Música

Por Marília Neves, G1


Marília Mendonça — Foto: Divulgação

Inspiração já foi mato para Marília Mendonça, Maiara & Maraísa e Zé Neto & Cristiano. Todos começaram a carreira como compositores, antes de virarem intérpretes.

Em 2015 e 2016, os caderninhos de composições dos sertanejos tiveram quase todas as páginas preenchidas.

Os primeiros álbuns desses três artistas são na maioria com músicas escritas por eles. Mas todos diminuíram o ritmo de composição:

Marília Mendonça

  • Em “Ao Vivo” (2016), ela escreveu 9 das 17 músicas...
  • Em “Todos os cantos” (2018), nenhuma das 7 lançadas é dela

Maiara e Maraisa

  • Em 2015, lançaram “Ao vivo em Goiânia” e 11 das 18 músicas tinham o nome de pelo menos uma delas
  • “Reflexo”, do final de 2018, tem 14 faixas e só uma tem o nome de Maraisa

Zé Neto e Cristiano

  • Eles acabam de lançar o EP “Acústico de novo”. Nenhuma das 5 faixas é deles
  • O primeiro DVD “Ao vivo em São José do Rio Preto” (2015) tinha 10 composições deles entre as 17 lançadas

Mas, diz aí, acabou a inspiração?

“É um caminho meio que natural no sertanejo. Assim como nós, muitos amigos que fazem sucesso hoje como intérpretes começaram na composição. O que acontece é que na estrada a correria dificulta esse processo criativo, então escrevemos menos”, diz Maiara ao G1.

“Compor é uma arte que demanda tempo e inspiração. A rotina grande de shows acaba com que esse tempo não exista”, avalia Zé Neto.

E como manter a identidade sem composições próprias? “Existem compositores que já entendem da nossa linha e compõe mais ou menos em cima do que já fazemos, e isso facilita muito”, explica o cantor.

Marília Mendonça com Maiara e Maraisa — Foto: Júlio César Costa/G1

Para Marília Mendonça, que cita também a agenda cheia de shows como ponto principal para a ausência de letras próprias no novo projeto, a fase como compositora serviu de base para sua trajetória.

"Eu comecei compondo, ganhando experiência e entendendo do mercado para depois ir para a estrada como intérprete. Hoje, eu entendo que esse período foi uma escola. Para quem tem a vontade, assim como eu sempre tive, de se lançar como cantor, acaba sendo um caminho natural".

"Apesar de estar escrevendo menos, às vezes vem uma ideia, um tema, um assunto... Eu tenho um grupo de amigos compositores e entre uma conversa e outra, vamos trocando ideias. É difícil encomendar música que fale sobre assunto x, mas é possível dar uma direção, colaborar e isso acontece com frequência".

"Não tenho apego em ter composição minha no meu trabalho, mas eu tenho que gostar da música, tem que ter o meu estilo, eu tenho que sentir aquilo que canto", explica Marília.

Zé Neto & Cristiano — Foto: Divulgação

Victor Chaves, um dos maiores arrecadadores de direitos autorais no Brasil, concorda que a agenda atribulada de shows atrapalha na composição.

“Inspiração não marca hora e nem lugar, e quando ela aparece, se não houver como aproveitá-la, dificilmente voltará. Por isso, perdem-se muitas canções em meio a uma agenda cheia".

"Há também o compromisso para com uma demanda mercadológica, inimiga da qualidade, uma vez que trabalhos mais maduros demandam tempo”, diz Victor ao G1.

O cantor tem aproveitado a pausa da dupla com o irmão Leo sem data de retorno para compor ainda mais. “Não sou arrecadador, sou compositor. Por outro lado, é claro, a pausa me possibilita compor com tranquilidade. Sigo compondo, recompondo e descansando”.

O nome dela era Jenifer...

A safra de compositores que se tornam intérpretes não deve parar por aqui. Léo, um dos autores do hit “Jenifer”, cantado por Gabriel Diniz, saiu do time de compositores Big Jhows para se dedicar ao trabalho com a dupla Thales & Leo.

Outro compositor sertanejo que vai se lançar nos palcos é Victor Hugo. Ele é um dos que assina “Largado às Traças”, de Zé Neto e Cristiano, que ficou no topo da lista do G1 de grandes hits de 2018.

Diego e Victor Hugo — Foto: Reprodução/Instagram

Neste mês, ele grava um DVD com sua dupla, Diego e Victor Hugo. Mas as músicas do EP que antecedem essa filmagem já são bem tocadas nas rádios. “Prefiro nem perguntar”, “Infarto” e “O alvo” ficaram entre as 100 mais tocadas em 2018. Apenas tem a assinatura de Victor.

“O Victor Hugo é um grande compositor e virou nosso amigo. A grande virtude dos compositores é que sempre tem compositor novo, sempre tem música nova saindo e isso é bom pra todos”, diz Zé Neto.

Dá para notar que o discurso já é aceitando o fato de que o amigo e compositor vai ser apenas amigo.

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