Fernandinho se pendura na rede depois de mais um gol da Alemanha: maior vexame da Copa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agora que a Copa terminou, finalmente é chegado o momento de dizer adeus àqueles mágicos dias de alegria e emoção e fazer um balanço sobre o verdadeiro legado deixado pela passagem do maior evento esportivo do planeta por nosso país. Na lista de possíveis candidatos figuram, dentre outros, o aquecimento da economia a partir da geração de novos postos de trabalho, os estádios e as obras de mobilidade realizadas nas cidades sede e a valorização da "marca" Brasil, sobretudo devido à boa impressão que nosso povo causou nos mais de 1 milhão de visitantes estrangeiros recebidos.
 
Nada disso, no entanto, é páreo para a importância da contribuição associável a um aspecto deste Mundial que em princípio poderia ser encarado como sendo muito negativo, mas que, na prática, revelou-se um patrimônio improvável, penso eu, já completamente integrado à identidade cultural brasileira: o fator 7 a 1. Imagino que para uma parte considerável dos leitores deste blog a teoria que está por ser desvelada só poderia se tratar de uma piada, sob o risco, inclusive, de soar como o dedo que cutuca uma ferida aberta. Aos que se aventurarem a seguir com a leitura até o fim, garanto que os argumentos serão mais do que suficientes para comprovar o ponto e sustentar minha controversa afirmação. A conferir.
 
Na última terça-feira, quando aqueles jovens homens alçados à condição de heróis nacionais e incumbidos da nobre missão de defender nossa hegemonia futebolística perante as demais nações caíram em desgraça, um paradoxo surgiu. Devorados vivos em seu próprio quintal pelos leões da eficiência tática, do planejamento a longo prazo e do controle emocional, propiciaram ao mundo e a sua gente um espetáculo dantesco, que não será esquecido nem pelas gerações que estão por vir, mas também redimensionará de forma definitiva o prestígio da seleção brasileira, maculando para todo sempre a identificação do torcedor com a entidade que outrora em grande parte o definia.
 
Faltam palavras para descrever a barbárie praticada por nossos gentis algozes – aqueles mesmos que se tornaram amigos dos índios e celebraram com o staff do hotel a classificação nos pênaltis contra o Chile – tocando a bola com a precisão de malabaristas circenses, invadindo a pequena área de Júlio César para sapecar gols do jeito que bem entendiam e reduzindo o outro time, no caso, o nosso, à condição semelhante a de crianças desafiadas por adultos a jogar de igual para igual. A título de comparação, seria mais ou menos como se um sujeito invadisse sua casa, beijasse sua mulher, brincasse com seus filhos, levasse seu cachorro pra passear e, ainda por cima, fizesse tudo isso bem melhor do que você.
 
À altura em que o placar contabilizava 3 gols a favor de nossos adversários, a impotência e a incredulidade generalizada frente ao que se anunciava como um épico massacre, num reflexo, quem sabe, de autopreservação, foi aos poucos cedendo lugar a um sentimento estranhamente reconfortante, este que refletiu o fato de que ali se definiam novos parâmetros para os conceitos de insucesso e honradez. Afinal, se aqueles 11 semideuses que aprendemos a venerar através de filmes publicitários e discursos ufanistas de comentaristas esportivos podiam se submeter à tamanha humilhação, imagine eu ou você, que nem temos 200 milhões de pessoas torcendo por nós, muito menos contas bancárias com tantos dígitos quanto as deles? E foi justo este pensamento que marcou a gênese do fator 7 a 1.
 
De acordo com os preceitos deste providencial salvo-conduto, para os cabíveis fins, a partir do dia 8 de julho de 2014 passou a não mais ser válido todo e qualquer  índice previamente estabelecido de fracasso. Em outras palavras, desta data em diante, nenhuma falha ou lapso, seja da natureza e da intensidade que for, poderá ser taxado como inaceitável.
 
Passou o ano todo estudando e ainda assim zerou a prova do ENEM? Foi pega no flagra saindo do motel com o primo do namorado? Vomitou no pé da mãe da noiva na festa de casamento do chefe? Tomou caldo na praia e saiu do mar com a sunga nos joelhos? Deixou o telefone cair dentro da privada? Achou que a entrevista do sósia do Felipão era verdadeira? Chorou ao ler a cartinha da Dona Lúcia? Quebrou a vértebra ou mordeu o cara do outro time durante o jogo? Para todos os casos mencionados, uma única resposta: "desculpe, rolou um fator 7 a 1...".
 
Ainda é cedo para avaliar de que maneira este libertário recurso afetará a sociedade, mas, por ora, tudo que se sabe é que foi muito bem recebido pela classe política, que tem planos de utilizá-lo ao longo das campanhas deste ano. 

(Foto: AP)