O Enem foi mantido para novembro, mesmo diante da crise do coronavírus — Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Universidades públicas e colégios federais do Rio de Janeiro pediram o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Documento assinado por dirigentes de 11 instituições repudia “qualquer tentativa de difundir uma sensação de normalidade falseada".
No documento, as instituições defendem que se o cronograma do Enem for mantido, haverá uma ampliação das desigualdades de acesso ao ensino superior. (Confira a íntegra do documento no fim da reportagem)
A nota foi assinada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Instituto Federal Fluminense (IFF), Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), Colégio Pedro II, Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Íntegra do documento
O Enem deve ser adiado
Nós, dirigentes máximos das Instituições Públicas de Ensino no Estado do Rio de Janeiro, engajados em planejar regras seguras de pós-confinamento, protocolos de convivência e de saúde dentro de um cenário de notório descontrole pandêmico e colapso das redes hospitalares que mais nos aproximam de um lockdown nas principais regiões do país, assistimos com perplexidade e desaprovação à decisão de manutenção do calendário do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, conforme publicação do edital n° 25, de 30 de março de 2020, divulgada pelo site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Neste momento o Brasil contabiliza mais de 120 mil casos de contaminação e 8 mil mortos, com a ameaça de novos e futuros ciclos pandêmicos, em virtude dos quais o tempo de isolamento social não pode, hoje, ser seguramente definido.
É crível que esses indicadores se tornarão maiores nas próximas semanas e, com eles, a desigualdade social, já tão evidente em nosso cotidiano.
Os estudantes brasileiros em vulnerabilidade social lutam pela defesa de suas vidas, pelos cuidados com a saúde, pelo cuidado de seus familiares, seguindo as orientações de isolamento social reiteradas pelas autoridades sanitárias nacionais e internacionais. Milhões desses estudantes não têm acesso à tecnologia ou à internet, o que impede ações pedagógicas similares ao cotidiano escolar com aulas presenciais.
Vários países, como China, EUA, França e Inglaterra, adiaram seus exames nacionais para acesso ao ensino superior por acreditarem ser a decisão mais legítima e democrática a ser tomada neste momento pandêmico.
Diante desse contexto, repudiamos qualquer tentativa de difundir uma sensação de normalidade falseada, como a manutenção do cronograma do Enem 2020, o qual, caso mantido, ampliará as desigualdades de acesso ao ensino superior.
Repelimos também a retórica contida na propaganda oficial do governo e difundida por diferentes mídias que foram utilizadas para divulgar o cronograma do Enem.
Finalmente, reiteramos a importância fundamental das universidades públicas, dos institutos federais, dos centros federais de educação tecnológica e do Colégio Pedro II, que, no cumprimento de sua missão social, acadêmica e científica, a despeito das adversidades, se constituem como referência educacional e científica no país, na América Latina e no mundo. É nosso compromisso que nenhum estudante tenha o seu ingresso na universidade prejudicado pela crise da COVID-19.
Assim, solicitamos ao Ministério da Educação que corrija o equívoco cometido ao não adiar o calendário do Enem 2020 e postergue as datas de inscrição e realização das provas, como recomendado, inclusive, pelo Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed).