Por Cesar Soto, G1


Tim Blake Nelson (com a máscara espelhada) e Regina King em cena de 'Watchmen' — Foto: Divulgação

É incrível o quanto "Watchmen", série que estreia neste domingo (13) na HBO, consegue se afastar da HQ de mesmo nome escrita por Alan Moore ao mesmo tempo em que respeita a obra clássica publicada nos anos 1980.

A produção utiliza o universo habitado por heróis mascarados criado pelo quadrinista (que, como sempre, prefere manter distância da adaptação) para discutir tensões raciais nos Estados Unidos em 2019, muitos anos depois dos acontecimentos dos quadrinhos.

Este pelo menos é o foco dos dois primeiros episódios exibidos pela HBO para os jornalistas brasileiros. A temporada terá nove no total.

Os capítulos iniciais também servem como bons indicadores de que o criador da série, Damon Lindelof, aprendeu com alguns de seus erros em "Lost" e "The Leftovers". Ele deve equilibrar melhor mistérios e enigmas com respostas satisfatórias.

'Watchmen', série baseada nos quadrinhos, ganha 1º trailer; ASSISTA

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Máscara para quem precisa

Assim como o original, este "Watchmen" 2.0 baseia sua discussão principal em um episódio real (e violento) da história americana. Neste caso, o massacre de 1921 da população negra da cidade de Tulsa, em Oklahoma, serve como ponto de partida.

Quase cem anos depois, a região é reflexo de políticas governamentais que tentam remediar o ocorrido. Como reação, a comunidade ainda sofre com as idas e vindas de uma organização racista ressentida, cujos ataques forçaram a polícia local a se esconder atrás de máscaras.

Com isso, as linhas entre o que é certo e o que é errado, entre o heroísmo, o fascismo e o vigilantismo se tornam cada vez mais borradas.

Maior exemplo disso é a protagonista Sister Night, interpretada por Regina King ("Se a rua Beale falasse"), uma espécie de detetive sob um uniforme parecido ao de uma freira. Ela não precisa de mandados para invadir residências e espancar suspeitos.

Regina King em cena de 'Watchmen' — Foto: Divulgação

Super-equipe

A ganhadora de um Oscar, um Globo de Ouro e três Emmys dá ao papel a dignidade e a profundidade necessária para afastá-lo da caricatura, tão comum em séries de super-heróis.

Com nomes de peso como Louis Gossett Jr. (ganhador de Oscar por "A força do Destino"), Don Johnson ("Django livre"), Tim Blake Nelson ("A balada de Buster Scruggs"), Jean Smart ("Legion") e Jeremy Irons ("Liga da Justiça"), "Watchmen" certamente exibe um elenco capaz de lidar com as complexidades de seus temas.

Uma pena que os episódios disponíveis mostrem tão pouco do britânico ganhador do Oscar por "O reverso da Fortuna" (1990), em um papel que deve agradar aos fãs da HQ. A série não exige do espectador conhecimento prévio da obra, mas dá aos admiradores referências suficientes para fazê-los sorrir a cada 15 minutos.

Jeremy Irons em cena de 'Watchmen' — Foto: Divulgação

A adaptação de "Watchmen" é um desafio gigantesco. A HBO prova que aprendeu a lição ao observar o fracasso do filme da Warner dirigido por Zack Snyder em 2009 e reinventar e modernizar o universo criado por Moore – embalado pela trilha assombrosa criada por Trent Reznor, do Nine Inch Nails, com Atticus Ross.

Com isso, consegue não apenas algo que pode deixar o público dos quadrinhos orgulhosos de verdade, mas também aumenta muito suas chances de atingir seu maior objetivo: preencher a lacuna deixada pelo fim de "Game of thrones".

Tim Blake Nelson em cena de 'Watchmen' — Foto: Divulgação

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