Por Millena Sartori, g1 PR — Ponta Grossa


Médico Laurenito Neves Pereira Junior tem 29 anos — Foto: Reprodução/CRM-PR

O médico Laurenito Neves Pereira Junior, de 29 anos, que pediu maconha, agrediu e subiu no carro de um paciente e também mordeu e proferiu ofensas racistas contra policiais enquanto era abordado após a confusão, usava tornozeleira eletrônica devido a uma ocorrência registrada quase onze meses antes.

No dia 19 de janeiro - data do aniversário do homem - ele foi preso após se envolver em uma briga de bar e desacatar e ameaçar os policiais que atenderam a ocorrência. Segundo o boletim da ocorrência (B.O.), ele estava com sinais de embriaguez e proferiu ameaças e palavras de baixo calão contra os profissionais em Curiúva, entre os Campos Gerais e o norte pioneiro do Paraná.

"Disse que mataria os polícias com tiro de sua pistola Glock. Laurentino, então, começou a vir de encontro à equipe e forçar contato para simular ser agredido, momento em que tentou segurar o policial e foi necessário imobilização e uso de algemas", complementa o documento.

O B.O. também descreve que, após ser detido, Laurentino chutou o camburão diversas vezes, "tentando danificar a viatura", e tentou investir contra os policiais, mesmo estando algemado.

"E a todo momento ameaçando a equipe policial que iria matar a todos", diz o boletim.

Ele foi preso em flagrante e o juiz considerou não ser necessário converter a prisão em preventiva. Porém, por ter antecedentes criminais (uma condenação por dirigir embriagado e colidir contra um canteiro em 2021), recebeu liberdade provisória mediante medidas cautelares - sendo uma delas o uso de tornozeleira eletrônica.

Na época, Laurentino foi denunciado pelo Ministério Público (MP) pelos crimes de resistência e desacato. O processo está em andamento na Justiça.

Em nota, a advogada de Laurentino, Roberta Cássia Nobile Bastos, afirmou que a defesa não vai se manifestar sobre o caso no momento "uma vez que o processo não foi julgado e nem mesmo houve audiência".

O g1 questionou o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) se a instituição tinha conhecimento do caso e do uso da tornozeleira eletrônica e aguarda resposta.

Prisão em dezembro

Caso aconteceu em Inácio Martins (PR) — Foto: Jornalista Kleber Fernandes- Portal Comunique

No dia 1º de dezembro Laurenito foi preso em Inácio Martins, na região central do Paraná, durante expediente no pronto atendimento da cidade.

Segundo a PM, um paciente relatou que estava com a mãe em uma consulta com o médico, quando o profissional começou a agir de forma grosseira e o questionou se tinha maconha para oferecer.

Após a recusa, ele contou que o médico deu cutucões agressivos nele, e na sequência ele e a mãe saíram do consultório.

"Relatou que o médico estava sem condições de atendê-lo, e quando saiu do consultório o médico foi atrás, agarrou o mesmo pelo braço rasgando a camiseta do paciente, e desferiu a seguinte frase: 'Vamos conversar de homem para homem, seu maconheiro'. Relatou, ainda, que ao chamar sua mãe para entrar no carro, o médico a ofendeu, e nesse momento o médico subiu em cima do seu carro", complementa a corporação.

O delegado Rafael Rybandt também afirmou que a mulher tentou impedir que o médico entrasse no carro, e neste momento caiu no chão e machucou o braço e a perna.

De acordo com o relato do paciente à PM, ele dirigiu por alguns metros com o profissional em cima do capô até a prefeitura municipal, que fica a cerca de 100 metros do pronto atendimento, e na sequência a polícia foi acionada.

Confusão com policiais

A Polícia Militar afirmou que, após ser acionada devido à confusão do médico com o paciente, chegou ao local e viu Laurenito "com estado mental alterado" em meio a uma aglomeração de pessoas.

Segundo a corporação, na tentativa de abordagem ele começou a proferir ofensas e ameaças aos policiais; o médico chamou um profissional que é natural do estado da Bahia de "índio inútil" e "cotista", e disse ainda frases como: "você não é nada além de um substituto", "vou enfiar uma flecha na tua cara", entre outras ofensas e ameaças, afirma a PM.

