Por Eduardo Tchao, RJ1


No Rio, moradores do Alemão protestam contra morte de menina

No Rio, moradores do Alemão protestam contra morte de menina

Parentes da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, baleada quando estava dentro de uma Kombi ao lado da mãe, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, entraram em desespero quando receberam a notícia da morte da criança e criticaram a ação da Polícia Militar.

“Foi a filha de um trabalhador, tá? Ela fala inglês, tem aula de balé, era estudiosa. Ela não vivia na rua não. Agora vem um policial aí e atira em qualquer um que está na rua. Acertou minha neta. Perdi minha neta. Não era para perder ela, nem ninguém”, disse Aílton Félix, avô da criança.

Segundo moradores da região, PMs atiraram contra uma moto que passava pelo local e o tiro atingiu a criança.

A família passou a noite na porta do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, para onde Ágatha foi levada.

“Mais um na estatística. Vai chegar amanhã e dizer que morreu uma criança no confronto. Que confronto? Confronto com quem? Porque não tinha ninguém, não tinha ninguém. Ele atirou por atirar na Kombi. Atirou na Kombi e matou minha neta. Isso é confronto? A minha neta estava armada por acaso para poder levar um tiro?”, disse o avô.

Avó da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, baleada e morta no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio é amparada por familiares ao sair do IML do Rio — Foto: Fernanda Rouvenat/G1

Ágatha é a quinta criança morta em tiroteios este ano no estado do RJ:

Durante a manhã, moradores da comunidade fizeram um protesto contra a morte da criança e bloquearam um dos principais acessos do Alemão. "Isso não pode acontecer na nossa comunidade. Aí dentro moram pessoas do bem. Por favor, nos ajude na nossa pacificação", disse uma moradora.

"Quando tem tiroteio a gente dá um jeito de passar por outro lugar. Mas não tinha tiroteio. Nossos filhos não estão protegidos", criticou outra manifestante.

Em nota, a PM lamentou profundamente a morte de Ágatha. Segundo a polícia, por volta das 22h, equipes da UPP Fazendinha foram atacadas em várias localidades da comunidade de forma simultânea. Os policiais revidaram e houve confronto. Ainda de acordo com a PM, após a troca de tiros, os policiais receberam a informação de que um morador havia sido baleado.

A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) disse que vai abrir um procedimento apuratório para verificar todas as circunstâncias da ação.

Menina de 8 anos estava em uma kombi na Fazendinha, no Complexo do Alemão, quando foi baleada — Foto: Reprodução

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro divulgou nota afirmando que "a opção pelo confronto vem se mostrando ineficaz: a despeito do número recorde de 1.249 mortos em ações envolvendo agentes do estado apenas este ano, a sensação de insegurança permanece".

Para Comissão Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), o que ocorre hoje no Rio de Janeiro é um "extermínio".

"Todo dia a gente recebe familiar. A gente não aguenta mais ver mãe e pai chorando. A gente está vendo adulto morrer, trabalhador, criança, jogador de futebol, estudante, a gente está vendo um extermínio no Rio de Janeiro", afirmou Rodrigo Mondego, membro da Comissão.

A comissão informou ainda que está dando assistência à família de Ágatha.

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