Música

Por Braulio Lorentz, G1


Entenda como ex-emos estão por trás de hits que você já ouviu por aí

Entenda como ex-emos estão por trás de hits que você já ouviu por aí

Eles usavam óculos chamativos, uma boa quantidade de gel e figurino meio questionável. Dez anos depois, poucos os questionam. Poderia ser o enredo de uma comédia do Adam Sandler ou do Ryan Reynolds. Mas é a história de ex-emos, hoje por trás de hits que você já ouviu por aí.

Ex-integrantes do Cine, Restart e NX Zero já produziram músicas como:

  • "Perdendo a mão", da Anitta
  • "I Miss U", do Alok
  • "Dona da minha vida", do Rouge
  • "Don't Give Up", da Manu Gavassi
  • "Bate a Poeira Parte 2", da Karol Conka

O G1 vasculhou o currículo desses produtores e falou com eles para entender como foi a mudança dos palcos do rock (emotivo, colorido, cheio de fãs e detratores) para as mesas de som. Será que o pop nacional está em boas mãos?

Pedro Dash já era produtor quando entrou no Cine, em 2009. "Eu tinha certeza que iria fazer o que faço hoje. Via que o rock estava indo pro eletrônico e pro hip hop".

Dash é bem direto nas respostas e fala muito palavrão. O ex-tecladista do Cine diz se sentir "privilegiado" por ter feito shows para até 80 mil pessoas e gravado "Boombox Arcade", uma ópera electro rock gamer. "Tem música naquele disco que é atual até hoje".

Com a banda, ganhou muito... conhecimento. "Fazia questão de entender como era o meio musical. Isso me deu maturidade, conhecimento de produção."

"Meu dinheiro do Cine gastei tudo com festa. Nunca tive dinheiro, sempre trabalhei pra c... Paguei tudo para todos os meus amigos".

Hoje, tem um projeto de eletrônico (Sekret) e um estúdio: o Head Mídia, criado em 2012 com Marcelinho Ferraz. Dash conheceu o produtor aos 15 anos, em um bar no bairro paulistano da Mooca. "Ele tocava batera em um cover de Blink 182 e aí entrou na minha banda, The Prank".

Juntos, estudaram técnicas de gravação vendo tutoriais, fizeram "estágios" com engenheiros de som e produziram bandas. "A gente era ruim demais... Aprendemos fazendo".

Outro sócio na Head Mídia é DH Silveira. O ex-vocalista do Cine investiu parte do prêmio que ganhou no reality show "A Fazenda". "A gente era mais artista, compunha, se encontrava quando dava... Era desorganziado. Aprendi que sendo assim você não é bem sucedido."

Anitta tem presença

Dash diz que trabalhar com Anitta é "sensacional". "Ela é prática, porque faz muita coisa". "Perdendo a mão" foi criada em uma madrugada: "Eu estava testando um teclado e saiu o pianinho... Era a cara dela. A letra tinha outro teor. Ela reescreveu tudo".

De onde saiu o tal pianinho que vai acelerando (veja no vídeo acima), tem muito mais: "No meu HD tem ideia 1 até ideia 3027". Antes de pegar instrumento ou programa, ele grava cantarolando no celular.

"A maioria é uma m..., mas tem sempre coisa legal". Algumas dessas coisas foram parar no álbum de Jão, primeiro artista lançado via selo da Head Mídia.

Logo após o fim do Restart, em 2015, Pedro Lucas montou a dupla Selva para shows e produções eletrônicas. Mas diz que o apreço por pop exista em sua fase rock colorido: "O Restart tinha influência do pop punk, de pós-hardcore californiano. Sempre usamos elementos eletrônicos".

Para Pe Lu, o Brasil sempre teve pouca música pop. "Temos artistas grandes famosos, mas de gêneros específicos como sertanejo e funk. Anitta e Alok ajudaram o brasileiro a entender música pop como estilo. Podemos juntar um pouco de tudo".

