A Coopavel, em Cascavel, dispensou 2,4 mil funcionários na quarta-feira (23); cooperativa é responsável pelo abate de 220 mil frangos por dia — Foto: Cícero Bittencourt/RPC
Dois pilares da economia paranaense – a agroindústria e a indústria automotiva – são considerados por especialistas os setores mais impactados nos primeiros dias de paralisação dos caminhoneiros, que bloqueiam mais de 160 pontos em rodovias no estado.
Desde segunda-feira (21), eles fazem uma mobilização nacional nas estradas estaduais e federais contra os aumentos no preço do diesel. Já na terça-feira (22), a agroindústria passou a sentir os primeiros reflexos, que também atingem a população.
Sem escoamento da produção, houve pecuarista que jogou leite fora. Até a quarta-feira (23), 11 frigoríficos da região oeste do Paraná – a principal produtora do estado que é o maior produtor e exportador do país - haviam suspendido as atividades.
"O prejuízo financeiro é incalculável", avalia Domingos Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar). Caso a paralisação continue, a conta dos prejuízos pode ser maior para o setor.
A previsão do superintendente da Organização dos Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafiolleti, é a de que até sexta-feira (25) todos os frigoríficos de cooperativas interrompam o abate de aves. "O problema é bem significativo", aponta.
Segundo ele, toda a cadeia da avicultura tem sido fortemente impactada, visto que os produtores enfrentam dificuldades não só para escoar a produção, mas para conseguir ração para alimentar as aves.
Além do mercado interno, a paralisação causa prejuízos às exportações, conforme a Ocepar. Em dois dias de bloqueios, segundo a organização, 40 mil toneladas de grãos deixaram de chegar ao Porto de Paranaguá.
Com navios à espera, a multa diária paga pelo contratante quando o embarque demora gira em torno de US$ 30 mil por dia e por embarcação, indica a Ocepar.
Mapa do reflexo da paralisação dos caminhoneiros por região no Paraná — Foto: Letícia Cesar/RPC
Indústria automotiva
Por utilizar o sistema de produção just in time (na hora certa), as empresas do polo automotivo do estado – que estão entre as mais produtivas do país – trabalham com estoque baixo de peças e dependem de uma cadeia de fornecedores.
"Mesmo que a linha de produção não chegue a parar, vai ter retrabalho quando chegar aquilo que falta pro veículo. Isso gera aumento de custos", explica João Arthur Mohr, gerente dos conselhos temáticos e setoriais da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).
A fábrica do Grupo Volvo em Curitiba, por exemplo, informou, por meio de nota, que não atingiu os volumes previstos de produção na terça e na quarta devido à dificuldade em receber componentes da linha de montagem.
Impacto econômico
Entidades que representam setores da economia têm reconhecido publicamente a legitimidade, nos últimos dias, do movimento dos caminhoneiros. Na opinião do superintendente da Ocepar, "todo mundo [produtores, caminhoneiros e governo] tem razão e todo mundo tem um problema".
Para a coordenadora do curso de economia da FAE Curitiba, Solidia dos Santos, haverá impacto na economia do estado por causa do encarecimento do custo de produção.
"O cenário também é ruim para a balança comercial, sem conseguir transportar para exportar, o que tende a repercutir no mercado externo", indica.
Segundo ela, embora seja cedo para dimensionar como a paralisação vai, de fato, afetar a economia, a tendência é de que o aumento de preços de produtos desemboquem na inflação e gere "impactos econômicos bem fortes".
Dependência rodoviária
Os especialistas apontam, ainda, que a paralisação dos caminhoneiros evidenciam um problema crônico do estado: a dependência das rodovias, principalmente para escoamento de produção.
"Esse é um erro histórico de investir só em rodovias", afirma o gerente dos conselhos temáticos e setoriais da Fiep.
Segundo João Arthur Mohr, apenas 20% do total da produção da última safra de grãos chegou ao Porto de Paranaguá por meio das ferrovias. O restante cruzou as estradas.
Mohr aponta três fatores para justificar a necessidade de investimento em ferrovias, que são o preço do frete mais barato, menor emissão de gases poluentes e o fato de que o trabalho para os caminhoneiros não deixaria de existir, evitando apenas grandes deslocamentos.
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