• A sabedoria no silêncio

    O cientista Roger Penrose caminhava com alguns amigos, conversando animadamente. Fizeram silêncio apenas por um momento, para atravessar a rua.

    “Lembro que, enquanto atravessava, um pensamento incrível me ocorreu”, diz Penrose. “Entretanto, assim que chegamos na outra calçada, retomamos o assunto, e não consegui recordar o que havia pensado segundos antes”.

    No final da tarde, Penrose começou sentir-se eufórico – sem entender por quê.

    “Tinha a sensação de que algo importante me havia sido revelado”, diz.

    Resolveu recapitular cada minuto do dia, e, ao lembrar-se do momento em que atravessava a rua, a ideia voltou. Desta vez ele conseguiu escrevê-la.

    Era a teoria dos buracos negros, uma verdadeira revolução na física moderna. E tornou a surgir porque Pensore foi capaz de lembrar-se do silêncio que fazemos sempre que atravessamos uma rua.

  • Do medo

    O guerreiro da luz fica apavorado quando precisa tomar decisões importantes.

    “Isto é grande demais para você”, diz um amigo em quem confia. “Vá em frente, tenha coragem”, diz outro amigo em quem confia. E suas dúvidas aumentam.

    Depois de alguns dias de angústia, ele recorre ao melhor conselheiro de todos: o escuro do seu quarto.

    Nas sombras, ele vê a si mesmo no futuro. Vê as pessoas que serão beneficiadas e prejudicadas por sua atitude. Sabe que, ao dar um passo adiante, deixará alguma coisa - ou alguém - para trás. Ele não quer causar sofrimentos inúteis, mas tampouco quer abandonar o caminho.

    O guerreiro que observa a si mesmo deixa que a decisão se manifeste. Se for preciso dizer ‘sim’, ele dirá com coragem. Se for preciso dizer ‘não’, ele dirá sem covardia.

  • O que mais se preocupava

    O autor Leo Buscaglia foi certa vez convidado a ser jurado de um concurso numa escola, cujo tema era: “a criança que mais se preocupa com os outros”.

    O vencedor foi um menino cujo vizinho – um senhor de mais de 80 anos – acabara de ficar viúvo. Ao notar o velhinho no seu quintal em lágrimas, o garoto pulou a cerca, sentou-se no seu colo, e ali ficou por muito tempo.

    Quando voltou para sua casa, a mãe lhe perguntou o que dissera ao pobre homem.

    “Nada”, disse o menino. “Ele tinha perdido a sua mulher, e isso deve ter doído muito. Eu fui apenas ajudá-lo a chorar”.

  • Estou aqui de passagem

    Um executivo da NY Telephone me conta um curioso encontro que teve, e que mudou muito sua maneira de pensar.

    Acostumado a viajar o mundo inteiro, chegou certa tarde ao Cairo, e resolveu encontrar-se com um famoso rabino que vivia por lá.

    O rabino recebeu-o da melhor maneira possível, e passaram a tarde inteira conversando sobre os desígnios de Deus.

    Pouco antes de despedir-se, o executivo comentou com o rabino que ficara muito impressionado com a simplicidade da sua casa; apenas uma mesa com duas cadeiras, e uma cama.

    “E o que você tem aqui?”, perguntou o rabino.

    “Tenho apenas uma mala, mas, afinal de contas, estou aqui de passagem”, respondeu o executivo.

    “Eu também”, disse o rabino. “Eu também estou aqui de passagem”.

  • A atitude de um sábio

    O abade Abraão soube que perto do mosteiro de Sceta havia um ermitão com fama de sábio. Foi procurá-lo e perguntou:

    – Se hoje você encontrasse uma bela mulher em sua cama, conseguiria pensar que não era uma mulher?

    – Não - respondeu o sábio -, mas conseguiria me controlar.

    O abade continuou.

    – E se visse moedas de ouro no deserto, conseguiria ver este ouro como se fossem pedras?

    – Não - disse o sábio - mas, conseguiria me controlar para não pegá-lo.

    Insistiu o abade Abraão:

    – E se você fosse procurado por dois irmãos, um que o odeia, e outro que o ama, conseguiria achar que os dois são iguais?

    Disse o sábio:

    – Mesmo sofrendo por dentro, eu trataria o que me ama da mesma maneira que o que me odeia.

    – Vou lhes explicar o que é um sábio - disse o abade aos seus noviços, quando voltou. – É aquele que, em vez de matar suas paixões, consegue controlá-las.

  • A linguagem do asno

    O sábio Saadi de Xiras caminhava por uma rua com seu discípulo, quando viu um homem tentando fazer com que seu asno andasse. Como o animal recusava-se a sair do lugar, o homem começou a insultá-lo com as piores palavras que conhecia.

    — Não sejas tolo – disse Xiras. — O burro jamais aprenderá tua linguagem. O melhor será que te acalmes, e aprendas a linguagem dele.

    E afastando-se, comentou com o discípulo:
    — Para brigar com um burro, você precisa ser tão burro quanto ele.

Autores

  • Paulo Coelho

    Imortal da Academia Brasileira de Letras e Mensageiro da Paz da ONU, autor do fenômeno literário “O Alquimista”, livro brasileiro mais vendido de todos os tempos.

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Imortal da Academia Brasileira de Letras e Mensageiro da Paz da ONU, autor do fenômeno literário “O Alquimista”, livro brasileiro mais vendido de todos os tempos.