Bruno medinaJá pararam para pensar que, desde o surgimento da humanidade até os dias de hoje, eu, você ou qualquer habitante que viveu ou viverá neste planeta tínhamos e teremos para sempre nossas existências regidas pelos mesmíssimos parâmetros? Os movimentos de rotação e de translação da Terra, determinando a oscilação entre dia e noite e as estações do ano, as fases da lua e sua influência nas marés – há quem garanta que nos ciclos menstruais, no crescimento dos cabelos e na transformação de lobisomens também –, as constelações, o norte magnético, e por aí vai. Fora dessa lista, resta ainda um último parâmetro, talvez o mais importante balizador de nossas rotinas, que, apesar de não poder ser classificado como um fenômeno natural, destaca-se como referência máxima no que tange à divisão e à passagem do tempo em nossa sociedade: a semana.
 
Você, que desde o berço aprendeu a amar as noites de sexta e odiar as manhãs de segunda só porque sábado é dia de acordar tarde e domingo de dormir cedo, saiba que, ao longo dos séculos, o período que definia a duração de uma semana, pasmem, já variou entre 3 e 10 dias. Para encurtar uma história longa, foi só a partir da expansão do Cristianismo no século 4 que passou-se a considerar os 6 dias de trabalho e 1 de descanso como padrão universal, isso porque, como quase todo mundo sabe, de acordo com a Bíblia, este foi o cronograma adotado também por Deus ao criar o mundo. Crenças religiosas à parte, fato é que da Gênese pra cá muita coisa mudou, afinal naquela época não havia internet banking, os shoppings não abriam aos domingos e ninguém achava normal receber e-mail do chefe num sábado à tarde.
 
Mas se o advento da tecnologia aponta para um futuro nada distante em que a virtualização do trabalho confundirá ainda mais a tênue fronteira que atualmente separa lazer e obrigação, qual o propósito de termos nossas vidas orquestradas por um ciclo tão impositivo quanto arbitrário? Não seria a hora de abolir o conceito de semana e encontrar um jeito mais justo e democrático de estruturar o tempo? Eis a polêmica questão lançada na edição virtual da revista "Slate" desta semana. De acordo com Ben Schreckinger, escritor e autor do artigo, a noção de horário comercial, tão fortemente estabelecida no século passado, perdeu um tanto do sentido, visto que os avanços alcançados na automação de processos, na computação e nas telecomunicações relativizaram a extensão dos dias e, consequentemente, o prazo que hoje delimita uma semana.
 
Supondo que de fato conseguíssemos nos libertar das amarras estabelecidas por um hábito tão arraigado, seria mesmo possível repensar a semana de 7 dias? Sugestão: e se ela fosse constituída por 4 blocos que intercalassem 2 dias de trabalho e 2 de descanso? Ou ainda se fossem 4 dias de trabalho e 3 de descanso? Melhor: que tal 1 dia de trabalho e 6 de descanso?? Por mais que pareça loucura a ideia de redefinir o formato de uma semana, cabe registrar que já existe uma corrente de pensadores defendendo a flexibilização da carga horária e do conceito de "dias úteis", motivados, sobretudo, pelas restrições de mobilidade que fazem padecer as populações das grandes metrópoles. Aposto que muita gente no Rio e em São Paulo ao menos consideraria trabalhar sábado e domingo e folgar no meio da semana, apenas para fugir do trânsito pavoroso que enfrentam todos os dias.
 
Agora, imaginem que doideira se cada um determinasse quando seria seu próprio final de semana? Provavelmente passaria a ser usual ir num casamento na terça e, na quarta, emendar com um dia na praia, deixando o dentista para o domingo. Frases como "o sábado dele é na segunda" ou "meus filhos estudam de sexta a terça" seriam comuns, o que nos dá a dimensão do empenho que iria exigir tentar conciliar agendas com quem quer que fosse para eventuais compromissos.
 
Bom, não é preciso pensar muito antes de concluir que, infelizmente, a semana de 7 dias ainda permanecerá por muito tempo como um mal necessário. Por mais que não nos sintamos representados por ela, fato é que, na ausência de uma solução melhor, assim como o Garfield, vamos ter que continuar odiando as segundas...