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Por Cesar Soto, g1

Não há nada de errado em fazer um filme divertido, épico e violento, mas mediano. O mundo seria um lugar melhor com mais obras do tipo. "Gladiador 2" é tudo isso – mas, como continuação de um ganhador de cinco Oscars, sofre com a inevitável comparação.

Por sorte, a grande estreia desta quinta-feira (14) nos cinemas brasileiros conta com o brilho e a genialidade de Denzel Washington. A atuação incrível e anacrônica do astro quase justifica sozinha a existência da sequência.

O filme não tem o retorno do herói carismático de Russell Crowe, claro. Não tem o vilão esquisito na dose certa de Joaquin Phoenix. E não tem o roteiro equilibrado que recebeu uma indicação da Academia. Mas tem o diretor lendário Ridley Scott.

Isso ainda conta para alguma coisa. Aos 86 anos, o britânico mostra que continua a ser um dos mestres das cenas grandiosas de ação. 24 anos depois de um clássico, no entanto, não é exatamente o bastante.

Em especial, na direção de um roteiro novelesco que aceita se encaixar na onda de continuações-décadas-depois-que-meio-que-servem-de-sequências-mas-ao-mesmo-tempo-são-quase-refilmagens (da qual "Star Wars: O despertar da Força" é um dos maiores exemplos).

Assista ao trailer de "Gladiador 2"

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Entretidos, mas não muito

Em "Gladiador 2", o protagonista passa para as mãos de Paul Mescal ("Aftersun"). É difícil determinar o que pode ser considerado um "spoiler", já que o próprio filme constrói a identidade verdadeira do personagem como uma grande revelação.

Por isso, mesmo que a sinopse entregue grande parte do mistério, vale dizer apenas que o herói da vez tem ligação pessoal com a história do primeiro filme.

Por uma das muitas coincidências convenientes do roteiro, o jovem guerreiro é capturado logo no começo da trama e se torna também um gladiador. Levado para o Coliseu, se torna um ídolo relutante e de poucas palavras, envolvido em uma grande conspiração que pode determinar o renascimento ou a queda do Império.

Um dos jovens astros em franca ascensão em Hollywood, o irlandês de 28 anos até convence como gladiador turrão. Infelizmente, recebe dos autores um protagonista que nunca conquista de fato sua liderança, no campo de batalha ou na arena.

Paul Mescal em cena de 'Gladiador 2' — Foto: Divulgação

Mescal até pode alcançar o tamanho de Crowe um dia – mas seu Lucius está longe dos pés de um Maximus.

No poder, como ecos aguados do imperador bizarro do primeiro filme, gêmeos (Joseph Quinn e Fred Hechinger) esquisitos com um quinto do charme de seu antecessor. Caricatos e rasos, querem apenas sangue e conquistas enquanto o povo passa fome nas ruas.

Sua existência é a maior incongruência de "Gladiador 2". Por causa da dupla, o plano do verdadeiro vilão (Washington) é na verdade a única coisa que faz sentido de verdade no enredo – o que, por sua vez, grita em contraste com a narrativa.

Em nenhum momento, o roteiro se preocupa em dar ao público uma razão verdadeira pela qual torcer contra o antagonista, ou, pelo menos, pela manutenção do Império Romano.

Fred Hechinger, Pedro Pascal e Joseph Quinn em cena de 'Gladiador 2' — Foto: Divulgação

Treinamento em Roma

Washington, pelo menos, vale o ingresso. Enquanto todos levam a sério demais seu épico de milhões de dólares, continuação de um dos grandes clássicos das últimas décadas, o astro claramente se diverte – e que prazer é assistir a um dos maiores se divertir.

Sem sotaques ou preocupações com precisões históricas, o vilão do ator lembra mais uma versão de toga e brincos dourados do detetive corrupto de "Dia de treinamento" (2001), que lhe rendeu o Oscar de melhor ator.

Mais do que um "Gladiador 2", o filme se beneficiaria muito mais se assumisse logo a fantasia de "Alonzo treina Roma" e deixasse Washington solto para tacar o terror no Império com um pupilo inexperiente e seu Monte Carlo preto.

Cartela resenha crítica g1 — Foto: g1

Denzel Washington em cena de 'Gladiador 2' — Foto: Divulgação

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