Cinema

Por Célio Silva, G1 — Rio de Janeiro

O conceito de "filme família" foi levado a um outro nível pela Disney com "Encanto", ao focar sua história não apenas em uma personagem, no caso a protagonista Maribel. Mas também por dar um espaço para desenvolver (muito bem) os outros integrantes da Família Madrigal.

Esssa ideia já torna a proposta desta animação mais interessante do que as mais recentes lançadas pelo estúdio do Mickey. O filme estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (25).

Em "Encanto", somos apresentados à Família Madrigal, que vive numa cidade nas montanhas da Colômbia cujo nome dá título ao filme.

No passado, a líder da família, a Abuela Alma (no original, voz de María Cecilia Botero), foi uma das responsáveis pela criação do local graças a uma vela mágica que nunca se apaga. Ela dá poderes a cada um de seus integrantes após um ritual e é responsável por tornar a casa, carinhosamente chamada de Casita, algo que vive e pulsa, como mais um membro do clã.

Assista ao trailer do filme "Encanto"

Assista ao trailer do filme "Encanto"

Assim, temos Luisa (Jessica Darrow), uma moça superforte; Isabela (Diane Guerrero, de "Orange is the new black"), que chama a atenção pela beleza e o poder de criar flores; Bruno (John Leguizamo), que pode ver o futuro, e por aí vai.

Mas Mirabel (Stephanie Beatriz, de "Brooklyn Nine-Nine" e "Em um bairro de Nova York") é a única da família que não tem poder. Embora ame seus parentes, sente-se posta de lado por todos, principalmente pela Abuela, e procura ser mais reconhecida por eles.

Só que Mirabel é a única que começa a perceber que há algo de errado com a magia, que parece estar perdendo sua força. Assim, ela tenta descobrir o que está realmente acontecendo em Encanto.

Ela precisa fazer isso antes que sua família sofra as consequências, mesmo sem ter poder nenhum, ao mesmo tempo que desvenda os mistérios relacionados ao passado dos Madrigal.

Colômbia deslumbrante e surreal

"Encanto" é uma animação com muitas luzes e cores — Foto: Divulgação

Com visual estonteante, a animação é dirigida por Byron Howard e Jared Bush (dupla do vencedor do Oscar "Zootopia"), além de Charise Castro Smith (que escreve o roteiro com Bush). Há um festival de cores para mostrar uma Colômbia que arrebata os olhos e ajuda a criar um país lindo, ainda que fora da realidade.

Assim, temos animais com cores diferentes e pouco vistos em territórios colombianos, como capivaras (o que fez muita gente acreditar que a animação iria se passar no Brasil), onças pintadas e tucanos, além da vegetação exuberante.

Outro elemento a ser destacado é a computação gráfica cada vez mais realista para certos movimentos dos personagens, além de suas texturas de pele, que deixam visíveis, por exemplo, as imperfeições dos rostos de forma tão nítida que impressiona. Com tanto apuro visual, fica difícil não se envolver com o universo de "Encanto".

A Grande Família

Família de "Encanto" possui incríveis poderes — Foto: Divulgação

O que torna "Encanto" uma animação muito bem-sucedida está na própria Família Madrigal. Seus integrantes cativam não só pelos incríveis poderes que possuem, mas pela maneira que interagem entre si.

Essa interação faz com que o público seja cúmplice deles e se preocupe com eles. O filme espertamente trata isso de uma forma leve e atraente, nos momentos mais cômicos e nos mais complexos.

Mirabel, que sofre por não ter dons especiais como seus outros parentes, conquista o coração do espectador já em suas primeiras cenas. Afinal, a jovem se mostra uma boa pessoa, divertida, disposta a ajudar não só sua família, mas os outros moradores de Encanto.

Mirabel, protagonista de "Encanto", sofre por não ter poderes como o resto da família — Foto: Divulgação

A relação dela com os outros membros da família alterna momentos divertidos, como com os pais e alguns de seus tios, com outros mais densos, em especial com a Abuela ("avó" em espanhol).

O roteiro se propõe a discutir questões que são comuns a qualquer família, como a preferência de um integrante em relação a outro, ou evitar assuntos para que não haja discussões ou o fim da paz familiar, mesmo que ela seja construída a partir de segredos ou meias-verdades.

Vale destacar que "Encanto" se diferencia das animações recentes por centrar sua história toda basicamente dentro do vilarejo da trama.

Desta vez, a protagonista não precisa fazer uma jornada para outro lugar para resolver alguma questão. A "jornada da heroína" fica centrada em seu próprio lar e nunca fica desinteressante, muito pelo contrário.

Música para bailar

Maribel ajuda a preparar uma festa da família em "Encanto" — Foto: Divulgação

Porém, o que mais se destaca mais do que a parte técnica ou a história em "Encanto" é a incrível trilha sonora assinada por Lin-Manuel Miranda, que já compôs músicas de "Hamilton" e "Moana" para a Disney.

Quem gosta (e até quem não gosta) de musicais vai curtir as canções criadas por Miranda (que lançou "Tick Tick... Boom!" recentemente), por serem empolgantes e bem inseridas na história.

As músicas ajudam a contar a história dos personagens e o que eles estão sentindo. Dois bons exemplos são a canção "The Family Madrigal", que aparece logo no início do filme, e "What Else Can I Do?", que mostra os conflitos de uma das personagens.

Antônio, da Família Madrigal, pode falar com animais — Foto: Divulgação

A música traz características da cultura colombiana para o espectador de maneira instigante. Certamente, vai ter muita gente cantarolando as canções após a sessão ou criando playlists para ouvir em casa.

Com ótimas piadas e desfecho emocionante, "Encanto" tem tudo para ficar no coração de quem é fã de uma boa animação.

Dá até para imaginar uma versão teatral do desenho, como aconteceu com "A Bela e a Fera" ou "O Rei Leão". Mas enquanto isso não ocorre, vale se divertir com Maribel e sua mágica família no cinema mesmo.

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