Aventuras na redessocialândia! (Ou, como diria o Rei: 'Quero ter 1 milhão de amigos')
Até meio envergonhado, tenho que admitir que eu não achei que fosse ser tão divertido. Nos últimos anos, mais de uma vez pensei em entrar em uma rede social e hesitei. Os relatos que vinham de pessoas próximas não eram animadores.
Havia, claro, a facção dos que pregavam que a vida não fazia mais sentido sem a rede social. Outra fatia dos meus relacionamentos (físicos, não virtuais) mostrava-se dividida. Uns gostavam da interação, mas não da demanda constante de estar conectado (um efeito colateral da rede social que causa grave dependência e potencializa a tristeza de quem já tem uma queda para se sentir carente). E uma parte pequena dos amigos, mesmo usando-as pesadamente, não poupavam críticas, quase sempre se colocando numa posição contraditória: ao mesmo tempo que afirmavam que não queriam encontrar amizades (e/ou amores) que ficaram perdidos no pátio da escola, comemoravam um ou outro encontro furtivo que as redes sociais permitem.
De longe, eu não via vantagens imediatas – e previa uma trabalho a mais para mim, numa rotina que eu classificaria de já saturada... Não queria tocar isso de qualquer maneira. Como você que me acompanha aqui há algum tempo sabe, se for para fazer alguma coisa, eu prefiro que seja bem feita – sempre com algo a acrescentar. Como neste espaço. O conceito de um blog soa hoje ligeiramente antiquado: expressar-se de alguma maneira com um punhado de palavras num universo de imagens e emojis? Que coisa mais século 20! De qualquer maneira, sigo há mais de oito anos no meu propósito de tornar este site um espaço de encontro de ideias que sejam no mínimo interessantes – e, eventualmente, possam sobreviver polêmicas inócuas que se perpetuam em comentários de pessoas que, longe de estarem interessadas em uma discussão sobre qualquer assunto, querem apenas expressas suas opiniões sobre as opiniões dos outros (o pequeno frissson que meu comentário sobre o recente "affair Adnet"causou é só o exemplo mais recente – e talvez um dos mais hilários – do que estou falando.
Nessa mesma linha de pensamento, sempre achei que, se fosse para entrar em uma rede social, especialmente na qualidade de uma pessoa pública, eu deveria me dedicar muito para que ela não fosse um exercício de vaidade. Muitos amigos, tentado me convencer da necessidade "voyeurística" de um Facebook, insistiam para que eu criasse uma página "anônima" (ou melhor, com um pseudônimo que só as pessoas mais próximas saberiam) para que eu pudesse me inteirar sobre o que as pessoas estavam falando sem necessariamente me expor – uma opção que eu julgava ser não apenas covarde como insatisfatória.
Não posso negar o fato de que sou uma pessoa pública – e que essa posição, conquistada com um trabalho de anos na maior TV do país, exigia de mim uma atenção e um cuidado em relação à exposição que me foi concedida. Um trabalho que te proporciona uma vitrine tão poderosa, ao contrário do que um punhado de celebridades exibicionistas talvez nos faça crer, traz sim uma responsabilidade. Uma vez na televisão, para milhões de pessoas que só te conhecem por esse canal, o que você expõe numa rede social, as coisas que você gosta, divulga, critica, aprova ou desaprova, trazem sim o peso de uma opinião – ou ainda o da formação de opinião. E eu queria estar à altura desse desafio – algo que, pelo que eu sempre conferia quando alguém gentilmente abria-me uma porta para este universo (me mostrando, através de sua página numa rede social, o último "assunto da moda"), poucas figuras públicas que admiro conseguiam conquistar.
(Ivete Sangalo, de quem sou admirador eterno, é talvez o melhor exemplo de uma pessoa pública que consegue transmitir intimidade, espontaneidade, autopromoção, conscientização e respeito por seus seguidores ao mesmo tempo, numa fórmula que deveria ser institucionalizada como uma cartilha para o uso de rede social por uma celebridade – mas eu divago...)
