Por Cesar Soto, G1


A série de ficção científica distópica “Black Mirror” ficou famosa ao retratar com extrema habilidade as maiores ansiedades tecnológicas das pessoas, em uma sociedade que se torna cada vez mais digitalizada. Se depender da qualidade da quarta temporada, que estreia nesta sexta-feira (29) na Netflix, esse futuro (não muito distante) será horrível. Assista ao trailer acima.

Depois de três temporadas com 13 episódios, os seis novos capítulos lançados pelo serviço de streaming de vídeos são alguns dos piores – com algumas exceções – já apresentados.

A temporada segue o modelo das anteriores, com suas histórias fechadas e seus temas que abordam possíveis tecnologias com resultados sombrios, mas dessa vez repete à exaustão conceitos já explorados pela própria série.

Jesse Plemons, Paul G. Raymond, Jimmi Simpson, Milanka Brooks, Osy Ikhile, Michaela Coel e Cristin Milioti em cena de 'Uss Callister', episódio de 'Black Mirror' — Foto: Divulgação/Netflix

O criador, Charlie Brooker, parece obcecado com a digitalização da consciência humana e com tecnologias que permitem visitar pontos de vista alheios. Tanto que grande parte da nova leva, toda escrita por ele (em um episódio ele divide a autoria do roteiro), usa um destes temas como base.

Infelizmente, além da ausência de grandes novidades, a série sofre com a perda da sutileza e da inteligência com que tratava os assuntos.

Ao contrário do que tinha feito até aqui, como em capítulos como “Be right back” ou “The entire history of you”, Brooker cria personagens previsíveis ou incoerentes, metidos em tramas entediantes ou simplesmente idiotas.

Andrea Riseborough em cena de 'Crocodile', episódio de 'Black Mirror' — Foto: Divulgação/Netflix

“Black Mirror” se tornou em uma das coisas mais empolgantes já produzidas pela televisão por explorar os medos no limite entre o irreal e o que pode se tornar cotidiano a qualquer momento.

Neste quarto ano, é até possível ver esta qualidade em alguns momentos, mas eles estão soterrados em tantas decisões erradas e sequências sem graça o público corre o risco de nunca ter a chance de vê-los.

Por isso, o G1 preparou um pequeno guia dos seis episódios desta temporada. Veja abaixo, do pior para o melhor:

Rosemarie DeWitt em cena de 'Arkangel', episódio de 'Black Mirror' — Foto: Divulgação/Netflix

“Arkangel”

A atriz Jodie Foster dirige um dos episódios mais chatos de toda a história da série. Nele, uma mãe instala um chip na cabeça da filha ainda bebê, o que permite monitorá-la 24 horas por dia. O que começa como uma preocupação com a criança se torna uma discussão sobre privacidade conforme ela envelhece.

Além de arrastado, o roteiro peca ao deixar de lado o aspecto mais interessante da tecnologia, que permite que a mãe bloqueie imagens perturbadoras do cotidiano da filha, e ao criar uma personagem que toma todas as decisões erradas. O triste (e brochante) desfecho poderia ser facilmente evitado por uma pessoa com dois neurônios.

Maxine Peake em cena de 'Metalhead', episódio de 'Black Mirror' — Foto: Divulgação/Netflix

“Metalhead”

A maior qualidade de “Metalhead” é sua curta duração. Com 40 minutos, é o mais rápido da temporada – mesmo que não pareça. Sua trama é tão rala que a sensação no final é de que se passaram cinco horas.

Gravado em preto e branco sem qualquer motivo além de querer ser “artístico” pelo diretor David Slade (“A saga Crepúsculo: Eclipse”), apresenta um futuro distópico no qual a raça humana aparentemente é caçada por robôs assassinos. Inédito.

Kiran Sonia Sawar em cena de 'Crocodile', episódio de 'Black Mirror' — Foto: Divulgação/Netflix

“Crocodile”

Anos depois de ser cúmplice de um crime horrível, uma arquiteta bem-sucedida entra em uma espiral inexplicável para impedir que o ocorrido seja revelado. “Crocodile” se sustenta em uma bela fotografia e nas atuações de Andrea Riseborough (“Oblivion”) e de Kiran Sonia Sawar (“Legends: Identidade Perdida”).

Mas, não bastasse a repetição do uso de uma tecnologia que permite ver através dos olhos de outras pessoas, as atitudes da protagonista fazem tão pouco sentido que o maior mistério do episódio é tentar entender o que o roteirista estava pensando.

Douglas Hodge e Letitia Wright em cena de 'Black Museum', episódio de 'Black Mirror' — Foto: Divulgação/Netflix

“Black Museum”

O último capítulo deve ser realmente deixado para o final, já que o museu do título expõe referências de diversas histórias da série, desde o começo. Encontrar essas lembranças infelizmente é seu maior ponto positivo.

Assim como “White Christmas”, “Black Museum” conta três histórias diferentes. Diferente de seu antecessor, são todas fracas, amarradas através de uma narração irritante e sem ligação coerente entre si. Parecem todas restos de ideias que não foram aprovadas – e com razão.

Georgina Campbell e Joe Cole em cena de 'Hang the DJ', episódio de 'Black Mirror' — Foto: Divulgação/Netflix

“Hang the DJ”

Temos aqui a tentativa de “San Junipero” desta temporada. “Hang the DJ” tem a atmosfera romântica e até otimista do premiado episódio do terceiro ano, mas não consegue repetir a qualidade. Mesmo assim, consegue se destacar dentro de um conjunto tão fraco.

A trama se aproveita da ótima química entre Georgina Campbell (“Broadchurch”) e Joe Cole (“Peaky Blinders”) para discutir sistemas de relacionamentos como o OkCupid. O episódio segue bem até o desfecho, que infelizmente escolhe a saída mais fácil.

Osy Ikhile, Jimmi Simpson, Milanka Brooks, Michaela Coel, Cristin Milioti e Jesse Plemons em cena de 'Uss Callister', episódio de 'Black Mirror' — Foto: Divulgação/Netflix

“USS Callister”

“USS Callister” é o melhor episódio da temporada – e ainda assim não é dos mais memoráveis da série. A homenagem/paródia de “Star Trek” consegue mostrar que é mais do que a mera ideia comercial que parecia ser dentro do trailer.

Jesse Plemons (“Breaking Bad”) e Cristin Milioti (“How I met your mother”) comandam o elenco mais estrelado deste quarto ano, e conseguem também duas das melhores interpretações.

Apesar de ser mais uma análise da consciência digitalizada e de exigir uma boa dose de empatia por zeros e uns do público, o capítulo justifica o uso da estética da série dos anos 1960 ao entregar uma discussão interessante com todas as aflições que tornaram “Black Mirror” tão relevante.

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