A Terra Média, criada nos livros DE J.R.R. Tolkien e levada aos cinemas por Peter Jackson, volta ao cinema com "O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim", que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (5). Trata-se de uma animação que visa encantar os fãs de longa data e os novatos neste universo épico.
A escolha do estilo se mostra bastante eficaz em satisfazer e encantar com um ótimo trabalho técnico, bons personagens e um ritmo intenso que prende a atenção do começo ao fim da história. A trama narrada por Éowyn (Miranda Otto), que se destacou em "As Duas Torres" e "O Retorno do Rei", é ambientada 183 anos antes dos eventos ocorridos nas duas trilogias de filmes anteriores. Ou seja, nada de Frodo, Aragorn, Gollum, ou outros personagens populares.
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Em compensação, o espectador vai acompanhar a saga da Casa de Helm Mão-de-Martelo, Rei de Rohan (dublado por Brian Cox, da série "Succession"). Ele vive com seus filhos Haleth (Benjamin Wainwright), Hama (Yazdan Qafouri) e Héra (Gaia Wise).
Os problemas começam quando ocorre um ataque inesperado de Wulf (Luke Pasqualino), lorde do povo Dunlending. Ele deseja vingança por não conseguir se casar com Héra e pela morte do pai. Isso força Helm e seu povo a tentar se proteger numa antiga fortaleza chamada Hornburg. Mais tarde, ele se tornará o Abismo de Helm, local de um dos momentos mais marcantes de "O Senhor dos Anéis: As Duas Torres";
Com o avanço cada vez mais feroz de Wulf, Héra vê que não tem escolha a não ser ajudar a liderar uma resistência contra seu ex-amigo de infância, antes que tudo que faz parte de seu mundo seja destruído de forma definitiva.
Força e honra
A primeira coisa que chama a atenção em "O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim" é no estilo adotado para fazer a animação. O diretor Kenji Kamiyama, de séries animadas como animadas “Blade Runner: Black Lotus” e “Ghost in the Shell: Stand Alone Complex”), resolveu adotar um estilo anime, que é bastante popular em produções japonesas e conta com fãs pelo mundo inteiro.
Héra enfrenta o vilão Wulf numa cena de 'O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim' — Foto: Divulgação
Quem não está habituado a assistir desenhos neste formato pode até estranhar num primeiro momento. Em pouco tempo, porém, isso deixa de ser um problema graças ao ótimo trabalho do cineasta e sua equipe em desenvolver essa história.
Mas Kamiyama não se vale apenas de animação tradicional. Ele insere elementos de computação gráfica de uma maneira que fica harmoniosa, sem soar artificial ou apelativo, o que eleva a qualidade do resultado final. Além disso, enchem os olhos os detalhes mínimos dos cenários, em especial os interiores dos castelos, e dos figurinos dos personagens criados para o filme e que parecem ter sido pintados a mão. É um trabalho meticuloso e digno de atenção.
Outro destaque do filme está no roteiro assinado por oito mãos e que contou com a colaboração de Philippa Boyens, que também produziu a trilogia de Peter Jackson. O texto é bem escrito e desenvolve bem os personagens. Eles mostram uma humanidade que não fica nada a dever para uma produção com atores.
O exército se prepara para atacar seus inimigos numa cena de 'O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim ' — Foto: Divulgação
O espectador pode se pegar preocupado com o destino dos protagonistas devido aos conflitos, problemas e angústias que precisam lidar, em especial a protagonista Héra. Mesmo com algumas falhas, ela conquista o espectador com sua coragem. Até mesmo o vilão Wulf vai além da caricatura dos antagonistas que geralmente vemos em outras produções.
Além disso, o roteiro é eficaz em colocar referências que vão se ligar a personagens e tramas que só vão acontecer nos filmes comandados por Peter Jackson. Ele assina como um dos produtores executivos do longa. Quem for profundo conhecedor tanto de seus filmes quanto dos livros do Tolkien vai se divertir ainda mais.
A trilha sonora assinada por Stephen Gallagher pega temas criados por Howard Shore para a trilogia de filmes, mas tem sua própria identidade. As músicas que tocam nas cenas de batalha são muito boas e ajudam a criar um clima de empolgação com essas sequências.
O rei Helm Mão-de-Martelo e seus filhos numa cena de 'O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim' — Foto: Divulgação
Se há um ponto negativo a apontar em "O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim" seria sua duração. O filme tem duas horas e 14 minutos de duração, o que pode cansar um espectador desavisado. Mas quem conseguir se transportar para a Terra Média não deve sentir o tempo passar.
O elenco de dubladores não é recheado de grandes estrelas. Apenas Brian Cox e a dupla Billy Boyd e Dominic Monaghan, que viveram Merry e Pippin nos primeiros três filmes e aqui fazem as vozes de outros personagens, são nomes mais conhecidos. Mas todos fazem um ótimo trabalho vocal.
No final das contas, mostrar outras aventuras no universo criado por Tolkien por meio de uma animação se revelou uma boa ideia. Se "O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim" for bem sucedido e encontrar público, não deve demorar para que novas histórias cheguem a ser produzidas neste formato.
Cartela resenha crítica g1 — Foto: g1