• Construir ou plantar

    Cada pessoa, em sua existência, pode ter duas atitudes: construir ou plantar.  Os construtores podem demorar anos em suas tarefas, mas um dia terminam aquilo que estavam fazendo.

    Então param, e ficam limitados por suas próprias paredes. A vida perde sentido quando a construção acaba. Os que plantam sofrem com as tempestades, as estações e raramente descansam.

    Mas, ao contrário de um edifício, o jardim jamais para de crescer. E, ao mesmo tempo que exige a atenção do jardineiro também permite que, para ele, a vida seja uma grande aventura.

  • Olhando de cima

    Quando subimos ao alto de uma montanha podemos ver o vale, a cidade, as outras montanhas, as rochas e as nuvens. O Senhor costumava mandar seus profetas subir as montanhas, para conversar com Ele. Quando estamos no alto, somos capazes de ver tudo pequeno.

    Do alto da montanha, vemos como o mundo é grande, e os horizontes são largos. Nossas glórias e nossas tristezas deixam de ser importantes. Aquilo que conquistamos ou que perdemos fica lá embaixo.

  • A corneta e os tigres

    Um homem chegou numa aldeia com uma corneta misteriosa, de onde pendiam panos vermelhos e amarelos, contas de cristal e ossos de animais. 
    Esta é uma corneta que afasta tigres – disse o homem.
    — A partir de hoje, por uma modesta quantia diária, eu a tocarei todas as manhãs, e vocês nunca serão devorados por estes terríveis animais.
    Os habitantes da aldeia, aterrorizados com a ameaça de ataque de um animal selvagem, concordaram em pagar o que o recém-chegado pediu.
    Assim se passaram muitos anos, o dono da corneta ficou rico, e construiu um belo castelo para si mesmo. Certa manhã, um rapaz que passava pelo local, perguntou a quem pertencia aquele castelo. Ao saber da história, resolveu ir até lá conversar com o homem.
    — Ouvi dizer que o senhor tem uma corneta que afasta tigres – disse o rapaz. —     Acontece, porém, que não existem tigres em nosso país.
    Na mesma hora, o homem convocou todos os habitantes da aldeia, e pediu ao rapaz que repetisse o que dissera.
    — Vocês escutaram bem o que ele disse? – gritou o homem, assim que o rapaz terminou. — Esta é a prova irrefutável do poder da minha corneta!

  • Caçando duas raposas

    O estudante de artes marciais aproximou-se do professor:
    — Gostaria muito de ser um grande lutador de aikidô – disse. — Mas penso que devia também me dedicar ao judô, de modo a conhecer muitos estilos de luta; só assim poderei ser o melhor de todos.
    — Se um homem vai para o campo, e começa a correr atrás de duas raposas ao mesmo tempo, vai chegar um momento em que cada uma correrá para um lado, e ele ficará indeciso sobre qual deve continuar perseguindo. Enquanto decide, ambas já estarão longe, e ele terá perdido seu tempo e sua energia.
    "Quem deseja ser um mestre, tem que escolher apenas UMA coisa para aperfeiçoar-se. O resto é filosofia barata".

  • Aprenda a cuidar de si mesmo

    O discípulo se aproximou do mestre:

    — Durante anos busquei a iluminação - disse.

    — Sinto que estou perto. Quero saber qual o próximo passo.

    — E como você se sustenta? - perguntou o mestre.

    — Ainda não aprendi a me sustentar; meu pai e minha mãe me ajudam. Entretanto, isto são apenas detalhes.

    __ O próximo passo é olhar o sol por meio minuto - disse o mestre. O discípulo obedeceu.

    Quando acabou, o mestre pediu que descrevesse o campo à sua volta.

    — Não consigo vê-lo, o brilho do sol ofuscou meus olhos- respondeu o discípulo.

    — Um homem que apenas busca a Luz, e deixa suas responsabilidades para os outros, termina sem encontrar a iluminação. Um homem que mantém os olhos fixos no sol termina cego - comentou o mestre.

  • O dom que Deus nos deu

    O deus Apolo persegue a ninfa Daphne pelo bosque. Está apaixonado por ela, mas Daphne, sempre cortejada por todos, não aguenta mais o seu próprio brilho, e pede ajuda aos deuses, dizendo: “destrói esta beleza que nunca me deixa em paz”.

    Os deuses escutam o apelo de Daphne e a transformam numa árvore, o loureiro.

    Apolo não consegue mais encontrá-la, pois agora ela é apenas uma parte da vegetação.

    Daphne agiu de uma maneira que todos nós conhecemos bem: muitas vezes matamos nossos talentos, porque não sabemos o que fazer com eles. É mais confortável a mediocridade de ser apenas “mais um”, do que a luta para mostrar tudo aquilo do que somos capazes de fazer com os dons que Deus nos deu.

Autores

  • Paulo Coelho

    Imortal da Academia Brasileira de Letras e Mensageiro da Paz da ONU, autor do fenômeno literário “O Alquimista”, livro brasileiro mais vendido de todos os tempos.

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Imortal da Academia Brasileira de Letras e Mensageiro da Paz da ONU, autor do fenômeno literário “O Alquimista”, livro brasileiro mais vendido de todos os tempos.