"Rei do Bitcoin" apontou arma para funcionária, diz testemunha
Testemunhas ouvidas pela Polícia Federal na investigação que apura desvio bilionário em negociações de corretoras de criptomoedas controladas por Cláudio José de Oliveira, conhecido como "Rei do Bitcoin", afirmaram que o empresário era agressivo e chegou a apontar uma arma contra funcionários para intimidá-los.
As informações constam no despacho da 23ª Vara Federal de Curitiba, que autorizou a operação que prendeu o empresário e outras quatro pessoas. Eles são suspeitos de integrarem um grupo que desviou R$ 1,5 bilhões em negociações que simulavam a compra e venda de criptomoedas.
O comportamento foi mencionado para fundamentar o pedido de prisão preventiva do empresário.
Durante as investigações, uma das testemunhas afirmou que Oliveira "costumava apontar armas para a cabeça de pessoas com quem se desentendia".
Outra pessoa ouvida pela polícia disse que "ficou na mira da arma de Cláudio, por não ter sacado toda a quantia de dinheiro que ele lhe havia solicitado". Segundo o depoimento, o empresário ficou nervoso quando uma funcionária não conseguiu sacar R$ 30 mil do banco.
De acordo com o documento, Cláudio tinha uma empresa de segurança e andava sempre armado.
As investigações apontam que o empresário suspeito da fraude também intimidava os funcionários de outras maneiras, chegando a utilizar as contas bancárias dos colaboradores para movimentar pequenas quantias.
O advogado Ronaldo dos Santos Costa, que defende Cláudio José de Oliveira, informou que a defesa vai se manifestar nos autos do inquérito policial, "nada tendo a declarar acerca de especulações e boatos originados a partir de sua prisão cautelar".
Claudio Oliveira, conhecido como "Rei do bitcoin", foi preso na segunda-feira (5), em Curitiba — Foto: Reprodução/RPC
Fraudes
VÍDEO: PF faz operação contra grupo suspeito de desviar R$ 1,5 bi em negociações de criptomoeda no PR
De acordo com o documento, as investigações apontam também que o empresário realizava "fraudes de maneira cíclica".
Segundo a polícia, as corretoras não chegaram a negociar criptomoedas reais. De acordo com a investigação, o sistema das empresas operadas pelos suspeitos simulava a negociação das moedas virtuais para aplicar golpes nos clientes e realizar os desvios.
A PF informou que o esquema fez cerca de 7 mil vítimas.
De acordo com a PF, o "Rei do Bitcoin" já fez vítimas na Suíça, Portugal e Estados Unidos.
Operação
Na operação policial que prendeu os suspeitos de aplicar o golpe, a polícia apreendeu oito carros de luxo, avaliados em cerca de R$ 2,5 milhões, além de bolsas, jóias e dinheiro dos suspeitos.
Oito carros foram apreendidos durante a operação da Polícia Federal, em Curitiba — Foto: Divulgação/PF
Os mandados foram cumpridos em endereços ligados aos investigados. Em alguns casos, as apreensões aconteceram em mansões e chácaras na região de Curitiba.
PF fez buscas em mansões ligadas a suspeitos de desvio de R$ 1,5 bilhão
Investigações
As investigações começaram em 2019, após o grupo registrar um boletim de ocorrência afirmando que havia sido vítima de um ataque cibernético. À época, os valores de todos os credores foram bloqueados pela empresa.
Com o passar das investigações e com a falta de colaboração do proprietário da empresa, a Polícia Civil e o Ministério Público do Paraná desconfiaram que o ataque cibernético era falso e que o grupo havia cometido crimes, como estelionato.
Polícia aprendeu dinheiro ao cumprir mandados, em Curitiba — Foto: Polícia Federal
Após denunciarem o suposto ataque cibernético, o grupo suspeito prometeu aos credores que devolveria os valores bloqueados em parcelas. Apesar disso, segundo a PF, os valores nunca foram quitados.
Ainda em 2019, a Justiça concedeu ao grupo uma ordem de recuperação judicial, o que interrompeu as ações cíveis que a empresa respondia.
Durante o processo, no entanto, segundo a PF, o grupo prestou informações falsas e enganou o Judiciário.
Segundo o delegado que comentou a operação, um dos investigados informou à Justiça que tinha 7 mil criptomoedas. A informação, no entanto, era falsa.
"Ele se valeu do desconhecimento dos operadores do direito sobre o tema", afirmou o delegado.
No ano seguinte, as investigações identificaram que o grupo negociava contratos de investimento coletivo sem registro junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Com isso, a PF passou a apurar o caso.
As investigações levantaram a suspeita de que o líder do grupo desviava os valores dos clientes para benefício próprio. Para atrair investidores, os suspeitos ostentavam bens de luxo e faziam grandes eventos.
Conforme a PF, o líder do grupo possui uma condenação na Suíça por crimes de estelionato e falsificação de documentos.
Carros de luxo foram apreendidos durante a operação — Foto: Polícia Federal
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