Por Profissão Repórter


O drama da empregada doméstica que foi explorada pelas patroas por 40 anos: 'Nunca recebi salário’

O drama da empregada doméstica que foi explorada pelas patroas por 40 anos: 'Nunca recebi salário’

O Profissão Repórter desta terça-feira (16) mostrou que mais de 3 mil trabalhadores em situação análoga à escravidão foram resgatados em um ano no Brasil. É o maior número em 14 anos.

A empregada doméstica Maria Raimunda, de 61 anos, é uma dessas pessoas. Ela ainda vive na casa onde trabalhava em Belo Horizonte, Minas Gerais. Há um ano, fiscais receberam uma denúncia e perceberam que Maria estava em condições análogas à escravidão por 40 anos. Uma foto é um raro registro da empregada doméstica andando na rua ao lado da patroa.

“Quando eu cheguei na casa dela, eu dormi em cima de uma tábua e depois. Nem banheiro eu tinha”, conta Maria.

Maria nunca teve forças para denunciar as antigas patroas, que nunca chegaram a pagar um salário.

"Nunca pagou o salário, não. Eu falava para ela pagar o salário e ela falava: ‘Ah, Maria, ano que vem eu pago salário para você’. Fui ficando, ficando o resto da vida até ela falecer”.

Segundo os advogados de defesa, Maria Raimunda chegou a engravidar e teve um filho em 1982.

“Ninguém aqui viu quando estava grávida, porque eu ficava só dentro de casa fazendo serviço com um barrigão. O menino era bonitinho mesmo”, lembra.

Uma enfermeira que morava no bairro e participou do parto dias depois teria sumido com o recém-nascido.

Vizinha, Thais Rosa quase não via a Maria, mas ouvia claramente os sinais de maus tratos.

“Ela não podia ligar uma televisão, ela não podia abrir a casa. A senhorinha chamava ela 24 horas. Às vezes, eu a via brigando com a senhorinha para ir lá comprar as coisas para comer”, conta Thais Rosa.

Além da vizinha Shirley Magda, as auditoras do Ministério do trabalho e advogadas da Universidade Federal de Minas Gerais têm dado o apoio para a Maria Raimundo.

"A minha família, eu falo que é a minha vizinha e essas pessoas que eu arrumei agora, que estão aí me acompanhando”, diz Maria.

Depois de 40 anos de exploração, Maria anda pela casa como dona.

“As exploradoras não tinham herdeiros direitos, os herdeiros eram sobrinhos. E a gente conseguiu que que essa casa fosse direito pra Maria, fosse transferida direto para a Maria”, afirma a advogada Fernanda de Mendonça Melo.

Como houve um acordo com os herdeiros da antiga casa, processo judicial não continuou e até hoje não existe nenhuma pista de onde pode estar o filho de Maria.

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