A Queiroz Galvão pagou propina a políticos e funcionários da Petrobras para fechar contratos com a estatal e também para obstruir investigações de uma CPI no Senado, em 2009, segundo a força-tarefa da Lava Jato. O repasse de propina envolvia contratos falsos e doações eleitorais – tanto caixa 2 como doações aparentemente legais.
A empreiteira é alvo da 33ª fase da operação, que foi deflagrada nesta terça-feira (2). Os ex- executivos da empresa Ildefonso Colares Filho e Othon Zanoide de Moraes Filho foram presos preventivamente. Não há prazo para que sejam liberados. Os dois já tinham sido detidos na 7ª fase da Lava Jato, em novembro de 2014, e tinham sido soltos dias depois por determinação da Justiça.
A delegada da Polícia Federal Renata da Silva Rodrigues afirmou, em entrevista coletiva sobre a operação, que os ex-executivos tentaram atrapalhar as investigações. Por isso, foram pedidas as prisões preventivas.
No despacho em que autorizou as prisões da atual fase, o juiz Sérgio Moro destacou que o esquema criminoso envolvendo a Queiroz Galvão foi revelado inicialmente pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef em depoimentos de delação premiada.
“Paulo Roberto Costa reportou-se, na Queiroz Galvão, ao executivo Ildefonso Colares Filho como sendo seu contato. Alberto Youssef, por sua vez, reportou-se a Othon Zanoide de Moraes Filho”, disse o juiz.
Costa cumpre regime semiaberto diferenciado no Rio de Janeiro e Youssef está preso desde março de 2014 na sede da PF, em Curitiba. Ambos já respondem por várias condenações da Lava Jato.
Em nota, a Construtora Queiroz Galvão informou que está "cooperando com as autoridades e franqueando acesso às informações solicitadas". A reportagem tenta contato com a defesa dos demais envolvidos.
Novas provas
"Há indícios, que incluem a palavra de colaboradores e um vídeo, de que 10 milhões de reais em propina foram pagos pela Queiroz Galvão com o objetivo de evitar que as apurações da CPI tivessem sucesso em descobrir os crimes que já haviam sido praticados até então", segundo o MPF.
"Temos um novo contrato, num valor bastante alto, um contrato de R$ 1,2 milhão, que está sob análise pericial para demonstrar que foi usado para pagamento de propina", disse Renata da Silva Rodrigues.
Além disso, segundo a delegada, foi decisivo para as investigações o vídeo que mostra a negociação entre operadores e o então presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), para esvaziar a CPI sobre suspeitas de superfaturamento nas obras da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. ASSISTA AO VÍDEO.
"Embora houvesse relatos da reunião, só recentemente o vídeo foi compartilhado pelo Supremo Tribunal Federal e passível de ser usado nas investigações. Ele mostra de forma muito clara a atuação das pessoas, num encontro de lobistas com operadores financeiros, agentes públicos e parlamentares. No nosso entender, demonstra uma atuação direta dos investigados para obstruir as investigações", disse Renata.
Segundo a delegada, o vídeo foi entregue às autoridades pelo dono da sala comercial em que ocorreu a reunião. Ele seria amigo do operador Fernando Baiano.
Resta Um
Esta fase da Lava Jato foi batizada de Resta Um porque, segundo a PF, a Queiroz Galvão era a última empreiteira que faltava na investigação sobre formação de cartel na Petrobras. "De forma alguma isso quer dizer que as investigações não vão seguir", afirmou delegado Igor Romário de Paula.
Segundo o Ministério Público, a Queiroz Galvão é suspeita de:
- formar cartel para fraudar contratos na Petrobras;
- pagar propina por meio do caixa 1 (doações eleitorais aparentemente legais);
- pagar propina por meio do caixa 2 – R$ 2,4 milhões teriam ido para a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006;
- corromper funcionários da Petrobras e políticos;
- interferir na CPI da Petrobras no Senado, em 2009;
- manter funcionários no exterior, longe da ação da Justiça brasileira.
Campanha de Lula
O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou nesta terça que a empreiteira Queiroz Galvão é investigada por pagar caixa 2 para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. Segundo delação de Ricardo Pessoa, ex-presidente da UTC Engenharia, uma empresa que participou de consórcio com a Queiroz Galvão, o repasse para a campanha chegou a R$ 2,4 milhões.
A delegada Renata da Silva Rodrigues afirmou que a investigação sobre doações eleitorais da campanha de 2006 ainda estão em andamento.
Segundo ela, doações da Queiroz Galvão foram intermediadas pelo doleiro Alberto Youssef, considerado operador do esquema na Petrobras. A PF identificou três ou quatro parlamentares envolvidos, mas eles não são o alvo desta fase da operação. "Nosso objeto são os indivíduos que não têm foro [privilegiado]", disse.
Outras investigações
Segundo a PF, a Queiroz Galvão é a terceira maior empresa em volume de contratos com a Petrobras, que superam R$ 20 bilhões. "A maioria desses contratos foi alvo de cartel de empreiteiras para maximização dos recursos dessas empresas privadas, com prejuízos bilionários para a estatal pretrolífera", disse Jerusa Burmann Viecili, procuradora da República.
Segundo ela, a empresa já apareceu em outras três operações sobre esquemas de corrupção – duas delas foram anuladas por tribunais superiores.
Na Lava Jato, a empresa foi alvo da 7ª fase da operação, quando foram presos Ildefonso Colares Filho e Othon Zanoide de Moraes Filho. Marcos Pereira Reis, que teve a prisão temporária decretada, ainda não foi preso porque está no exterior.