25/03/2015 06h34 - Atualizado em 25/03/2015 06h44

G1 revela 'tesouros' escondidos do Rio nos 450 anos da cidade

Alguns locais passam despercebidos e ainda surpreendem cariocas e turistas.
Cápsulas do tempo em museus e farmácia centenária estão entre atrações.

Káthia MelloDo G1 Rio

Numa cidade encravada entre o mar e a montanha, é fácil identificar – e transformar em símbolo – paisagens que acabam virando a marca daquele lugar. Antes da fundação por Estácio de Sá, morros como o Pão de Açúcar e o Corcovado eram admirados por moradores e visitantes e identificavam o Rio de longe. Mas o Rio ainda é capaz de surpreender os que passam despercebidos para cariocas e turistas. Em homenagem aos 450 anos, o G1 conversou com especialistas e historiadores para encontrar "tesouros" escondidos em meio a belezas conhecidas no mundo inteiro. Entre as surpresas estão relíquias históricas e religiosas.

Cápsula do tempo enterrada nos jardins do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em São Cristovão (Foto: Káthia Mello/G1)'Cápsula do tempo' enterrada nos jardins do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista (Foto: Káthia Mello/G1)

Para o historiador Milton Teixeira, não é só a falta de tempo que faz com que detalhes da própria história da cidade sejam ignorados. A pressa impede as pessoas de levantar a cabeça. "O carioca olha para os lados e para baixo", diz Teixeira.

No Centro, na histórica Praça Tiradentes, em volta da estátua mais antiga do Rio de Janeiro, o monumento a Dom Pedro I, ainda é possível ver os lampiões a gás, herança do sistema que existiu entre 1854 e 1937 nas ruas da cidade. Os lampiões eram acendidos um a um por funcionários da Companhia de Gás.

Cruz na Igreja da Candelária (Foto: Alexandre Macieira/Riotur)Cruz comemorativa do ano santo de
1900 na Igreja da Candelária
(Foto: Alexandre Macieira/Riotur)

Só na metade do século 19 eles começaram a ser substituídos pelas primeiras lâmpadas elétricas. Outro detalhe: a obra da estátua foi executada pelo francês Louis Rochet, que tinha como aprendiz, na época, Auguste Rodin, que mais tarde se consagrou como um dos mais importantes escultores em bronze de todos os tempos.

Mesmo numa cidade que mudou muito ao longo de seus 450 anos de existência, ainda é possível encontrar tesouros e curiosidades mantidos em bom estado de conservação. Teixeira lista algumas delas, como a cruz comemorativa do Ano Santo de 1900, do Papa Leão 13.

Uma inscrição em latim concede 100 dias de indulgência a quem rezar um Pai Nosso e beijar a cruz, que pode ser encontrada em pelo menos duas igrejas: na Nossa Senhora do Carmo, a antiga Sé, na Rua Primeiro de Março, e na Candelária. Sem mencionar que na igreja do Carmo também estão guardados os restos mortais de Pedro Álvares Cabral.

Cena da morte de São José instalada atrás do altar principal da igreja no Centro do Rio  (Foto: Káthia Mello/G1)Cena da morte de São José instalada atrás do
altar principal da igreja no Centro do Rio
(Foto: Káthia Mello/G1)

Outra atração escondida pode ser vista em uma das igrejas coloniais mais antigas do Rio, a de São José, na Avenida Presidente Antonio Carlos. Por trás do altar-mor, em uma passagem estreita, onde só é possível passar uma pessoa por vez, está a cena da morte de São José, com o santo cercado por Jesus e Maria, todos em tamanho natural.

Na corre-corre do Centro da cidade, até mesmo a imponência de um dos ícones modernistas pode passar despercebida. Pouca gente desvia o olhar para o Palácio Capanema, criação de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, com jardins concebidos por  Burle Marx, sob a consultoria do franco-suíço Le Corbusier.

No final de uma tarde de janeiro, o G1 esteve no local e foi a única visita do dia registrada no livro de presenças. Criado para sediar o então Ministério da Educação e Saúde, o Palácio Capanema tem azulejos, murais e tapeçarias de Cândido Portinari, e esculturas de Bruno Giorgi.

Fármacia de homeopatia centenária na Tijuca, Zona Norte, reúne peças históricas (Foto: Káthia Mello/G1)Farmácia de homeopatia centenária na Tijuca, Zona Norte, reúne peças históricas (Foto: Káthia Mello/G1)

Já numa rua tranquila da  Tijuca, na Zona Norte, um dos bairros mais antigos do Rio, uma indústria de medicamentos e uma farmácia de manipulação centenária, continuam produzindo e atendendo clientes sem sequer usar computador. Um dos carros-chefes da Farmácia Homeopática Simões é um xarope que tem na composição sete ervas e que é produzido há 90 anos.

