Roger Waters, baixista e um dos fundadores do Pink Floyd, se apresenta na turnê solo 'Us + Them' no Allianz Parque, na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo. É o primeiro show da turnê no Brasil — Foto: Fábio Tito/G1
Depois de passar por São Paulo, Brasília, Salvador e Belo Horizonte, a turnê "Us + Them", do cantor, compositor e músico Roger Waters enfim chegam ao Rio de Janeiro. O artista britânico se apresenta nesta quarta-feira (24), a partir das 21h, no Maracanã.
Membro fundador do Pink Floyd e responsável direto por alguns dos maiores sucessos da banda inglesa – boa parte das canções que compõem os álbuns "The dark side of the moon", de 1973, e "The wall", de 1979, são criações do músico – Waters retorna ao território carioca pouco mais de seis anos depois de ter apresentado o show "The wall" no Engenhão.
Caso mantenha o setlist que vem apresentando no Brasil, o espetáculo será formado por 22 canções – 18 do Pink Floyd e quatro da carreira solo de Waters.
Enquanto o repertório Floydiano é garantido sobretudo por obras dos dois álbuns citados acima – com passagens por discos como "Meddle" ("One of these days"), "Wish you were here" (além da faixa-título, "Welcome to the machine") e "Animals" ("Dogs" e "Pigs (Three different ones)").
Já os trabalhos exclusivos de Waters deverão ser todos do seu álbum mais recente – "Is this the life we really want?", lançado em 2017: "Déja vu", "The last refugee", "Picture that" e "Smell the roses".
Os portões do Maracanã abrirão às 17h e o início do show está marcado para 21h – a apresentação deverá ter pouco mais de duas horas.
Expressão #EleNao é exibida durante show de Roger Waters em São Paulo — Foto: Janaína Lepri/TV Globo
A turnê chega ao Rio trazendo o rastro de polêmica que marcou os shows realizados nas outras cidades - durante as apresentações, Waters tem feito críticas ao candidato à Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro. Em todas as ocasiões, parte da plateia aplaudiu e parte vaiou a postura do artista.
Durante o show, Waters também tem projetado no telão principal a mensagem "#EleNão", em referência ao candidato.
Pink Floyd
O Pink Floyd durante a última apresentação do grupo, no Live 8, em Londres, 2005. — Foto: AFP
O Pink Floyd é uma das maiores bandas da história do Rock e Roger Waters é figura central na trajetória do grupo.
Fundado em meados da década de 1960 em Cambridge, Inglaterra, em um primeiro momento o quarteto – formado, além de Waters (baixo), por Syd Barrett (guitarra e vocal), Rick Wright (teclados) e Nick Mason (bateria) – mergulhou na psicodelia e lisergia características daquele período, algo que fica bem claro na audição do primeiro álbum da banda, "The piper at the gates of dawn", de 1967.
A formação original do Pink Floyd, da esquerda para a direita: Roger Waters, Nick Mason, Rick Wright e Syd Barrett (à frente). — Foto: Divulgação/Site Oficial
Após a entrada de David Gilmour em substituição a Barrett – até então o maior responsável pelas composições e cuja saúde mental foi destruída pelo uso excessivo de drogas, sobretudo LSD –, Waters assumiu a posição de principal compositor.
O Floyd atravessaria o restante da década de 1960 e início da década de 1970 lançando álbuns apreciados pelo cuidado e criatividade nas composições e gravações. Todos tiveram sucesso moderado – "A saucerful of secrets", "Obscured by clouds", "Ummagumma", "Atom heart mother" e "Meddle".
Àquela altura, o som do grupo já havia mudado: a psicodelia cedera espaço às canções temáticas e de longa duração – o que transformou o grupo em um representante autêntico do que, mais tarde, seria conhecido como Rock Progressivo.
David Gilmour substituiu Syd Barrett e se transformou em uma das forças criativas do Pink Floyd. — Foto: Giuliano Gomes/PR Press
No entanto, a consagração definitiva viria em 1973, com o lançamento de "The dark side of the moon".
Fruto das experimentações sonoras dos trabalhos anteriores, porém apresentadas de forma mais amigável para o grande público, no formato de canções mais curtas e melódicas, o álbum se transformou em sucesso mundial.
"The dark side of the moon" vendeu 45 milhões de cópias, sendo o quarto álbum mais vendido da história da música. A gravação permaneceu na Billboard – a parada musical americana – durante quase 15 anos. No Reino Unido, a obra ficou nas paradas durante 364 semanas.
