Arthur Nogueira inclui regravação de 'Dois durões (Lagoa)', de Marina Lima, no lote de músicas majoritariamente autorais do EP 'A vida não é bela' — Foto: Ana Alexandrino / Divulgação
Capa do EP 'A vida não é bela', assinado por Arthur Nogueira com Lucca Simões — Foto: Arte de Fernanda Vaidergorn
Resenha de EP
Título: A vida não é bela
Artista: Arthur Nogueira
Edição: Edição independente do artista
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ “Solidão / É bater o copo na garrafa / Só para não dar / O primeiro gole / Sem brindar”, conceitua Arthur Nogueira ao dar voz aos versos poéticos de As solidões, primeira parceria do artista paraense com a poeta e letrista Alice Ruiz.
Composta por e-mail, durante o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19, As solidões é a melhor música do lote de composições gravadas por Nogueira no EP A vida não é bela com o toque minimalista da guitarra de Lucca Simões, compositor e multi-instrumentista de São Paulo (SP).
Nogueira assina com Simões o disco que chega ao mundo na próxima sexta-feira, 27 de outubro, em edição independente do artista com distribuição feita via Believe Music e com capa que expõe arte de Fernanda Vaidergorn.
Em A vida não é bela, Arthur Nogueira em essência poetiza e canta tristezas e solidões na imersão melancólica que gerou o EP gravado entre São Paulo (SP) e Belém (BA) neste ano de 2023, com arranjos, mixagem e masterização de Lucca Simões.
Além de Alice Ruiz, Nogueira abre parceria com Orlando Morais, compositor goiano projetado em 1990. Com Orlando, o artista assina História de viver, canção que fecha o EP, ecoando a tristeza e solidão da alma do poeta através de versos como “Morro de amor / Sem medo de morrer / Saudade é sempre agora / Ficar ou ir embora / É sempre a mesma história / De viver”.
Em História de viver, assim como em As solidões e em A vida não é bela, os vocais de Lucca Simões acentuam o clima melancólico entranhado no disco.
A propósito, a música-título A vida não é bela (Arthur Nogueira, 2022) parece ter encontrado o veículo ideal na voz grave, encorpada e afinada do autor um ano após ter sido apresentada por Fernanda Porto no álbum Contemporâne@ (2022) em gravação menos imponente no conjunto da obra da artista.
Única composição fora da seara autoral de Arthur Nogueira, Dois durões (Lagoa) é canção com pretensa bossa da lavra de Marina Lima, tendo sido gravada pela autora no esmaecido álbum Setembro (2001). Significativo até pelo fato de o poeta e compositor paraense ser parceiro de Antonio Cicero, letrista dos maiores sucessos de Marina, o registro de Arthur Nogueira embute récita de depoimento de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) sobre a artista.
É bossa de EP em que, dois anos após o oscilante álbum Brasileiro profundo (2022), Arthur Nogueira se reencontra com mais vigor e coesão no reino musical das palavras em promissor elo com o guitarrista Lucca Simões.