No ambiente da farmácia, fundada em 1916, ainda é possível encontrar  jarros de porcelana, centenas de frascos antigos com nomes de medicamentos escritos em latim, móveis e instrumentos da época. Elaine Cristina Alves trabalha na farmácia há 15 anos e diz que gosta do clima. "As pessoas[clientes] são antigas e é mais tranquilo. Tem gente que me conta que frequentava aqui desde criança". Segundo ela, a única modernidade permitida é o pagamento com cartão de crédito. Na falta do computador, as anotações são feitas em cadernos.

Camila Medina, 24 anos, é supervisora de garantia e qualidade da indústria. Ela contou ao G1, que a indústria teve que se adaptar aos novos tempos para seguir produzindo. "Temos novos equipamentos e atendemos a todas as exigências da lei. Estamos agora nos planejando para expansão, que deverá ocorrer durante as comemorações dos 100 anos", disse.

Biblioteca Oswaldo Cruz, em Manguinhos abriga livros raros (Foto: Peter Ilicciev/Fundação Oswaldo Cruz)Biblioteca Oswaldo Cruz, em Manguinhos
abriga livros raros
(Foto: Peter Ilicciev/Fundação Oswaldo Cruz)

Relíquias da área médica e pesquisas científicas também podem ser visitadas na Biblioteca de Manguinhos, no interior do castelo mourisco, localizado na Avenida Brasil, Zona Norte do Rio.

Em 1909, Oswaldo Cruz contratou um livreiro holandês para organizar o espaço onde está hoje aquela que é considerada uma das maiores bibliotecas especializadas na América Latina.

A viagem no tempo do visitante começa ao entrar no elevador do prédio principal da fundação Oswaldo Cruz. Instalado no final de 1909, ele é um dos mais antigos em funcionamento no Rio de Janeiro. Projetado para ter quatro paradas, o elevador, com duas cabines, veio da Alemanha. Ele é de ferro com a cabine de passageiros construída em mogno com cúpula de espelhos de cristal.

As estantes da biblioteca, de 1930, guardam preciosidades dos séculos 17 e 18. Estão lá o primeiro tratado sobre História Natural do Brasil, um manuscrito jesuíta com descrição de várias ervas, e receitas utilizadas para tratar doenças do Brasil Colônia.

Cápsula do tempo nos jardins do Museu da República, no Catete, Zona Sul do Rio (Foto: Káthia Mello/G1)Cápsula do tempo nos jardins do Museu da República, no Catete, Zona Sul do Rio (Foto: Káthia Mello/G1)

Em dois dos principais museus da cidade - Museu da República e Museu Nacional da Quinta da Boa Vista - estão guardados tesouros que devem ser revelados no futuro, um em 2022 e o outro em 2052. São cápsulas do tempo,  que foram enterradas em diferentes épocas, nos jardins dos espaços públicos.

Uma placa discreta de cobre na entrada do Museu Nacional, antiga residência da família imperial, não chama a atenção do visitante. Nela, uma inscrição pede que o local seja protegido já que guarda documento que revela  a cultura de uma geração e um marco na história do país. O segredo foi enterrado pelo governo militar em 1972, quando o Brasil celebrava os 150 anos da independência.

Longe dali, no Museu da República, no Catete, Zona Sul, um presente para os visitantes do futuro. No último dia da conferência Rio+20, 22 de junho de 2012, foi enterrada uma cápsula do tempo que deverá ser aberta numa eventual Rio+40, programada para daqui 20 anos.

Painéis de Paulo Werneck em prédios de Copacabana  (Foto: Káthia Mello/G1)Painéis de Paulo Werneck em prédios de Copacabana (Foto: Káthia Mello/G1)

A cápsula, com o programa ambiental do museu, objetos reciclados, uma moeda e um exemplar do jornal "O Globo" daquele dia foi  enterrada pelos funcionários do museu nos jardins da instituição, considerado um pulmão verde do bairro. O local recebe cerca de 7 mil visitantes por semana.

Em um passeio mais atento por algumas ruas de Copacabana, na Zona Sul,  é possível admirar obras de arte instaladas nas entradas dos prédios. São os painéis de Paulo Werneck, artista que introduziu a técnica do mosaico no Brasil.

Ele também é considerado um dos colaboradores do modernismo. Werneck também participou da verticalização de um dos bairros mais famosos da cidade, entre as décadas de 50 e 60.

Uma das obras mais conhecidas de Werneck está na portaria de um prédio do Bairro Peixoto. Ele foi convidado pelo construtor do prédio, Eduardo Pessoa Farah, para fazer o painel que reproduz o clima de uma praia nordestina com coqueiros e muitas cores. Segundo um dos porteiros do prédio, turistas pedem para entrar e tirar foto no painel.

Outras obras de Werneck estão em edifícios nas ruas Anita Garibaldi e na rua General Ribeiro da Costa, no Leme. Ele também fez mosaicos  para prédios públicos como o Ministério da Fazenda, no Centro da cidade.

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