Todos esses argumentos que coloquei até agora se referem largamente ao Facebook – adoravelmente rebatizado no nosso cotidiano como "Fêissi". Embora o Instagram traga para mim, no seu DNA, alguns dos mesmos obstáculos que mencionei acima, sempre achei que essa rede social poderia ser uma "porta de entrada" mais acessível e divertida para esse convívio virtual. Mesmo assim, como meu leitor e minha leitora sabem bem, resisti teimosamente ao Instagram por muito tempo – o que me deixou inclusive vulnerável à perversão (ou seria solidão?) de alguma pessoas que criaram perfis "fakes", enganando milhares de pessoas.
(Numa discussão recente, descobri que esses fakes podem "comprar" seguidores para "engordar" seu portfólio – um escambo dos mais surreais entre todos os que circulam pela internet, mas que é facilmente desmascarado quando se vê a proporção entre "seguidores" e "comentários": se ela for baixa, digamos, mais de 50k com uma quantidade mínima de comentários, fica na cara de que muitos desse "seguidores" são, hum, "laranjas"... mas eu divago novamente).
O motivo pelo qual eu demorei tanto para ter um Instagram era simples: eu achava que não tinha muito o que dizer num espaço como esse. Aqui mesmo blog, uma vez brinquei com a hipótese de ter um – e conclui que, já que eu não estava interessado em postar selfies meus (diante do espelho ou não) nem uma coletânea de fotos insossas sobre o que eu tinha comido naquele dia – o que eu achava que era "vida e obra" de um perfil de Instagram –, o melhor seria eu seguir quieto. Mas aí surgiu esta minha quarta volta ao mundo – e então eu achei que a brincadeira poderia ficar interessante.
Eu ainda tinha ressalvas. Sendo a internet o ambiente hostil que é, onde o anonimato dá vazão ao pior do caráter das pessoas – uma vez que, não identificadas, elas se sentem à vontade para abandonar qualquer regra de um discurso saudável e apelar para a crítica ultra superficial e inconsequente, focada apenas no narcisismo de quem a escreve – eu achava que não iria encontrar no Instagram nenhum espaço para o diálogo saudável – algo que conseguimos a duras penas aqui neste blog. Estariam as pessoas realmente interessadas em dividir experiências que fosse além da preocupação de perguntar num selfie: "será que eu estou bonito/bonita hoje"? Ao gostarem de uma imagem que eu publicasse, será que meus seguidores estariam realmente indo além da mera satisfação visual e interagindo com minhas especulações? Seria possível uma espécie de intercâmbio – ainda que tênue – entre este que vos fala e as milhares de pessoas dispostas a o acompanhar?
Iniciei-me nessa aventura com cautela. Inaugurei meu Instagram "de verdade" – o único que eu mesmo posto as fotos, @zecacamargomundo – logo no primeiro dia da viagem, há quase um mês. Postei um vídeo de boas-vindas, explicando (nos míseros 15 segundo que nos são permitidos) que finalmente eu tinha encarado o Insta (já me sentindo "em casa", adotei a abreviação) e que o convite estava aberto para quem quisesse me seguir. E não acreditei quando vi a resposta chegar.
Mil. Dois mim. Cinco mil. 12k. 18k – e na última contagem, 22k! Os números me impressionaram, mas mais do que eles, as respostas de quem aparecia era estupenda. No lugar de simples "adorei" ou aquela coleção de palmas de emoji, senti logo de cara que o caminho estava aberto para uma verdadeira troca de experiências. Limitada, claro – mesmo para fotos que recebem uma quantidade modesta de comentário (digamos, uns 20), responder a todo mundo, principalmente por uma questão de tempo, é virtualmente impossível. Mesmo assim, tive certeza de que estava num espaço fértil para as trocas – e comecei a me dedicar mais e mais ao que publicava. E sigo caprichando nessa tarefa com prazer.