Ainda conforme a PM, ao tentar colocá-lo na viatura os policiais foram agredidos com socos, chutes e mordidas.

"No momento da tentativa de algemamento do autor, este acabou desferindo duas mordidas, causando lesão no braço esquerdo de um dos PMs, e também devido aos socos e chutes causou lesão no joelho esquerdo e ombro esquerdo e também lesões na cabeça [dos policiais]", complementou a corporação.

Procurada pelo g1, a defesa do médico disse que já tomou as medidas cabíveis, e ressaltou que o cliente está na condição de investigado, e não réu. A nota ainda diz que a defesa não pode falar mais sobre o caso porque o processo está em segredo de justiça.

Caso aconteceu em Inácio Martins (PR) — Foto: Jornalista Kleber Fernandes- Portal Comunique

Prisão preventiva

Segundo o delegado, o médico foi preso e atuado em flagrante pelos crimes de:

  • lesão corporal leve dolosa (contra a mãe do paciente);
  • lesão corporal leve dolosa majorada, por ter sido praticada contra agente de segurança pública;
  • injúria racial (contra um policial);
  • injúria simples (contra o paciente e a mãe dele);
  • dano simples (devido aos estragos no capô do carro do paciente);
  • ameaça (contra um policial);
  • desacato;
  • resistência.

Rafael Rybandt também afirma que, quando chegou na delegacia, o médico afirmou que possui transtornos psiquiátricos como bipolaridade e outros relativos ao uso excessivo de álcool. Ele também afirmou que estava há um tempo sem tomar as medicações necessárias para os tratamentos e que não se lembrava da ocorrência.

Após o flagrante, a Justiça converteu a prisão dele para preventiva, após pedido da Polícia Civil.

"Laurenito ofendeu a integridade corporal das vítimas, ameaçou e desacatou a equipe policial e ofendeu a dignidade e a honra subjetiva do policial militar, em razão de sua procedência nacional. Assim, considerando a gravidade em concreto das condutas supostamente praticadas e a possibilidade de reiteração criminosa, não há que se falar em concessão de liberdade provisória", escreveu o juiz, na decisão.

O delegado afirma que também solicitou a decretação de que o homem seja impedido de atuar como médico na rede pública de qualquer cidade do país, e aguarda a decisão judicial.

Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Paraná informou que "está acompanhando o caso e irá instaurar procedimento investigativo para apurar o ocorrido e tomar as providências cabíveis. Conforme determina o Código de Processo Ético-Profissional, o procedimento tramita em sigilo processual".

Médico que agrediu paciente no Paraná usava tornozeleira eletrônica

Médico que agrediu paciente no Paraná usava tornozeleira eletrônica

O que dizem os responsáveis pelo pronto atendimento

Em nota assinada pelo prefeito Edemétrio Benato Junior, a prefeitura municipal de Inácio Martins disse que está tomando "as devidas providências".

"O serviço médico no pronto atendimento é prestado pela empresa terceirizada Norte Sul Serviços de Saúde Ltda. Diante dos fatos, solicitamos imediatamente a substituição do profissional envolvido para que a situação seja devidamente esclarecida e resolvida. Agradecemos pela atenção e reforçamos nosso compromisso com a qualidade e a transparência na prestação dos serviços de saúde no nosso município", afirma o texto.

Também em nota, a Norte Sul disse lamentar o ocorrido e afirmou que desde a contratação de Laurenito, há dois meses, não identificou quaisquer indícios de conduta inadequada no Pronto Socorro de Inácio Martins.

"O aludido médico prestava plantões esporádicos para empresa no período noturno e finais de semana período de 24 horas. Porém, até o momento do ocorrido, não identificamos nada que viesse desabonar sua conduta do referido profissional, bem como, não tínhamos conhecimento prévio sobre o uso de tornozeleira eletrônica. Sendo assim, diante ao ocorrido, foram adotadas medidas como o afastamento imediato do médico de todas as atividades na Empresa Norte Sul Saúde. Ainda, notificaremos oficialmente ao Conselho Regional de Medicina (CRM) e, prestaremos apoio à vítima e sua família, incluindo ressarcimento pelos danos causados, se houver", complementa o texto.

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