Dado Villa-Lobos (à esquerda), André Frateschi (ao centro) e Marcelo Bonfá no show 'A V estações' na Arena Jockey, no Rio de Janeiro — Foto: Lucas Landau / Divulgação
♪ OPINIÃO – “Que show, Rio de Janeiro!”, saudou o cantor André Frateschi no palco da Arena Jockey, quase ao fim da última apresentação carioca da turnê As V estações, show com o qual Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá rodam o Brasil desde maio.
O comentário do cantor aludia à catarse popular observada na noite de sábado, 2 de dezembro, no show em que Dado Villa-Lobos (guitarra e voz) e Marcelo Bonfá (bateria e voz) – músicos remanescentes da Legião Urbana – revisitaram no Rio de Janeiro os repertórios dos cinco primeiros álbuns de estúdio da banda brasiliense, com ênfase nos cancioneiros de As quatro estações (1989) e V (1991).
“Essa noite não passará”, sentenciaria Frateschi, instantes depois. O êxito desta terceira turnê criada por Dado e Bonfá para celebrar a discografia da Legião Urbana – a primeira chegou à cena em 2015 para festejar os 30 anos do primeiro álbum da banda, Legião Urbana, lançado em janeiro de 1985 – mostra que as músicas é que jamais passam.
Ficou claro na apresentação carioca de As V estações que – sobretudo no universo do rock, onde virtuosismos vocais são dispensáveis – os cantores podem até passar, mas ficam as canções.
No palco da Arena Jockey, o carismático Frateschi reiterou o talento para ocupar o posto de vocalista da banda, desempenhando com habilidade o papel de Renato Russo (27 de março de 1960 – 11 de outubro de 1996) ao lado de Dado, Bonfá, Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (baixo e direção musical) e Pedro Augusto (teclados).
Desde a primeira música, Há tempos (Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo, 1989), cantada a plenos pulmões, pairou uma força estranha no ar da Arena Jockey.
Não se tratava de uma banda cover porque Dado e Bonfá – músicos originais do grupo e também compositores, parceiros de Russo na maior parte do repertório – estavam ali, mantendo hasteadas as bandeiras levantadas pela Legião Urbana, ainda que (injustamente) proibidos pela Justiça de se apresentarem oficialmente como integrantes da banda da qual sempre fizeram parte, de 1982 a 1996.
Ao mesmo tempo, havia a ausência de Renato Russo, o líder inconteste e o mentor espiritual dessa banda que, por meio das letras de Russo, pregou amor e ética nas esferas pública e privada.
Músicas como Meninos e meninas (Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo, 1989), Pais e filhos (Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo, 1989) – outro momento catártico da apresentação, quase ao fim do show – e Monte Castelo (Renato Russo, 1989) carregam a mensagem de Russo. E a mensagem foi passada, como resumiu Frateschi no arremate do espetáculo.
Ouvir o vocalista disparar um “Viva Renato Russo!” ao fim do show é estranho porque, por mais que a saudação soe sincera, fica a impressão de que o show nunca pode parar. Se o vocalista morreu, basta pôr outro no lugar e cair na estrada que o público virá ao show.
E o público está vindo mesmo ver As V estações, atraído pela força de canções atemporais, das mensagens de uma banda que alcançou caráter messiânico. E que ninguém atire pedras em Dado, Bonfá ou Frateschi!
Como o próprio Renato Russo escreveu na letra de Vento no litoral (1991), outra parceria de Dado e Bonfá revivida no show, “A vida continua e se entregar é uma bobagem / Já que você não está aqui / O que posso fazer é cuidar de mim”.
Pedro Augusto (à esquerda), Dado Villa-Lobos, André Frateschi, Marcelo Bonfá, Mauro Berman e Lucas Vasconcellos no fim do show 'As V estações' no Rio — Foto: Lucas Landau / Divulgação