Trailer de 'Moana - Um mar de aventuras'
Não é de hoje que a Disney tenta adequar seus personagens a uma sociedade em que igualdade e diversidade são palavras mais em voga do que nunca. No quesito princesas, tornou-as mais fortes, corajosas e independentes de “Pocahontas” (1995) a Elsa (“Frozen”, 2013), passando por “Mulan” (1998), Tiana (“A princesa e o sapo”, 2009) e Merida (“Valente”, 2012). Muitas, porém, mantiveram aspectos da época das donzelas em apuros, com vestidões e a devoção aos seus príncipes.
“Moana”, aposta do estúdio para o início de 2017, chega nesta quinta-feira (5) ao Brasil para consolidar essa mudança. Filha do chefe de uma tribo polinésia, ela é uma princesa incomum em um filme que brinca com a mesmice do gênero. Maui, um herói meio sem escrúpulos, resume o espírito ao zoar a companheira de aventuras: “Se você usa um vestido e tem um bichinho, então você é uma princesa”.
A protagonista até usa vestidos, mas eles em nada lembram os tecidos volumosos de sempre. Seu bichinho de estimação não é um pássaro cantante ou uma coelhinha graciosa, mas um galo mudo e medroso. Moana também não faz o tipo Barbie. Seus braços e pernas, mais cheinhos do que de costume, foram desenhados para que ela realmente parecesse capaz de enfrentar o oceano. Para completar, não há nada – nada mesmo – que se assemelhe a um interesse romântico na história.
Moana e Maui em cena do filme — Foto: Divulgação
Navegar é preciso
Uma adolescente de 16 anos e futura chefe de seu povo, a princesa concentra suas atenções na missão de salvar a ilha onde vive de uma terrível maldição. Ela é escolhida pelo próprio oceano para devolver o coração da deusa Te Fiti, que foi roubado por Maui, um semideus. Em sua aventura pelo mar, uma espécie de rito de passagem, ela vê crescer sua independência e consciência sobre suas raízes.
Maui, por sua vez, passa de descompromissado e egoísta a herói arrependido ao ajudar a garota a cumprir seu objetivo. Interpretado na versão em inglês por Dwayne Johnson, ele é inspirado em uma das principais figuras lendárias da mitologia polinésia e sua exploração comercial causou polêmica no Pacífico. Sua representação como figura corpulenta é encarada como uma perpetuação de estereótipos, mas o carisma do personagem compensa qualquer clichê.
Repletas de outras referências à mitologia local, as motivações de Moana parecem, por vezes, subjetivas demais, o que faz o roteiro se perder em alguns momentos da travessia da heroína. Além da meta de manter a ilha viva, sua missão está ligada à busca por ancestrais e a uma relação conflituosa com o pai. Por outro lado, a execução requintada, com efeitos visuais impressionantes, ajuda a manter a atenção na trama.
Maui em cena do filme — Foto: Divulgação
Oscar à vista?
A isso, somam-se os ótimos números musicais, talvez maiores trunfos do filme, que podem render prêmios no Oscar e Globo de Ouro. A trilha tem canções escritas por Lin-Manuel Miranda, responsável pelo fenômeno musical “Hamilton”, da Broadway, e Mark Mancina, que compôs para “O rei leão” (1994) e “Irmão urso” (2003). “How far I'll go", música tema da protagonista, é grudenta como muitos hits pop (ouça aqui).
Depois de um lançamento bem-sucedido nos Estados Unidos, "Moana" promete navegar às primeiras colocações do ranking também no Brasil. Mas, ainda maior que os números, é o simbolismo da produção em uma indústria que constrói modelos e valores no imaginário infantil. Nesse sentido, a princesinha polinésia já nasce como um marco.
Moana criança em cena do filme — Foto: Divulgação
O galo Heihei — Foto: Divulgação
Moana e sua avó, Tala — Foto: Divulgação