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  • O caminho não dura para sempre

    Manual de conservar caminhos I

    O caminho começa em uma encruzilhada: Ali você pode parar e pensar em que direção seguir. Mas não fique muito tempo pensando, ou jamais sairá do lugar. Faça a clássica de Castañeda: qual destes caminhos tem um coração? Reflita bastante sobre as escolhas que estão adiante, mas uma vez dado o primeiro passo, esqueça definitivamente a encruzilhada, ou sempre ficará sendo torturado pela inútil pergunta: “será que escolhi o caminho certo?” Se você escutou seu coração antes de fazer o primeiro movimento, você escolheu o caminho certo. 

    O caminho não dura para sempre: É uma benção percorrê-lo durante algum tempo, mas um dia ele irá terminar, portanto esteja sempre pronto para despedir-se a qualquer momento. Por mais que você fique deslumbrado por certas paisagens, ou assustado com algumas partes onde é necessário muito esforço para seguir adiante, não se apegue a nada. Nem às horas de euforia, nem aos intermináveis dias onde tudo parece difícil, e o progresso é lento. Cedo ou tarde um anjo virá, e sua jornada chega ao final, não esqueça.

  • Os dons e o poder interior

    A grande vantagem de abordar temas que envolvem a espiritualidade em livros, é saber que sempre entraremos em contacto com pessoas que possuem algum tipo de dom. Algumas são reais, algumas são invenção, algumas tentam se aproveitar, outras estão nos testando. Já vimos tanta coisa surpreendente que hoje não temos a menor dúvida que milagres acontecem, que tudo é possível, o homem está recomeçando a aprender aquilo que já esqueceu – seus poderes interiores, e seus dons.
    Devemos ficar consciente  de três coisas importantes:
    - A primeira: no momento em que as pessoas resolvem encarar um problema, elas se dão conta que são muito mais capazes do que pensam.
    - A segunda: toda a energia, toda a sabedoria,  vem da mesma fonte desconhecida, que normalmente chamamos de Deus.
    - A terceira: ninguém está só em suas atribulações – sempre existe alguém mais pensando, alegrando-se, ou sofrendo da mesma maneira, e isso nos dá força para encarar melhor o desafio que temos diante de nós.

  • Segurança e aventura não combinam entre si

    Encontrei hoje um coreano que leu minhas mãos: um tipo engraçado, que é um sábio para os outros, embora seja incapaz de aprender o que ensina. Claro que, como todos os quiromantes, achou que eu estava interessada em saber sobre minha vida afetiva, e relembrou-me coisas que eu sempre preciso estar escutando:
    A) que eu busco ao mesmo tempo segurança e aventura, e estas coisas não combinam entre si (não lhe disse nada, mas se tiver que escolher fico com a aventura).
    B) me apaixono com muita rapidez, e me aborreço com a mesma velocidade. “Aprenda a amar você mesma”, ele disse. Meu problema não é exatamente amor,
    porque consigo facilmente me apaixonar – meu problema é demonstrar esse amor, é meu relacionamento com os outros.
    C) Por que entro em tantas relações frustradas com tantos homens? Porque acho que sempre tenho que estar me relacionando com alguém – e assim sou forçada a ser fantástica, inteligente, sensível, excepcional. O esforço de seduzir me obriga a dar o melhor de mim mesma, e isso me ajuda. Além disso, é muito difícil conviver comigo mesma.

  • O diálogo interno é o maior inimigo

    Continuação dos textos de Castaneda:

    Nosso diálogo interno é o maior inimigo. Estamos sempre contando para nós mesmos como o mundo é, e como deveria ser; para entrar em uma realidade mágica, precisamos interromper este diálogo, e deixar que o mundo se mostre em toda a sua generosidade e grandeza.
    Quando conseguimos parar nosso diálogo interno, tudo é possível; até os projetos mais loucos se tornam viáveis. A partir daí, aceitamos nossa sorte com humildade, porque ela é nosso desafio vital.

  • O mito de que existe um único caminho até Deus

    Este é o mais perigoso de todos os mitos: a partir daí começam as explicações do Grande Mistério, as lutas religiosas, o julgamento do nosso próximo.

    Podemos escolher uma religião (eu, por exemplo, sou católico), mas devemos entender que se o nosso irmão escolheu uma religião diferente, irá chegar no mesmo ponto de luz que nós buscamos com nossas práticas espirituais.

    Finalmente, vale a pena lembrar que não é possível transferir de maneira nenhuma para o padre, o rabino, o iman, as responsabilidades de nossas decisões.

    Somos nós que construímos, através de cada um de nossos atos, a estrada até o Paraíso.

  • Das armadilhas da busca 3 - Mito: Deus é sacrifício

    Muita gente busca o caminho do sacrifício e da auto-imolação, afirmando que devemos sofrer neste mundo, para ter felicidade no próximo. Ora, se este mundo é uma benção de Deus, por que não saber aproveitar ao máximo as alegrias que a vida dá?

    Estamos muito acostumados com a imagem de Cristo pregado na cruz, mas nos esquecemos que sua paixão durou apenas três dias: o resto do tempo passou viajando, encontrando as pessoas, comendo, bebendo, levando sua mensagem de tolerância.

    E tanto foi assim que seu primeiro milagre foi “politicamente incorreto”: como faltou bebida nas bodas de Caná, ele transformou água em vinho. Fez isso, no meu entender, para mostrar a todos nós que não existe nenhum mal em ser feliz, alegrar-se, participar de uma festa – porque Deus está muito mais presente quando estamos juntos dos outros. Maomé dizia que “se estamos infelizes, trazemos também infelicidade aos nossos amigos”. Buda, depois de um longo período de provação e renúncia, estava tão fraco que quase se afogou; quando foi salvo por um pastor, entendeu que o isolamento e o sacrifício nos afastam do milagre da vida.

Autores

  • Paulo Coelho

    Imortal da Academia Brasileira de Letras e Mensageiro da Paz da ONU, autor do fenômeno literário “O Alquimista”, livro brasileiro mais vendido de todos os tempos.

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Imortal da Academia Brasileira de Letras e Mensageiro da Paz da ONU, autor do fenômeno literário “O Alquimista”, livro brasileiro mais vendido de todos os tempos.