As acidentadas encostas do rio Douro formam uma paisagem de rara beleza no norte de Portugal. Mas as maravilhas naturais não são o único atrativo desta região, que é uma das mais antigas do mundo na produção de vinhos.
Ali é elaborado o vinho do Porto que é transportado até o município de Vila Nova de Gaia, nos arredores da cidade Porto, onde amadurece por anos antes de ser exportado ao mundo inteiro, mas também alguns dos brancos e tintos mais elegantes do país, como a linha Duorum, um projeto desenvolvido pelo enólogo João Portugal Ramos em parceria com José Maria Soares Franco.
Vinhedos são plantados no Alto Douro há mais de 2000 anos e a milenar expertise na produção do vinho permitiu que o Douro fosse declarado Patrimônio Cultural da Unesco em 2001. A região é também uma das mais antigas Denominações de Origem (DO) demarcadas no mundo, criada pelo Marquês de Pombal em 1756 para estabelecer regras e um padrão de qualidade que os produtores devem seguir na elaboração da bebida.
Uma das peculiaridades é o cultivo em socalcos, estreitos terraços construídos com diversas técnicas ao longo dos séculos nas encostas do rio e reforçados com muro de pedra de xisto para evitar a erosão das colinas. Em cada socalco não cabem mais do que uma ou duas fileiras de parreirais que, pela conformação do território, requerem manutenção constante.
A original forma de cultivo é a maneira encontrada pelos produtores da região para garantir que as uvas tenham a melhor exposição ao sol para uma maturação perfeita. O exíguo espaço, porém, exige que todo o processo de cultivo, poda e colheita seja manual. Os cestos carregados de cachos são transportados até as vinícolas por animais de carga ou com pequenos tratores e carros de apoio.
A construção dos socalcos remonta ao final do século 19 e começo do 20, quando os vinhedos precisaram ser replantados, após a destruições provocada pela filoxera, uma praga que dizimou os parreirais pela Europa. Mas há registro de que os terraços já existiam antes da devastação.
Essa história repleta de tradições e de riqueza natural é contada diariamente pelo Duorum, projeto de dimensão internacional criado em 2007 pelos enólogos João Portugal Ramos e José Maria Soares Franco que se uniram para produzir vinhos no Douro com características únicas.
Na entrevista a seguir, João Perry Vidal, enólogo e Diretor Geral da Duorum, conta os diferenciais e os desafios de elaborar vinhos na região icônica de Portugal.
Qual é a história dos socalcos e por que foram feitos daquele jeito?
O vale do rio Douro sempre foi procurado para a plantação de vinhas, com vista a obtenção de uvas de qualidade. Devido à grande inclinação das encostas, foi necessário criar terraços e patamares que cortassem a erosão e permitissem a lavoura manual ou com apoio animal. Este tipo de sistematização confunde-se com a própria origem da região, que só em 1756 foi demarcada com Denominação de Origem (DO).
Quais são as dificuldades de realizar a colheita num território tão acidentado?
Naturalmente, a vindima nos socalcos é unicamente manual. As dificuldades são de ordem variada, a começar pelo espaço exíguo entre linhas nas vinhas mais velhas, ao transporte das caixas ou cestos até aos tratores ou carros de apoio, que muitas vezes estão uns quantos metros acima! Enfim, a palavra fácil não se pronuncia muito nesta região.
A disposição dos vinhedos em socalcos influencia diretamente na maturação das uvas e, portanto, no resultado do vinho? Se sim, de que forma?
É exatamente pela disposição das vinhas em socalcos, que vão permitir a cada linha de videiras estar arejada e exposta à luz solar, contribuindo para uma maturação melhor e completa das uvas. Os vinhos são de cor e aroma intensos a fruta madura e de grande concentração.
A linha Tons de Duorum é elaborada nas regiões de Cima Corgo e Douro Superior. Quais as características desses dois terroirs e como se refletem na taça?
A região do Douro Superior difere do Cima Corgo essencialmente no clima, sendo a primeira mais quente e seca. No Douro Superior, a pluviosidade é metade do que no Cima Corgo. O Tons de Duorum alia a frescura do Cima Corgo, a sua fruta vermelha fresca com a maturação do Douro Superior, tornando-o num vinho de cor e aroma intenso, mas simultaneamente fresco.
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