Foram liberados, por volta das 22h30 desta segunda-feira (22), os dois jovens detidos pela Polícia Militar enquanto participavam da transmissão dos protestos nas imediações do Palácio Guanabara, sede do governo do Estado do Rio de Janeiro. A Secretaria de Segurança informou que, além da dupla já liberada, outras oito pessoas detidas eram ouvidas 9ª Delegacia de Polícia (Catete). Por volta das 0h30, a Polícia Civil divulgou um balanço que informava o total de 8 pessoas detidas.
Segundo a nota, duas pessoas foram presas, por porte de artefato explosivo e desacato, e formação de quadrilha; outros cinco foram autuados e liberados; e um menor foi apreendido.
A Polícia Militar divulgou um vídeo que afirma mostrar o momento em que policiais são atingidos por coquetel molotov lançado por manifestantes.
coquetel molotov. (Foto: Victor R. Caivano/AP)
Entre os levados para a delegacia estava a dupla que participava da transmissão dos atos: a PM alegou que eles cometeram incitação à violência. Ao ser liberado, o integrante da Mídia Ninja Felipe Peçanha, conhecido como Carioca, criticou a detenção sem justificativa.
Uanderson Fernandes / Agência O Dia / Estadão
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"Aqui dentro tem mais dez pessoas também e eu acho que a gente só tem que sair quando todas elas saírem também", disse Peçanha. Ele afirmou que existe uma "ditadura velada" no Brasil, porque, segundo ele, a equipe de jornalistas foi impedida de transmitir o protesto ao vivo.
um médico voluntário antes de ser levado para o
Souza Aguiar (Foto: Diego Assis / Agência O Dia /
Estadão Conteúdo)
Ainda no tumulto na região do Palácio, um fotógrafo da France Press ficou ferido, de acordo a GloboNews. Um manifestante ferido, identificado como Rafael Caruso, foi atingido por uma bala de borracha, segundo a Secretaria de Segurança, e levado para hospital na região. Após prestar queixa na 9ª DP, Caruso foi para o Instituto Médico Legal para examinar se o tiro foi de borracha ou de fuzil, como foi dito por alguns manifestantes em um vídeo postado no YouTube que circulou pela web.
Confusão
O tumulto ocorreu por volta das 19h30 desta segunda, após a saída do Papa Francisco da recepção no Palácio. De acordo com a PM, o tumulto começou após a ação de grupos com estratégia batizada de "black bloc". O G1 acompanhava o ato quando manifestantes jogaram bombas de fabricação caseira em direção aos policiais, que revidaram com balas de borracha, bombas de gás e jatos de água.
De acordo com a Polícia Militar, por volta das 20h, policiais militares agiram na Rua das Laranjeiras para evitar saques. Segundo a PM, vândalos tentavam invadir uma loja de departamentos no bairro.
Desde cedo, PMs fizeram barreiras para impedir a aproximação de manifestantes até o Palácio Guanabara, onde ocorreu o encontro entre o Papa Francisco, a presidente Dilma Rousseff, e demais autoridades.
No fim da tarde, manifestantes chegaram a queimar um boneco representando o governador Sergio Cabral, na Rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio. Cerca de 20 jovens encapuzados participavam do protesto.
Ato pacífico
Mais cedo, os protestos foram pacíficos na Zona Sul do Rio. Ao menos três grupos se reuniram no Largo do Machado para protestar contra a visita do Papa. Atrizes independentes e do grupo "Tá na Rua" fizeram intervenções contra investimentos públicos na visita do Papa e também criticaram o que classificam como opressão da Igreja Católica sobre temas como prazer e sexualidade.
No mesmo ponto, também estiveram concentrados manifestantes do PSTU e PCdoB, além de um grupo de estudantes da UFRJ. As ativistas do movimento em defesa do direito dos homossexuais chegaram a ficar, em alguns momentos, com os seios de fora. Com instrumentos de percussão, elas encenaram um ato crítico à catequização dos índios e pediram um estado laico (veja vídeo ao lado).
Elas confessaram pecados em público, ironizando posicionamentos da Igreja para temos como uso de pílula, camisinha e sexo homossexual. Mais tarde, grupos LGBTs também ficaram seminus em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória e promoveram beijaços.
"A gente questiona por que um estado que se diz laico gasta 161 milhões para vinda de um líder religioso e recusa dogmas da Igreja Católica, como o de dizer que o corpo é pecado", afirma Maiara Maia.
O manifestante João Pedro Accioly, de 19 anos, um dos organizadores do "Beijaço LGBT" e criador do evento no Facebook, conta que o objetivo é questionar a influência da Igreja Católica no estado.
Para ele, questões como a legalização do aborto e direitos dos homossexuais são pouco discutidas por pressão de setores conservadores e religiosos. "Enquanto beijar for uma ofensa, os protestos serão necessários", disse João Pedro.
No começo da noite, a multidão de manifestantes que estava reunida no Largo do Machado caminhou pacificamente pela Rua das Laranjeiras em direção à Pinheiro Machado, onde fica o Palácio Guanabara.