Rami Malek interpreta Freddie Mercury em 'Bohemian Rhapsody' — Foto: Divulgação
“Bohemian Rhapsody” rouba o nome da balada operística do Queen, mas lembra mais outro sucesso da banda britânica. Assim como “We are the Champions”, a cinebiografia que estreia no Brasil nesta quinta-feira (1º) tem um quê de piegas, repete chavões de seu gênero, mas mesmo assim emociona. Quando tocado alto o suficiente e na ocasião certa.
O filme foca na vida de Farrokh Bulsara, jovem com dentes esquisitos nascido na Tanzânia. É sobre como ele se transformou em um dos maiores astros do rock do mundo sob o nome de Freddie Mercury (Rami Malek, de “Mr. Robot”), após conhecer o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor, que tinham perdido o vocalista cinco minutos antes.
Se o parágrafo anterior parece corrido é porque o filme é assim: uma sucessão de acontecimentos "atropelados". É como se a formação do Queen – e seu sucesso – fosse isso, uma sequência de sorte, providência divina e frases de efeito. Quem espera uma explicação mais detalhada do sucesso do grupo não vai encontrá-la em “Bohemian Rhapsody”.
'Bohemian Rhapsody': Assista ao trailer
Mas o que não falta são momentos marcantes da história da banda. O show clássico no Live Aid de 1985 é reproduzido quase na íntegra em seu final. A performance faz com que o filme seja quase obrigatório de ser visto na maior tela possível. E até a performance no Rock in Rio do mesmo ano (mostrada um pouco fora de ordem cronológica, mas com destaque) é lembrada.
Climão nas filmagens
Toda essa celebração, somada ao roteiro com diálogos repletos de lugares-comuns e edições batidas com letreiros de localização voando pela tela, dão um tom de filme feito para a TV. Nada de errado com isso propriamente, mas o Queen merecia mais.
Considerando os conflitos do diretor Bryan Singer (“X-Men: Apocalipse”) com Malek e o resto do elenco, que resultaram na substituição do cineasta por Dexter Fletcher (“Voando alto”), o resultado sai até melhor que o esperado.
Com o lançamento em 2019 de “Rocketman”, biografia de Elton John dirigida por Fletcher, quem sabe o público consiga algumas respostas.
Malek dá todo o seu suor para interpretar Freddie, e consegue evitar na maior parte do tempo que os trejeitos do vocalista se tornem exagerados. Mas às vezes a prótese para simular sua dentição é mais distração do que ferramenta.
Além dele, o resto da banda – interpretada por Ben Hardy (“X-Men: Apocalipse”), Gwilyn Lee (com uma carreira em séries britânicas) e Joseph Mazzello (o garotinho de “Jurassic Park”!) – também supera as dificuldades de interpretar figuras tão marcantes, apesar de relegadas a meros coadjuvantes de sua própria história.
Rami Malek interpreta Freddie Mercury em 'Bohemian Rhapsody' — Foto: Divulgação
E a vida pessoal de Freddie?
Quem se preocupava com a vida pessoal de Freddie e sua orientação sexual pode ficar um pouco tranquilo, mas não muito. “Bohemian Rhapsody” cria bom equilíbrio entre seu casamento/amizade com Mary Austin (Lucy Boynton), considerada pelo cantor como o amor de sua vida, e sua homossexualidade.
No entanto, por acabar cronologicamente em 1985, deixa de fora quase todo o relacionamento com Jim Hutton, com quem o cantor passou os últimos dias de sua vida.
Com isso, os momentos mais emocionantes do filme ficam reservados para cenas entre o vocalista e suas duas famílias. A revelação da Aids para o resto da banda, seguida pelo abraço de aceitação de seu pai após conhecer Hutton, mostram finalmente que Freddie não precisa temer a solidão, um dos grandes vilões da história.
“Bohemian Rhapsody” poderia ser um grande filme. Bastava tomar emprestado um pouco da imprevisibilidade genial da canção da qual pega o título emprestado. Os fãs teriam uma produção mais fiel ao espírito de Freddie e da banda, e não só um filme remendando um monte de ocasiões marcantes do Queen.
Rami Malek interpreta Freddie Mercury em 'Bohemian Rhapsody' — Foto: Divulgação