"I Miss U", com Alok, é assim. "É eletrônica, mas tem melodia e violinos pop, que flertam com country, e é quase triste no começo".

"Não me via fazendo isso naquela época. Eu era quase uma criança, tenho banda desde os 14 e meu objetivo era só viver de música".

A força do trap

Pe Lu diz ter mais 20 músicas para saírem nos próximos 12 meses. E qual o estilo vai se destacar nessa nova safra? "Tem uma com o Konai, um menino do trap. Está bem bombado na molecada".

Ele cita Post Malone, Mac Miller e xxxtentacion para explicar o estouro deste rap mais arrastado e soul. "Trap é a música da molecada. E o que a galera jovem ouve é que vai ser ouvido".

"Vejo Raffa Moreira e Matuê fazendo sucesso pra c... mas a grande mídia não conhece. A energia de show parece a do hardcore de 10 anos atrás. As pessoas batem cabeça, tem mosh. É mais visceral. É um grito jovem".

Gee Rocha, ex-guitarrista do NX Zero, começou a produzir a partir do álbum "Projeto Paralelo", de 2010. Baixou o software Logic e "entrou de cabeça".

Hoje, grava pelo menos uma ideia de música por dia. De cada dez rascunhos, um vira algo mais elaborado. "Acabo usando para trilha de filme, comercial".

Ainda no NX, o primeiro trabalho como produtor foi em 2012, o álbum de estreia de Ivo Mozart, autor dos hits "Vagalumes" e "Energia Surreal", esse de Thiaguinho.

"Comprei um computador com Ntrack e gravava ideias. É meio pegar referência e tentar fazer igual, depois você acaba tendo mais personalidade".

Em janeiro de 2017, criou o Caverna Studios. Com dois sócios, produz "para artistas do R&B, rap e pop". A lista tem gente no começo da carreira como Luccas Carlos, Matuê, MC Lan e Matheus Queiroz.

Gabriel Dassisti e Gee Rocha abraçam Luccas Carlos — Foto: Divulgação

"É muito louco. Minha vida mudou e não me imaginava conhecendo mais o lado do rap. Fico feliz, me acrescentou na cabeça como pessoa."

Ele aprendeu tudo sem aulas: "Quando fui ver estava mexendo no Prootols, tudo de brincadeira. Eu ia acrescentando camadas e criando".

Gee fala com carinho de seus primeiros equipamentos: "Eram dois monitorzinhos, um computador e uma placa de áudio. O importante é a ideia, os 'skills' vão melhorando com o tempo".

"Há 15 anos, muita gente precisava de banda... A criação era do zero. Hoje, qualquer pessoa que tiver um pouquinho de técnica pode criar. Você tem banco de músicas para comprar... Com vontade, consegue tudo".

Além do pop

Lucas Silveira, do Fresno, produz novo disco do Capital Inicial, de Dinho Ouro Preto — Foto: Divulgação/Bruno Trindade/b+ca

Líder do Fresno, única banda emo desta reportagem ainda na ativa, Lucas Silveira tem currículo menos pop. Costuma trabalhar com bandas de rock veteranas. Já compôs para o Skank e levou para seu estúdio RPM e Capital Inicial.

"Eu vejo esse momento emocore como uma adolescência musical de muitas pessoas, incluindo o público do rock: foi a porta de entrada para o som de guitarra, baixo e bateria".

Lucas, de 32 anos, lembra que começou a tocar ouvindo mais pop punk e hardcore. "A gente se permitiu envelhecer a nossa música sem renegar o passado e o público envelheceu junto".

Mesmo no auge do Fresno, ele tinha projetos paralelos e escrevia para outros. "Mas de um ano para cá ficou mais sério, produzo tudo quanto é artista. Passei a ser visto como produtor pela galera, antes só era o cara do Fresno".

Mesmo assim, a maior parte da agenda é destinada à banda. Ele produz de segunda a quinta e faz shows nos finais de semana. "Mas sem o frissom da superexposição".

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