YouTube FanFest: sem shows, fãs brigam por grade de palco 'vazio'
Por Cauê Muraro
E mais uma vez as celebridades da internet tiveram dia de popstars do mundo real. A 2ª edição brasileira da YouTube FanFest, que aconteceu nesta quarta-feira (5) no Espaço das Américas, em São Paulo, permitiu ao público interagir – na prática, isso significou pedir selfies – com 125 astros brasileiros da plataforma de vídeos do Google. Mas, ao contrário de 2015, quando números musicais e gincanas deram clima de show de variedades ao evento, desta vez a coisa foi mais discreta. As estrelas ocupavam o palco por brevíssimos minutos, revezadamente. No mais, a adoração e a gritaria de sempre (até para o nada quando o palco estava vazio).
Tudo pelos YouTubers profissionais: gravam vídeos que rendem milhões de visualizações e dinheiro. Por que fazem sucesso? "Porque são eles mesmos, gente como a gente”, repetem os fãs, como um mantra. Já para quem toca o negócio, existe receita, sim. O segredo é "ter autenticidade e ser um bom contador de histórias", explicou ao G1 o diretor de conteúdo do YouTube Brasil, Eduardo Brandini.
Dentre as estrelas da "geração Enem" que passaram pelo evento, estavam Whinderson Nunes, Pedro Rezende (o Rezende Evil), a dupla Mêderi & Tiago (do canal Galo Frito), PC Siqueira, Nah Cardoso, Felipe Castanheri (do Canal Nostalgia), Christian Figueiredo (do canal Eu Fico Loko), Julio Cocielo (do Canal Canalha), Luba (do LubaTV) e Caio Novaes (do AnaMariaBrogui), além da turma do Parafernalha, do Porta dos Fundos e do diretor de clipes de funk Kondzilla, incluindo o MC Bin Laden (veja foto abaixo). Kéfera, que tinha sido anunciada, não deu as caras.
As produções vão de esquetes de humor a dicas de maquiagem. De discussões esportivas a aconselhamento amoroso. De videogame a empoderamento feminino. De culinária a qualquer uma dessas coisas (ao mesmo tempo ou separadamente).
Fãs justificam
Apenas 800 fãs foram selecionados para conhecer esse povo todo – e a vaga era disputada entre milhares de inscritos. Uma vez na YouTube FanFest, esgoelavam-se com convicção na hora de pedir autógrafos e foto. Formavam filas para ter direito a brevíssimos encontros com seus YouTubers favoritos.
Segurando um cartaz autografado, a estudante Letícia Perovani, de 17 anos, que cursa o 3º ano do ensino médio em uma escola de São Paulo, estava ofegante depois de conhecer os caras do Galo Frito. A explicação dela para tanta emoção: "Nos vídeos YouTube, vejo eles como sendo ídolos, meio astros de Hollywood. Mas, pessoalmente eles não são. Na verdade, são muito gente fina, batem papo". Ela exaltou especialmente o fato de os YouTubers falarem "sobre o cotidiano deles". “Os YouTubers têm mais liberdade para falar, não têm restrição. Muito mais legal que a TV. O Luba, por exemplo, fala muito sobre preconceito e diversidade. Porque o Luba é gay."
Já a universitária Gisele Flausina, de 20 anos, estava ali para ver a Nah Cardoso. “Porque ela é maravilhosa e passa amor, paz. É muito iluminada”, explicou, comemorando sua conduta durante o momento: “Eu nem chorei!”. Ao contrário de diversos fãs que têm seus próprios canais e sonham virar também um YouTuber renomado, Gisele confessou um único desejo: “Eu só queria ser famosa”. Mas como? “Ah, estar na mídia, sei lá, ficar famosa do nada.”
Sem shows (nem cachorro-quente ou refrigerante)
Esta segunda edição do evento foi mais acanhada que a anterior. Nada de tapete vermelho na entrada da casa de shows. Até porque não teve show. Vale lembrar que em 2015 um dos destaques foi o "funk sedução" do (assim descrito) “MC Biel-o-Justin-Bieber-brasileiro”.
Também foi cortado um benefício oferecido pela YouTube FanFest do ano passado: cada fã ganhava um vale cachorro-quente e um vale refrigerante. Em 2016, quem quisesse tinha de comprar. Comida e bebida de graça, só na área VIP dos YouTubers. O camarote no mezanino tinha canapés, cerveja, espumante e suco à vontade. As estrelas da noite permaneceram lá na maior parte do evento – era o lado oposto ao do palco (teoricamente) principal. Às vezes, alguns chegavam até a grade divisória e acevam lá para baixo ou davam autógrafos.
O universitário Danilo Albuquerque, de 21 anos, reclamou – especialmente da falta de alimentos e de bebida alcoólica: "Me deram essa pulseira param mostrar que sou maior de idade, mas não serve pra nada! Tô seco por uma breja".
Já o palco ficou vazio durante parte signifacativa do tempo (o que não impediu fãs de ficarem grudados na grade). Uma música verdadeiramente alta tocava quase sem parar.
Regularmente, vindo de um tapete vermelho na lateral do espaço (veja fotos abaixo), alguma estrela aparecia ali para ver e ser vista. MC Bin Laden, por exemplo, entrou em cena fazendo aquele sinal mesmo, usando meias até o meio das canelas com um pé de cada cor, shorts da seleção de futebol da Argentina, jaqueta da Ferrari, boné, uma corrente dourada bastante visível e um celular na mão.
Sintomaticamente, os YouTubers adotavam o mesmo recurso: apareciam já fazendo fotos e vídeos enquanto modelavam para fotos e vídeos (veja nas imagens abaixo). Ser fotografo e fotografar ao mesmo tempo – isso, sim, deve contribuir para o tal lance do "gente como a gente".