ser analisado pela Governadoria do Estado, foi dado parecer favorável à empresa para não impactar no adequado funcionamento das unidades de saúde mantidas por ela;
- Diante dos fatos narrados na decisão da 7ª Vara da Justiça Federal, o governador desqualificou o Instituto em maio deste ano.
O site da Unir Saúde foi retirado o ar. O G1 tentou contato telefônico com Bruno Kopke por meio dos três números que seriam da empresa que aparecem no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Ninguém atendeu.
Depoimento evasivo
Marcus Velhote: segundo os deputados das comissões de Saúde, depoimento foi evasivo. — Foto: Reproduçao/TV Alerj
Os deputados consideraram o depoimento de Marcus Velhote evasivo, uma vez que, em pelo menos duas ocasiões durante a sessão de mais de três horas de duração, ele afirmou não saber quem seriam os proprietários da Unir Saúde, empresa da qual ele é diretor-executivo.
A Operação Favorito, deflagrada em maio para combater desvio de R$ 3,9 milhões de verbas da saúde do Rio de Janeiro, teve como principal alvo o empresário Mário Peixoto. Segundo o Ministério Público Federal, ele seria sócio da Unir ao lado de Luiz Roberto Martins, detido na mesma ocasião.
Gravações levantam suspeita de superfaturamento de equipamentos da área de saúde no RJ
No dia 17 de maio, o Fantástico divulgou trechos de interceptações autorizadas pela Justiça. Em uma delas, Luiz Roberto cita uma suposta ajuda do governador Witzel,
"O Zero Um do palácio assinou aquela revogação daquela desclassificação da Unir, tá? Aquela desclassificação que impediu a gente de assumir as UPAs”, disse Luiz Roberto na gravação.
Ele se refere a uma das empresas do grupo que estava descredenciada, mas que recentemente foi autorizada a voltar a funcionar pelo Governo do Estado - a Unir Saúde.
“O pessoal já está todo doido atrás de mim, para me dar contrato. Vai revogar aquela desqualificação da Unir. Estão querendo me dar um hospital... Saracuruna, 15 milhões de contrato”, dise Luiz Roberto em outro trecho.
Luiz Paulo (PSDB): é impossível que ele (Velhaco) não saiba para quem trabalha. — Foto: Reprodução/TV Alerj
O deputado Luiz Paulo apontou uma contradição durante o depoimento de Marcus Velhote.
"Além de não responder a maior parte das perguntas que fizemos, apresentou informações contraditórias. Respondendo a uma pergunta minha, ele disse que um dos motivos de descredenciamento da Unir foram atrasos de pagamento que desorganizaram a gestão das UPAs que a OS administrava. Segundo ele, esse atraso de pagamento se resolveu em março de 2019. Mas acontece que a Unir só foi desqualificada em outubro de 2019 - ou seja, sete meses depois".
O parlamentar reforçou a surpresa ao ouvir que Velhote não conhece os donos da OS.
"Como é possível ele não conhecer os donos da Unir se ele trabalha na empresa como diretor-executivo? Ele diz ser subordinado ao diretor financeiro da firma, mas isso não faz o menor sentido. É impossível que ele não conheça os proprietários da empresa para a qual ele mesmo trabalha".