Da demolição de cortiços à abertura da Avenida Rio Branco. Fotógrafo oficial do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, o alagoano Augusto Malta documentou, a pedido do prefeito Pereira Passos, as transformações da capital no início do século 20. Quase 100 anos depois, o fotógrafo e designer Marcello Cavalcanti, de 34 anos, decidiu juntar o antigo e o novo mesclando a obra de Augusto com fotografias atuais da cidade, prestes a completar 450 anos.
Augusto Malta e Marcello Cavalcanti / Divulgação)
Marcello conta que a ideia nasceu a partir de sua paixão pela imagem fotográfica da cidade onde nasceu e cresceu. Conhecedor do trabalho de Augusto Malta em feiras de antiguidades, diz que o projeto não tem fins lucrativos e que foi uma "feliz coincidência" ser divulgado próximo à data de aniversário. Para expor as montagens, ele abriu há 3 semanas uma conta no Instagram (@augustomaltarevival), onde contrasta as paisagens de antes e de agora.
"É uma benção para os cariocas ter acesso a este trabalho do Augusto. Ele foi muito objetivo no seu propósito: retratar as mudanças que a capital passava na época, com um olhar bastante pragmático, documental. Ver estas imagens e viver na mesma cidade onde isso ocorreu é incrível, passar pelas mesmas ruas, ver que ainda existem prédios da época... Para mim, Augusto Malta e o Marc Ferrez [fotógrafo franco-brasileiro que registrou a transição do século 19 para o 20] são os que melhor traduzem essa imagem do Rio antigo.”
Dificuldades
O designer, que para começar as montagens buscou fotos de Augusto na internet, conta que muitas imagens são de propriedade do Museu da Imagem e do Som (MIS), da Prefeitura do Rio e da Light, entre outros. Para expor essas fotografias, ele tenta apoio dessas instituições. Por enquanto, o material funciona apenas nas redes sociais.
Para construir as montagens, quanto mais referências antigas ainda existirem no local, mais fácil é o trabalho.
“Escolhida a foto que quero reproduzir, faço uma pesquisa sobre ela em blogs e sites sobre o assunto para tentar ter o máximo de certeza sobre a sua localização exata e detalhes sobre os prédios retratados. Vou até a localidade, com a foto impressa ou no celular, e tento reproduzir com a minha câmera, o mesmo ângulo, ou o mais próximo possível, analisando a foto original, tentando entender como foi feita, distância focal etc. Faço algumas fotos variando ângulo e distância. Depois, no computador, é feito um minucioso trabalho de tratamento”, explica.
Cidade menos arborizada
A ausência de verde no Rio antigo chamou a atenção do designer. Segundo ele, nas fotos é possível ver uma cidade muito menos densa e edificações mais baixas.
“As fotos antigas têm poucas árvores. Por outro lado, fotos em ruas que pareciam supertranquilas, como a Rua Riachuelo, na Lapa, com poucas pessoas na calçada e o trilho do bonde no chão, foram difíceis de reproduzir porque o movimento de carros e ônibus hoje é caótico. As fotos no Centro ainda conservam muitos prédios da época, então fica mais fácil acertar o local”, revela ele, acrescentando sua opinião sobre o produto final: “É como se a foto final fosse uma reprodução da passagem do tempo, que não vemos, apenas vivemos”.