Paralisação dos caminhoneiros afeta a agropecuária
Desde segunda-feira (21), caminhoneiros fazem uma mobilização nacional nas estradas estaduais e federais contra os aumentos no preço do diesel. A paralisação já tem reflexos em alguns setores da economia do Paraná.
A Frimesa, cooperativa de produtos alimentícios estabelecida em Medianeira, na região oeste, suspendeu o abate de suínos por tempo indeterminado. Por meio de nota, a empresa informou que a decisão é reflexo da paralisação dos caminhoneiros.
Frimesa suspendeu o abate de suínos em Medianeira, com isso setor está paralisado — Foto: Frimesa/Divulgação
Com a suspensão das atividades, a empresa vai deixar de abater 8 mil suínos por dia. A carne é usada na produção de vários alimentos industrializados. A Frimesa detalhou que 85% dos alimentos produzidos são vendidos no Brasil e 15% são voltados para a exportação.
Mapa do reflexo da paralisação dos caminhoneiros por região no Paraná — Foto: G1 PR
Leite jogado fora
Na Colônia Witmarsum, entre Palmeira e Ponta Grossa, o produtor Mayke Boldt contou ter descartado 3 mil litros de leite na terça-feira (22). Há previsão de que a mesma quantidade também seja jogada fora nesta quarta-feira. "Não tem transporte", diz. Assista ao vídeo abaixo.
Produtor diz ter descartado 3 mil litros de leite no Paraná
Na tarde de terça-feira, um produtor do município de Teixeira Soares, na região central do Paraná, também disse ter descartado 270 litros de leite porque os caminhões que escoam a produção estão parados em protestos nas rodovias.
Falta de ração para frangos
Em São João do Caiuá, no noroeste do estado, o estoque de ração para aves está acabando na propriedade de Carlos Eduardo Maia. Ele tem quatro aviários, mas apenas dois estão funcionando. São 140 mil aves que podem ficar sem alimento, se a situação não for normalizada em breve.
"Tenho um pouco para hoje, mas amanhã já vou ter que usar a ração que sobrou de um outro lote. Consigo tocar até amanhã, mas sexta-feira não terei mais nada", explicou o produtor.
Nos outros dois aviários que estão sem aves, o produtor estima que está tendo um prejuízo de R$ 2 mil por dia, pois não está produzindo.
"Esses dois aviários podem receber 90 mil aves, mas como os caminhões não estão conseguindo chegar com essas aves, os locais estão vazios. É um problema que afeta a indústria, que fica sem ração, o produtor que não consegue receber as aves e também levá-las para o abate", detalhou Maia.
Bloqueios prejudicam abastecimento de ração em granjas da região noroeste
A falta de ração também pode impactar nas granjas que produzem ovos de galinha. De acordo com a Associação Paranaense de Avicultura (Apavi), os produtores de Pato Branco, no sudoeste, Cruzeiro do Sul, no noroeste, e de Arapongas e Mandaguari, no norte, não consegue escoar a produção
"Sabemos de ao menos seis caminhões com carregamento de ovos que estão parados nos protestos no estado. Se essas cargas não chegarem ao destinos finais a produção vai estragar", explicou o presidente da Apavi, Arnaldo Cortes.
Conforme a Apavi, o Paraná tem 11 milhões de aves que colocam ovos, se as rações não forem entregues nas propriedades, 80% desse total pode ter problema a partir de quinta-feira (24).
Ceasa de Foz do Iguaçu já tem falta de produtos por causa da paralisação de caminhoneiros
Na região oeste, onze cooperativas também estão parando as atividades. Mais de 20 mil funcionários foram dispensados do trabalho nesta quarta e mais de 2 milhões de frangos deixarão de ser abatidos.
Em nota, a cooperativa C.Vale informou que o abate de frangos e também o de peixes será suspenso em Palotina a partir desta quarta e só deverá ser retomado com o fim dos bloqueios nas estradas.
Segundo a cooperativa, a medida foi tomada por conta das dificuldades para armazenagem e transporte de carnes. A unidade processa por dia 530 mil frangos e 50 mil tilápias.
