Pronto, acabou a agonia. Agora aqui estou eu, sentado em frente a tela branca, tentando buscar o estado de espírito, as palavras, o ângulo mais adequado para descrever este pedaço tão triste e inacreditável da história que todos nós acabamos de testemunhar: uma derrota cruel e inquestionável do futebol brasileiro em sua própria Copa. Minha rua agora está tomada por um silêncio tão absoluto que quase é possível ouvir o pensamento dos vizinhos, cada um dialogando consigo mesmo em busca de uma explicação plausível para o que se deu no Mineirão. Mas será que existe apenas uma?

A bem da verdade, antes de sequer ponderarmos sobre as ausências de Neymar e Thiago Silva neste jogo ou de apontarmos o dedo na direção dos prováveis culpados pela pior derrota jamais sofrida por nosso futebol, reconheçamos que tanto a seleção do Brasil quanto a da Alemanha, cada qual ao seu modo, tiveram coletivamente atuações excepcionais. Sim, sabemos que nosso time não foi soberano em nenhuma partida desta Copa, que deixou-se dominar por equipes inferiores e perdeu a compostura sempre que esteve atrás no placar. O time da Alemanha, por sua vez, apesar do empate com Gana na 1a fase e da vitória apertada sobre a Argélia, era, desde antes de embarcar no aeroporto de Berlim, um dos favoritos ao título.

Nada disso, no entanto, justifica um placar tão dilatado, mas sim o fato de que, com todo respeito devido ao futebol apresentado pelos alemães, a goleada que tomamos foi mesmo imposta pelo lado emocional. Quatro gols em apenas 6 minutos seria um resultado surpreendente até para uma pelada entre crianças no play, mas eis que o futebol se mostrou imponderável como realmente é, nos lembrando que um campeonato não se vence com vibração e torcida apenas, mas sim minuto a minuto, jogo após jogo, e neste de hoje fomos muito inferiores ao nosso adversário.

Talvez por hora, o melhor seria pensar que fatos contundentes como este sempre trazem consigo uma valorosa lição, e certamente não faltará quem nos próximos dias se candidate a sentencia-la. Como não sou cronista esportivo, ao invés de procurar possíveis respostas para o chocolate, prefiro ater-me ao conforto do ditado mais verdadeiro que há: “o jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã”. Deixem que comemorem os alemães, que zombem de nós os rivais, afinal, fizemos por merecer, mas ainda assim esse não é um jogo para ser esquecido, mas sim relativizado. O futebol brasileiro é com certeza muito maior do que uma geração de jogadores pouco brilhantes ou uma fatídica partida em que tudo deu errado, e não duvidem que já já estaremos de volta ao posto que sempre nos foi por direito. 

A despeito do enredo que agora se escreve ser forte candidato a desbancar o mítico Maracanazzo de 64 anos atrás, fico na torcida para que um acontecimento tão emblemático não ofusque por completo a beleza que foi esta Copa até agora. Digam às crianças que mantenham a cabeça erguida, porque ainda temos muito do que nos orgulhar, se não pelo o que ocorreu dentro de campo, que seja pelo que fora dele mostramos ao mundo nas 3 últimas semanas.

E, antes que eu me esqueça, bola pra frente, porque 2014 ainda está longe de terminar...