Dois assassinos de aluguel, duas mulheres obcecadas por encontrá-los, duas séries que não são nada do que você espera (e não têm nada a ver uma com a outra) e são sensacionais.
Falo das incríveis “Barry” e “Killing Eve”, duas séries curtinhas que estrearam recentemente e já estão entre as melhores coisas do ano na TV. A primeira é comédia, mas não exatamente. A segunda é um drama, mas, também, não exatamente. E as duas são surpreendentes.
“Barry”, da HBO, tem como personagem-título um ex-fuzileiro naval que ganha a vida como assassino profissional, vivido por Bill Hader (ex-"Saturday Night Live"), que também é um dos criadores da série.
Ele não demonstra muito as emoções, a gente nem sabe se ele tem alguma, ele apenas segue as ordens de um amigo mais velho (Stephen Root) que é quem cuida dos clientes e escolhe as missões. Barry vai lá e mata. Nem com a grana ele parece se importar muito. Até que, meio por acidente – indo atrás de seu próximo alvo, um personal trainer que era amante da mulher de um chefe da máfia tchetchena e também um aspirante a ator - se vê no palco de um curso de teatro. Um curso péssimo, com péssimos alunos e que tem um professor que faz bullying para tirar as verdadeiras emoções dos alunos. E aí Barry decide mudar de vida: ele quer ser ator.
Bill hader em Barry — Foto: Divulgação/HBO
No meio dessa história improvável tem uma máfia russa, um chefe ganancioso, um interesse amoroso, uma investigação policial que tenta identificar o autor de um crime (é Barry, a gente sabe logo de cara) e uns outros ex-fuzileiros navais completamente sem noção. Todo mundo é muito engraçado mas no meio fica tudo muito sério. A gente dá risada mas aí para e fala eita, pera, caramba.
Não vou falar mais para não estragar a graça, mas “Barry” é daquelas séries meio difíceis de definir. Porque é uma comédia, é feita por um comediante, tem episódios de meia horinha e tal e tem o Nono Hank, um dos melhores personagens de qualquer coisa que eu vi no ano . A gente dá umas gargalhadas, mas também tem umas cenas de violência que fazem a gente arregalar os olhos, tem massacres sangrentos, tem tensão. E tudo funciona direitinho, é tudo amarrado de um jeito bem esperto e os personagens (e os atores) são muito, muito bons.
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De “Killing Eve” a gente já gosta antes de começar a ver por ser “a série nova da Sandra Oh”. Depois de parar de ser a dra. Cristina Yang em “Grey’s Anatomy”, ela demorou bastante mas enfim conseguiu achar um papel à sua altura. E que papel.
Porque é uma série de detetive, envolve uma assassina de aluguel totalmente psicopata e uma funcionária do governo britânico encarregada de burocracias que de repente se vê na missão de caçá-la. E você vai esperando uma seriezona policial, afinal é um drama com episódios de uma hora e tem sangue e violência; mas aí você se depara com uma coisa tão cool, tão descolada, uns personagens tão bons, e se lembra de que a série é escrita pela genial Phoebe Waller-Bridge, criadora da imperdível “Fleabag”. E tudo faz mais sentido.
Jodie Comer em Killing Eve — Foto: BBC America
Eve, personagem de Sandra Oh, é a protagonista, que vê sua vidinha pacata e bem ok – mora em Londres, é funcionária do governo, tem um casamento estável, se diverte com colegas de trabalho no karaokê – virar um thriller policial quando ela se torna responsável por achar uma assassina (que eles nem sabem se de fato existe) que vem matando um monte de gente importante das formas mais bizarras (e incrivelmente discretas). Ela, óbvio, começa a amar muito tudo isso.
Villanelle (a série, da BBC America e ainda sem data de estreia por aqui, é baseada nos romances “Villanelle”, de Luke Jennings) é uma russa completamente maluca (Jodie Comer) que mora em Paris e é contratada de uma organização secreta para matar gente, coisa que ela parece fazer com muitíssimo prazer. Com o mesmo prazer com que derruba sorvete numa menininha fofa, transa com o vizinho ou escolhe suas incríveis roupas de grife. Tudo para ela parece uma grande diversão – incluindo enfiar uma agulha no olho de um chefão da máfia, por exemplo.
A dinâmica entre as duas mulheres dá esse ar novo pra uma história meio batida de detetive atrás do assassino. É demais.
E a série vai crescendo com essa relação de gato e rato que acaba virando de rato e gato e depois de gato e gato, digamos (e desculpe essas analogias péssimas e clichês, mas você vai entender), entre Eve e Villanelle, que acabam uma obcecada pela outra, e a gente obcecada pela série. Que é estranha, inesperada, ousada e uma delícia de assistir.