A Alegra Foods anunciou a paralisação das atividades da indústria localizada em Castro, nos Campos Gerais. Com isso, 1.500 trabalhadores foram dispensados em virtude da impossibilidade da entrega do produto.
A empresa abate 3,2 mil suínos diariamente e industrializa 2,5 mil toneladas de carnes por mês. As atividades serão retomadas assim que as estradas forem liberadas.
Entrega e venda de alimentos
Movimento na Ceasa Londrina diminuiu entre 70% e 80% após a paralisação de caminhoneiros — Foto: Reprodução/RPC
O movimento na Central de Abastecimento (Ceasa) de Londrina , no norte do Paraná, despencou após o terceiro dia de protestos dos caminhoneiros. Os espaços de produtores e revendedores estão vazios porque as mercadorias não estão chegando ao local.
De acordo com o gerente da Ceasa Marcos Augusto Pereira, houve uma redução de 70% a 80% da movimentação de mercadorias.
“Nós atendemos o comprador, o fornecedor e o produtor. Nenhum dos três está conseguindo chegar na Ceasa para comercializar os produtos devido à paralisação dos caminhoneiros”, explicou o gerente da Ceasa em Londrina.
A Ceasa em Londrina atende em torno de 300 agricultores que realizam a venda direta na Central de Abastecimento. São produtores de cidades que ficam até 200 quilômetros de distância do município. Como há muitas barreiras nas estradas, muitos não estão saindo das propriedades ou ficando parados.
“Há produtores de Marilândia do Sul, Tamarana e Faxinal que não conseguem passar dessas barreiras. São cargas de tomate, cenoura, couve, couve-flor, por exemplo, que estão parados ou nem saem das propriedades”, disse Pereira.
Na Ceasa de Foz do Iguaçu, no oeste, a queda no movimento de cargas passa de 90%. Na segunda-feira (21), foram recebidas 390 toneladas de hortifrutigranjeiros, na terça, 40 toneladas, e nesta quarta (23), 23 toneladas. Já estão faltando batata, tomate e cebola.
O desabastecimento na Ceasa também deve afetar os consumidores paraguaios. Metade dos produtos vendidos em Foz do Iguaçu seguem para Ciudad del Este e outras cidades próximas à fronteira.
Na Ceasa de Cascavel, também no oeste, o volume de cargas teve redução de 88%, caindo de 250 para 30 toneladas. Segundo os distribuidores, a previsão é que se a paralisação dos caminhoneiros continuar, produtos devem começar a faltar nos supermercados a partir de quinta-feira (24).
Nesta quarta-feira, a Prefeitura de Curitiba informou a suspensão do programa Nossa Feira até quinta-feira (23) por causa da falta de produtos.
O programa Feira Livre, da prefeitura, vende frutas e hortaliças a preço único por quilo. O valor é definido pela administração pública e é, no mínimo 40%, mais barato que a média de varejo.
Aumento de preços
Em Londrina, cargas de melão e de batata também não estão sendo entregues porque esses produtos vêm de outros estados. Com isso, o preço desses alimentos já disparou. A saca de 50 quilos de batata que até sexta-feira era vendida por R$ 90, nesta quarta-feira (23) é comercializada por até R$ 280.
“Da outra vez que também ocorreu paralisação de caminhoneiros nas estradas do estado tivemos uma quebra de 20%. Dessa vez, a paralisação está sendo mais intensa. Se essa situação persistir por mais uma semana pode ser que tenhamos desabastecimento”, concluiu Marcos Augusto Pereira.
Uma fila de carros ser formou próximo a um posto de combustíveis na Avenida Celso Garcia Cid, em Londrina — Foto: Alberto D'Angele/RPC
Falta de combustíveis
Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, a prefeitura decidiu priorizar o abastecimento dos carros da saúde e da segurança até que a situação nos postos de combustíveis da cidade volte ao normal.
A empresa responsável pelo transporte público na cidade, a Viação Campos Gerais (VCG), informou que, a partir do meio-dia, apenas metade da frota de ônibus deve circular por falta de diesel para encher os tanques.
Nos postos de combustíveis de Ponta Grossa, há filas para abastecer desde as primeiras horas do dia.