Do dia para a noite, os quatro integrantes do Floyd se transformaram em milionários e celebridades no mundo do Rock – e as pressões ocasionadas pela fama e pelo sucesso começaram a aprofundar ainda mais as rachaduras internas do grupo, sobretudo as que existiam entre Roger Waters e David Gilmour.
Nos anos seguintes, o grupo lançaria "Wish you were here" (1975) – uma escancarada declaração de tristeza pelo afastamento e decadência mental de Syd Barrett –, e "Animals" (1977) – onde os integrantes do grupo deixariam claras suas desilusões com a indústria musical.
Nick Mason, baterista do Pink Floyd, durante anúncio de exposição sobre a banda em Londres — Foto: REUTERS/Peter Nicholls
Além dos problemas de relacionamento interno, o grupo enfrentava dificuldades financeiras – tanto por investimentos mal feitos quanto pelo fato de a turnê de "Animals" ter sido deficitária.
Quando se reuniram para gravar um novo trabalho, todos dependiam das ideias de Waters, que naquele momento apresentou à banda o material que, em 1979, chegaria ao mercado como "The wall", outro dos maiores êxitos comerciais da história da banda, com 23 milhões de cópias vendidas.
O álbum se transformou em um sucesso em todo o mundo, sobretudo a faixa "Another brick in the wall", de longe a canção mais popular da banda. Três anos mais tarde, a trama presente na obra seria adaptada para o cinema em "Pink Floyd – The wall", longa dirigido por Alan Parker.
No entanto, todo o desgastante processo de gravação do álbum colocaria um fim às possibilidades de convivência entre seus integrantes. Pouco contribuindo com as composições, Rick Wright foi convidado a se retirar da banda, sobretudo por insistência de Waters – magoado, o tecladista participaria da turnê de "The wall" apenas como músico contratado.
Já desmantelado em termos práticos, o grupo ainda lançaria o álbum "The final cut", em 1983. Carregada de letras inspiradas pela Segunda Guerra Mundial – o pai do músico, Eric Waters, era integrante dos fuzileiros reais ingleses e morreu durante o conflito, na batalha de Anzio, na Itália –, a obra é considerada, de fato, um trabalho solo de Waters.
Ele anunciaria a saída do Floyd no ano seguinte, acreditando que a banda encerraria as atividades. No entanto, David Gilmour e Nick Mason decidiram manter o grupo.
Por meio de ações na justiça inglesa, Waters tentou impedir que os dois usassem o nome "Pink Floyd" - mas ele acabou derrotado.
Em 1986, Gilmour e Mason arregimentaram um grupo de músicos e trouxeram Rick Wright de volta a bordo. O resultado dessa reunião foi o álbum "A momentary lapse of reason", de 1987 – primeiro registro do Pink Floyd sem a participação de Waters.
A obra foi um sucesso comercial e antecedeu uma turnê lucrativa, cujo registro pode ser conferido em "Delicate sound of thunder", álbum ao vivo lançado em 1988.
Sem Waters, o Floyd lançou mais um álbum de inéditas, "The division bell", de 1994, seguido pelo registro ao vivo "Pulse", que chegou ao mercado no ano seguinte.
Roger Waters deixou a banda pouco depois do lançamento de "The final cut", álbum de 1983. — Foto: Alan Oliveira/G1
Em 2005, Waters, Gilmour, Mason e Wright tocaram no evento global "Live 8", no Hyde Park, em Londres. Era a primeira vez em 24 anos que a formação clássica se reunia sobre um palco. Houve especulações sobre a realização de uma possível turnê de despedida - para isso, uma oferta de mais de 100 milhões de Libras chegou a ser feita por um grupo de produtores.
No entanto, os desentendimentos e atritos ocorridos durante os ensaios para o "Live 8" desanimaram os integrantes – Gilmour, mais que todos os outros – a excursionar juntos.
Em julho de 2006, Syd Barrett morreria por conta de um câncer no pâncreas. Pouco mais de dois anos depois, em setembro de 2008, Rick Wright morreria, também vítima de câncer.
Em 2014, a banda apresentou "The endless river", álbum composto sobretudo de sobras das gravações de "The division bell". Gilmour afirmou à época que a obra marcava o fim definitivo dos trabalhos ainda inéditos do Pink Floyd.
Desde sua saída da banda, Roger Waters lançou cinco álbuns solo: "The pros and cons of hitch hiking" (1984), "Radio K.A.O.S." (1987), "Amused to death" (1992), "Ça ira" (2005) e, o mais recente, "Is this the life we really want?" (2017).