Ed Boon comenta novo 'Mortal Kombat 1' e chance de lutador brasileiro na série
"Mortal Kombat 1", décimo segundo jogo da série clássica de jogos de luta, é um recomeço para a franquia – se é que o título já não serviu como pista.
Mesmo assim, não dá para chamar de reboot o game lançado para o público geral nesta terça-feira (19) para PlayStation 5, Nintendo Switch, Xbox Series X/S e computadores.
Afinal, por mais que apresente um novo início para a história do torneio mortal entre guerreiros de diferentes mundos, "Mortal Kombat 1" é a conclusão lógica de uma mitologia evoluída – às vezes sem muito controle – nos últimos 30 anos.
"Com cada jogo de 'Mortal Kombat', na maior parte do tempo nós apresentávamos um novo vilão que era mais poderoso que o último", começa a explicar um dos criadores da série, Ed Boon, em entrevista ao g1 durante passagem pelo Brasil. Assista ao vídeo acima.
"Quando você faz isso onze vezes em algum momento você percebe: 'Ok, acho que chegamos ao teto de quão poderoso um vilão pode ser'."
'Mortal Kombat 1' — Foto: Divulgação
Mortal Kombat segundo Liu Kang
Apesar de algumas novidades em modos de jogo, "Mortal Kombat 1" segue o exemplo dos bem recebidos "Mortal Kombat X", de 2015, e "Mortal Kombat 11", de 2019. Ou seja, foca em aperfeiçoar as lutas ao mesmo tempo em que desenvolve a narrativa.
Na campanha, o jogador assume o controle de diferentes jogadores no mundo recriado por Liu Kang, antigo protagonista da série que ganhou poderes divinos ao final do último game. Com isso, este 12º game traz versões diferentes de lutadores clássicos, como Sub-Zero, Scorpion, Raiden e Shao Kahn.
"Foi uma história de 30 anos, em relação ao arco de Liu Kang. Então, essa era ele como um humano que se torna um deus. Pensamos: 'Ok, agora é uma boa hora para contar o universo que Liu Kang fez'", diz Boon.
"Começamos pelo big bang, e pegamos o Raiden, que era um deus, e fizemos dele o homem comum. Essa troca foi uma mudança muito interessante."
A exemplo dos antecessores, a campanha mantém o público mais preso nos trilhos da trama, com sequências cinematográficas que às vezes lembram mais um filme que um game.
"Isso é algo que divide a equipe. Sempre debatemos muito quanto tempo o jogador deve esperar até poder lutar. Eu sou mais do lado do menor tempo possível. Por outro lado, é preciso tempo para desenvolver a história."
'Mortal Kombat 1' — Foto: Divulgação
Dos quatro às centenas
Além da campanha, o novo "Mortal Kombat 1" introduz o modo Invasões, no qual o jogador viaja por cenários em uma estrutura parecida à de um jogo de tabuleiro e enfrenta diferentes lutadores em cada casa.
Os personagens usados podem ser modificados a qualquer momento entre as batalhas, e elas fornecem moedas, itens com diferentes atributos e experiência.
Pode parecer um tanto repetitivo, e com o tempo inevitavelmente fica assim, mas é uma maneira inventiva para incentivar os usuários a testarem novos lutadores e enfrentarem adversários diferentes.
Outra novidade são os "kameos", parceiros de luta escolhidos pelo jogador em um elenco que não é exatamente jogável, mas com personagens que podem ser convocados esporadicamente para ajudar nos confrontos.
Entre eles, clássicos como Sonya Blade e Kano, que estavam presentes no primeiro jogo da série, lançado para fliperamas em 1992.
Desde então, a violência e o sangue que foram tão criticados se tornaram marca registrada da série. E a equipe de desenvolvimento passou de 4 pessoas, entre elas Boon, para mais de cem.
"Éramos todos caras em seus 20 anos. Então, crescemos com filmes como 'O grande dragão branco', 'Operação dragão', 'O Exterminador do Futuro', 'Robocop', 'Aliens'. Todos lançados na época. Nós só pegamos todas as coisas que amamos no filme e colocamos em um jogo", diz Boon.
"Conforme os jogos e a tecnologia avançaram, pudemos fazer coisas cada vez mais loucas. Acho que essa foi a evolução natural da nojeira que colocávamos nos games."
A 'Tanya Funkeira' de 'Mortal Kombat 1' — Foto: Divulgação
Um brasileiro no kombat?
Sucesso nos fliperamas, o primeiro "Mortal Kombat" chegou aos consoles em 13 de setembro de 1993, há pouco mais de 30 anos.
Até por isso é curioso a presença de Boon no Brasil em uma época tão conturbada para a franquia. Alguns dias depois de uma data importante, e a menos de uma semana do lançamento geral de seu novo e mais ambicioso jogo.
"Quando vim ao Brasil há muitos anos, eu até sabia que o Brasil gostava de 'Mortal Kombat', mas na verdade percebi que era dez vezes mais do que eu imaginava. O país é um dos nossos maiores mercados", explica o programador de 59 anos.
"Sempre senti uma conexão com o Brasil. Então, sempre imaginei que, se eles gostam tanto de 'Mortal Kombat', eu deveria ir lá celebrar esse lançamento com eles."
Em 2017, durante uma das últimas passagens pelo país, Boon havia prometido que a série poderia ganhar um personagem verde e amarelo em breve – depois de "fantasias" que davam aos lutadores um pouco da personalidade brasileira, como o "Kung Lao gaúcho".
Após seis anos, os fãs viram outros anúncios do tipo, como o "Kano cangaceiro" de "Mortal Kombat 11" ou a "Tanya funkeira" do novo game, mas nada de um personagem nascido no país.
Mais uma vez, o americano promete que é questão de tempo.
"Nós tivemos conversas. Fico hesitante de compartilhar, só porque se algo mudar não quero decepcionar ninguém, mas nós definitivamente temos ideias", conta Boon.
"Muita coisa aconteceu durante a pandemia que afetou muitas de nossas decisões, mas nós vamos fazer isso acontecer. Eu gostaria de poder dar a vocês uma previsão de tempo, mas nós absolutamente não esquecemos dos jogadores brasileiros e de representá-los.".
"Provavelmente vai ser um personagem novo, que vamos introduzir, e isso significa entrelaçá-lo na história. Há muitos passos a tomar."