• Ex-ministro do STF denuncia 'ditadura dos partidos' e lança apelo ao Congresso: é hora de criar 'candidaturas avulsas' no Brasil

    Ex-integrante do STF e ex-presidente da Câmara Célio Borja em entrevista ao Dossiê GloboNewsO Dossiê Globonews leva ao ar neste sábado, às 19h05 (com reapresentação no domingo, às 14h39), uma entrevista com o ex-integrante do Supremo Tribunal Federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados Célio Borja, em que ele faz um apelo ao Congresso Nacional em defesa daquilo que seria uma grande novidade no cenário político brasileiro: a adoção de candidaturas independentes. Em resumo: qualquer cidadão brasileiro teria o direito de se lançar candidato a cargos no Legislativo no Executivo - inclusive à Presidência da República -  sem precisar se filiar a partidos políticos.

    O ministro diz que a existência de tais candidaturas seriam uma bela demonstração de liberdade no exercício de direitos políticos.


    Borja usa palavras duras ao se referir ao cenário político: diz que os partidos exercem, hoje, uma "ditadura". Quem não se filiar não pode se candidatar a nada - nem no Legislativo nem no Executivo.


    Em meio à fogueira do debate político que incendeia paixões, divide brasileiros e, por vezes, beira a irracionalidade, eis aí uma contribuição interessante: a existência de "candidaturas avulsas" deveria ser discutida, sim, pelo Congresso Nacional. Por que não?


    O "problema" é que os partidos dificilmente aceitariam abrir mão do "poder" que hoje exercem sobre a escolha de candidatos.


    Aos 87 anos, Célio Borja se enquadra no figurino do clássico liberal. Durante o regime militar, foi líder do governo Geisel na Câmara dos Deputados, mas se movia para tentar evitar, por exemplo, a truculência das cassações de mandatos.


    Quando estava a ponto de naufragar nas ondas do impeachment, o então presidente Fernando Collor convocou, como se sabe, um "ministério de notáveis". Chamou Célio Borja para o Ministério da Justiça. Parlamentarista desde sempre, Borja aceitou o convite porque o presidente lhe atribuíra uma missão específica: tentar apressar a implantação do parlamentarismo no Brasil. Se, por acaso, o parlamentarismo fosse implantado no Brasil, o presidente reinaria mas não governaria. Viraria uma figura "cerimonial". Os planos parlamentaristas não chegaram a ser executados: a entrevista-bomba de Pedro Collor, irmão do presidente, à revista Veja sobre o esquema de corrupção no governo apressou a queda de Fernando Collor.


    Um trecho da entrevista do ex-ministro ao Dossiê Globonews:


    GMN:
    O senhor já declarou que sentiu um grande desencanto: não conseguiu que a a Câmara aprovasse a existência de candidatos avulsos e independentes. Ou seja: o senhor defende a ideia de que qualquer cidadão brasileiro deve ter o direito de se candidatar sem estar filiado a um partido. Isso melhoraria a representação?


    BORJA
    : "Primeiro, acho extremamente inconveniente a ditadura dos partidos- que se transformaram em ditaduras. A Constituição fez uma loucura: condicionou a candidatura a cargos eletivos à apresentação de um partido. Se você não for membro de um partido e ele não lhe apoiar a candidatura, você não é nada, não pode ser nada. Como se pode quebrar essa ditadura? Penso que a maneira mais simples é a inglesa: você pode ser candidato avulso. Você se apresenta com o apoio de um número determinado de eleitores. Quinze, vinte mil eleitores apresentam a candidatura. Fazem as vezes do partido. Tornam séria a candidatura, portanto - porque, se você fosse candidato de você mesmo, não tinha muita graça...Mas, dessa maneira, não: você tem o apoio expressivo de uma parte do eleitorado e, portanto, mostra que tem condições também de se eleger. Penso que essa é uma salvaguarda contra a tiranização que os partidos exercem sobre a vida política".


    GMN
    : A existência de candidatos avulsos valeria para a Presidência da República também? isso não abriria caminho para aventureiros?


    BORJA:
    "Abre. Mas aventureiros você tem em qualquer regime eleitoral, essa é que é a verdade. Temos visto gente que está na base da pura aventura. Candidatura avulsa teria uma enorme vantagem: é uma forma de você minorar - você não elimina, mas minora muito - a ditadura dos partidos".


    GMN:
    O senhor faria um apelo ao Congresso, então, pela adoção de candidaturas avulsas?


    BORJA:
    "Faria, sem dúvida nenhuma - com as cautelas que o Congresso entendesse razoáveis. Mas é preciso que se ponha um contrapeso a essa ditadura partidária - que está arruinando o Brasil e aviltando a vida política".