Na Rua Balduíno Taques, onde há postos de combustíveis, a Autarquia Municipal de Trânsito e Transportes (AMTT) precisou ser chamada para organizar o trânsito por conta do alto número de veículos querendo abastecer.
Na Rua Balduíno Taques, onde há postos de combustíveis, a AMTT precisou ser chamada para organizar o trânsito — Foto: Vanessa Rumor/RPC
As empresas de ônibus de Curitiba e Região Metropolitana já estão operando em alerta vermelho. Se o problema persistir, a prestação do serviço de transporte coletivo pode ser afetada de maneira geral a partir desta quinta-feira (24).
Em postos de combustíveis em Rio Branco do Sul, Itaperuçu e Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, há bombas de álcool e de gasolina vazias porque os caminhões que fornecedora não conseguem chegar.
A paralisação também já afeta o abastecimento de combustíveis em várias cidades da região norte e noroeste do Paraná.
Nesta quarta-feira (23), caminhoneiros bloquearam a entrada da central de distribuição de combustíveis em Londrina. As refinarias entregam os produtos no local e depois são distribuídos nos postos. Por causa do protesto, nenhum caminhão entra ou sai do local.
Uma das empresas responsáveis pelo transporte público em Londrina, a Grande Londrina, informou que tem óleo diesel para abastecer completamente a frota até esta quinta-feira (24). Se a paralisação não terminar e os caminhões com o combustível não conseguirem chegar na empresa, alguns ônibus podem não sair da empresa na sexta-feira (25).
Por isso, já há registro de falta de gasolina, etanol e diesel em alguns postos de Londrina, Cambé, Rolândia e Arapongas.
Em Floresta, na região norte, dois postos também estão sem gasolina e etanol desde a tarde de terça-feira (22). O estoque de óleo diesel também está acabando.
Em Paranavaí, no noroeste do Paraná, alguns postos de combustíveis também estão sem etanol e gasolina.
Nos postos de combustíveis no centro de Foz do Iguaçu, no oeste, o estoque de etanol, gasolina e diesel deve ser suficiente para no máximo até sexta-feira (25). Em estabelecimentos próximos da Ponte da Amizade, na fronteira com o Paraguai, alguns produtos já estão faltando.
Em Cascavel, ainda os estoques estão baixas, mas não há registro de falta de combustíveis.
Moradores do sudoeste fazem fila para abastecer carros antes que combustível acabe
No sudoeste, cidades como Nova Prata do Iguaçu, Nova Esperança do Sudoeste e Clevelândia também estão sem combustíveis.
A falta de diesel fez a Prefeitura de Ampére suspender o uso das máquinas a partir desta quarta. A medida tem como objetivo reservar combustível para as ambulâncias.
Uma falculdade também suspendeu as aulas porque muitos alunos da região não estão conseguindo chegar até a cidade porque os ônibus estão sendo parados nos bloqueios.
Em Pato Branco, motoristas de vans escolares estão reforçando a paralisação dos caminhoneiros e prevêem que se os bloqueios continuarem até o fim de semana, deverão suspender o serviço de transporte de estudantes a partir de segunda.
Dois caminhões da coleta de lixo em Cornélio Procópio, no norte do Paraná, não conseguiram descarregar o lixo domiciliar no aterro sanitário localizado na rodovia PR-160. Os manifestantes bloqueiam o acesso ao aterro.
Parte da coleta de lixo foi suspensa, porque só há mais dois caminhões disponíveis para a realização do serviço. Diariamente, são coletadas 30 toneladas de lixo.
Indústria têxtil
Em Cianorte, no noroeste, o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário (Sinveste), Beto Nabhan, informou nesta quarta-feira que a produção deve parar nas indústrias têxteis a partir da próxima segunda-feira (28) porque os empresários não estão conseguindo receber matéria prima e nem transportar as peças produzidas.
Cianorte tem cerca de 300 indústrias de vestuário, segundo o sindicato.
Correios
Os Correios afirmam que a paralisação dos caminhoneiros também tem prejudicado as entregas. "Diante desse cenário, os Correios informam que estão temporariamente suspensas as postagens das encomendas com dia e hora marcados (SEDEX 10, 12 e HOJE)", escreveram em nota.
GREVE DOS CAMINHONEIROS
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