Jennifer Lawrence durante a exibição especial de “Jogos Vorazes: Em chamas” no AMC Lincoln Square, em Nova York, no dia 20 de novembro de 2013“Putz, tinham que ser logo essas?!” é o que deve ter perguntado, em prantos, aos céus Jennifer Lawrence, ao deparar-se com suas imagens nua espalhadas na web feito papel na ventania. Pois é, a atriz hollywoodiana acaba de se tornar a celebridade da vez a ter sua privacidade violada através da publicação de fotos íntimas, possivelmente hackeadas de um serviço de armazenamento de dados em nuvem.
 
Diferentemente de suas antecessoras, no entanto, é bem provável que a protagonista de “Jogos Vorazes” tenha se safado de encarar sozinha tamanha humilhação, afinal, conforme tem sido noticiado por diversas fontes, é quase certo que a mesma vulnerabilidade no aplicativo de localização remota do iPhone que possibilitou o ataque a Jennifer tenha também alcançado as contas de Kristen Dunst, Rihanna, Avril Lavigne, Mare-Kate Olsen, Selena Gomez entre outras, podendo chegar a impressionante soma de 100 personalidades.
 
A partir da leitura do parágrafo acima, os leitores desavisados – estes que só agora tomam conhecimento do fato – têm, basicamente, a opção de polarizar-se entre dois pontos de vista bastante distintos. De um lado, os que serão consumidos pela dúvida sobre se ainda dá tempo de encontrar essas fotos online, do outro, os que se negam a sucumbir à curiosidade rasteira porque se solidarizam com quem teve a intimidade sequestrada e covardemente exposta sem nada poder fazer.
 
No topo do ombro de cada um de nós, neste exato momento, um diabinho destila, ao pé do ouvido, seus melhores argumentos: “Olha lá, é rapidinho, nem precisa salvar...”, “Agora que o caminhão já tombou, que mal teria pegar as frutas que caíram na pista?”, “Será que essas artistas são gostosas mesmo na vida real ou no filme era tudo Photoshop?”
 
Há ainda a turma que se escora na frágil alegação de que uma parcela considerável destas mulheres já se deixaram registrar em ensaios fotográficos sensuais, nos quais, inclusive, revelavam partes íntimas de seus corpos. Para estes, cabe lembrar que existe um abismo entre posar consensualmente – nua que seja – para a capa de uma revista e ter a foto de um momento íntimo com o namorado revelado à revelia.
 
Se pensarmos um pouco, o referido dilema não está muito distante do que se apresenta quando decidimos clicar no link para o vídeo do jornalista capturado sendo decapitado pelo grupo fundamentalista, ou do que expõe o pouco que sobrou das vítimas de um acidente de avião. A bem da verdade, nestes tempos em que a velocidade e a fartura de acontecimentos se materializa como um convite constante à banalização dos conceitos de ética e moral, é preciso refletir sobre como a liberdade conquistada de navegar sem restrições pela internet traz à reboque a responsabilidade de se tornar não só um editor como um potencial propagador dos fatos que escolhemos dar atenção.
 
Nas sábias palavras de Sally Kohn, renomado analista de notícias que recentemente fez uma apresentação no TED sobre o tema, “se o que ganha mais cliques vence, temos que começar a moldar o mundo que queremos através dos nossos cliques”.
 
Seguindo a linha de raciocínio, não seria o hacker apenas uma versão mais determinada e menos hipócrita do sujeito que clica na foto?

* Foto: Evan Agostini/Invision/AP