No entanto, meu entusiasmo inicial – que só cresce a cada postagem – não me fez ficar cego a algumas curiosidades dessa troca virtual. Selfies, por exemplo! Nada contra – eu mesmo sou adepto inveterado – com vários deles publicados aqui mesmo neste espaço. Mas, ao escolher pessoas que começaram a me seguir e que eu queria corresponder seguindo também, fiquei espantado com a quantidade de perfis que são apenas variações do popular tema "eu no espelho" – meninas sensualizando com o cabelo, meninos descobrindo que podem tirar a camisa sem serem chamados de exibicionistas. Salvo um ou outro que mistura essas vaidades com algum outro assunto que me interessa – por exemplo, viagens – não me animo a seguir ninguém nessa linha.
Há ainda os milhares da seita que eu chamaria informalmente de "devotos do prato", que acreditam firmemente que a coisa mais interessante que pode acontecer no dia deles está numa mesa de refeição. Não me entenda mal – eu acho comida um assunto fascinante (eu mesmo, a essa altura, já postei fotos assim no meu Insta). Mas se não houver um contexto para apresentar uma iguaria – ou mesmo um simples arroz com feijão –, realmente, o que você quer dizer com aquele prato de macarrão fora de foco?
Mais bizarro do que tudo isso, porém, foi o "comércio" com o qual me deparei logo nos primeiros comentários. Coisas do tipo: "QIEM (sic) CURTIR OU COMENTAR NAS MINHAS 2 FOTOS MAIS RECENTES DOU 30 LIKES". Ou ainda: "{10 likes} pra quem comentar minha última foto". E: "ME SIGAM SDV NA HORA TROCO LIKES RETRIBUO NA HORA". Além do meu favorito (pelo tom de "credibilidade": "Oiie troco likes e sigo de volta (pode confiar)".
O que esses pedidos – que têm mais o tom de súplica desesperada – querem dizer? Por favor, faça de mim uma pessoa popular que eu faço de você uma também? E isso é tudo? Fiquei imaginando uma rodinha onde uns amigos ficam debruçados sobre seus celulares só gritando uns pros outros: "Já tenho cem likes!"; "Bati 500!"; "Consegui trocar 5 por 20!!". Que diversão...
Eu sei o que você já está pensando... Lá vem o "velho" – no caso, eu, do alto dos seus 51 anos – falar mal de alguma coisa que ele não entende. Está certo de que sou "novo no pedaço" – com praticamente um mês de Instagram, tenho que admitir que estou ainda na pré-infância dessa rede social. Mas não preciso de muita, hum, vivência numa delas para ver que essa troca de likes – ou ainda, a negociação deles – é totalmente vazia. Não estou criticando quem a promove – como tudo na internet, cada um faz o que quiser. Mas não é possível que nós, como sociedade, estamos evoluindo para uma estágio tão interessante de conectividade para simplesmente contabilizarmos quantas pessoas "likam" a gente...
É só isso mesmo? Brincando com a antiga música de Roberto Carlos, nada mais nobre do que querer ter um milhão de amigos. Mas assim, sem ter a menor ideia de quem são – a não ser a sua habilidade de dar likes?
Nem tudo, reparo com alívio, está perdido. Entre tantas pessoas que resolvi seguir, há uma riqueza de experiências e de mensagens que me deixa completam encantado. Seja na simplicidade de uma dona de casa brasileira no Japão que ilustra seu cotidiano com voracidade ou na sofisticação de um fotógrafo turco que mostra paisagens de seu pais com uma originalidade colorida (dois perfis que encontrei por inusitadas associações), estou fascinado pelas possibilidades que ainda vão se abrir. É nessas que acredito – é nesse patamar que eu espero contribuir com o @zecacamargomundo. E receber tudo de volta, porque se internet me ensinou uma coisa boa nesses anos todos de "tentativas e erros" é que...
Juntos podemos criar!
O refrão nosso de cada dia: "Mainline", Teleman – considere isso um aperitivo para a lista do "15 melhores discos de 2014 que você não ouviu", a ser publicada aqui nos próximos dias. Essa é não só a música da semana – já que o acaso fez com que eu a ouvisse repetidas vez ultimamente – mas deve-se tornar também uma das músicas do ano. E quem sabe, da minha vida. A seleção de 2014 está boa... Não perca!