Caso Ágatha: policiais que participaram da ação no Complexo do Alemão vão depor
A menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, foi morta quando voltava para casa com a mãe, na noite de sexta-feira (20), no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio.
A criança estava dentro de uma Kombi, por volta das 21h30, quando foi baleada nas costas na comunidade da Fazendinha. De acordo com um tio de Ágatha, a Kombi em que a menina estava parou na rua para desembarcar passageiros com sacolas de compra na comunidade. A criança estava sentada dentro do veículo quando foi atingida.
Versão da família e moradores
- PMs atiraram contra uma moto que passava pelo local, e o tiro atingiu a criança.
- Testemunhas dizem que, no momento, não havia confronto. “Foi só um único tiro. A moto passou, os policiais desconfiaram da moto, atiraram em cima da moto e acertaram na Kombi onde estava a minha sobrinha”, afirmou Danilo Félix, tio da menina.
- O motorista da Kombi também afirmou que não havia tiroteio. "Foram dois disparos que ele [policial] deu. Falou que foi tiroteio de todos os lados, é mentira! Mentira!", disse o motorista no enterro da menina.
Versão da polícia
- A PM disse que houve confronto. Segundo o porta-voz da PM Mauro Fliess, os policiais disseram que "foram atacados de forma simultânea por marginais daquela localidade".
- "Não há nenhum indicativo nesse momento de uma participação efetiva do policial militar no triste episódio que vitimou a pequena Ágatha”, disse o porta-voz.
Kombi onde Ágatha Félix estava quando foi atingida no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/ TV Globo
Perito usa uma cânula para simular de onde veio o tiro que matou a menina Ágatha — Foto: Cristina Boeckel/G1
Investigação
- Parentes da menina, o motorista da Kombi em que ela estava e outras testemunhas já foram ouvidas.
- Policiais militares envolvidos na ação que matou a menina devem prestar depoimento nesta segunda-feira (23) na Delegacia de Homicídios da capital, na Barra da Tijuca.
- Investigadores irão recolher as armas dos PMs para um confronto balístico com o projétil encontrado no corpo da menina, para saber se o tiro saiu da arma de um dos policiais.
- No decorrer dessa semana, a Polícia Civil também irá definir uma data para reprodução simulada.
- A Kombi onde a menina estava quando foi atingida já passou por perícia.
Morte e despedida
Ágatha chegou a ser levada para a UPA do Alemão e depois transferida para Hospital Getúlio Vargas, onde foi submetida a uma cirurgia de cinco horas, mas não resistiu aos ferimentos. Ela é a quinta criança morta em função da violência no estado este ano.
No hospital, o avô da menina entrou em desespero após receber a informação da morte da criança.
"Atirou na Kombi e matou a minha neta. Foi isso. Isso é confronto? A minha neta estava armada, por acaso, para poder levar um tiro?", desabafou.
Protestos no enterro da menina Ágatha Felix, de 8 anos
A família aguardou ao longo de todo o sábado a liberação do corpo da menina do Instituto Médico-Legal. Segundo a Polícia Civil, não havia no plantão nenhum funcionário que soubesse mexer no scanner corporal - um equipamento semelhante ao utilizado em aeroportos, que permite ver através da pele e dos órgãos.
"O uso do scanner foi fundamental para verificar a imagem do fragmento do projetil, que foi retirado para balística", informou o IML ao final da noite, quando o exame foi realizado e o corpo, liberado.
A criança foi sepultada no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte, neste domingo (22), sob forte comoção e protestos. Durante o cortejo, amigos e familiares gritaram por Justiça e aplaudiram no momento em que Ágatha foi enterrada.