    GMN:
    Qual o primeiro argumento que o senhor usaria?


    BORJA
    : "O da liberdade do exercício dos direitos políticos. Porque os direitos políticos devem ser exercidos amplamente. Que a candidatura avulsa ajuda a contrabalançar a onipotência partidária, ajuda. Isso ninguém pode negar. O grande problema é o dinheiro".

     

  • EX-SENADOR DO PT TEME INTERVENÇÃO MILITAR E DÁ CONSELHO A DILMA ROUSSEFF

    O ex-prefeito e ex-senador Saturnino Braga (PT-RJ)  acaba de lançar um sinal de alerta: se a radicalização política chegar ao ponto de "paralisar a economia" e jogar "toda a atividade brasileira no chão", os militares podem entrar em cena. Em entrevista que a Globonews reexibirá neste sábado, às 8:30 da manhã e às 16:30, o senador deixa perguntas no ar: "Quem é que pode desempatar uma guerra interna? Você acha que os militares vão ficar paralisados?"

    Aos 84 anos, o  ex-senador faz uma defesa apaixonada da política - numa época em que políticos sofrem de uma rejeição quase generalizada. Diz que não vai se desfiliar do PT, porque, se saísse do partido numa hora de crise aguda como esta, seria chamado de oportunista.

    Dá um conselho a Dilma Rousseff: diz que a presidente precisa lançar uma cruzada em busca de entendimento com as lideranças da sociedade, porque o diálogo com os partidos anda radicalizado. Faz este julgamento da presidente: diz que ela é uma mulher de "caráter límpido" e honesta que não sabe manejar as peças do xadrez político.

    É duro com o atual Congresso: concorda que é o pior já eleito. Não vê, no cenário político, nenhum nome em quem possa apostar as fichas para a Presidência da República. Duvida que Lula, "se puder", vá se candidatar, porque o ex-presidente correria o risco de jogar fora o capital que acumulou quando estava no poder.

    Uma revelação sobre os bastidores do poder: o ex-senador diz que, assim que assumiu a Prefeitura do Rio, recebeu um recado das empreiteiras. Em resumo: o recado dizia que era praxe as empreiteiras encaminharem ao prefeito, para suas "atividades políticas", um percentual do faturamento obtido com obras. Saturnino deveria dizer se mantinha a velha praxe ou se sugeria algum outro percentual. O prefeito mandou dizer que não aceitava a oferta - mas, quando chegasse a época das eleições, iria, sim, pedir ajuda das empreiteiras para a campanha.

    É uma declaração rara entre políticos que exercem ou exerceram cargos executivos: a admissão de que recebeu ofertas.

    Aqui, o trecho em que o ex-prefeito revela seus mais preocupantes temores sobre o desfecho da atual crise política:

    GMN: A curto prazo, o que o senhor acha que pode acontecer com essa crise política? Qual é o desfecho?
    Saturnino Braga: "O desfecho pode ser processual, no Congresso, com um impeachment; pode ser o governo da presidenta Dilma conseguindo recompor a maioria - com Lula ajudando; pode ser a continuação desse atrito aí; pode ser um confronto de rua lamentável - que pode ocorrer; pode haver uma guerra. E uma guerra me lembra de cinquenta e dois anos atrás:1964. Porque 1964 foi uma guerra. Ali, houve um confronto. E nenhuma das duas partes em confronto, aqui pra nós, tinha apreço pela democracia,. A esquerda queria realmente fazer a revolução brasileira. E a direita - os americanos, muito especialmente - no auge da Guerra Fria, não podia tolerar uma segunda Cuba no continente do tamanho do Brasil.
    Era uma guerra. A sociedade brasileira não estava preparada para aquela guerra. E o que houve? Uma intervenção militar. O clima não permitia conciliação. Deu-se a guerra. E - da guerra - deu-se a intervenção militar. Se houver uma nova guerra aqui, quem é vai desempatar essa guerra? A minha preocupação é profunda, é enorme. Estou inibido. Não estou mais na linha de frente para atuar. Só para perceber e me preocupar profundamente".

    GMN: Para ser bem direto: o senhor teme uma intervenção militar?
    Saturnino Braga: "Temo. Porque os militares são pessoas formadas e educadas para "defender a pátria", como eles dizem, defender o Brasil. Se o Brasil é ameaçado por uma guerra interna, por uma radicalização que paralise a economia e jogue toda a atividade brasileira no chão, você acha que os militares vão ficar paralisados e assistindo a isso? Eu acho não".

    GMN: Isso parece uma preocupação minoritária. Poucas pessoas falam a sério do risco de uma intervenção militar. Que indícios o senhor vê?
    Saturnino Braga: "Não vejo nenhum indício. Vejo numa situação concreta que pode exigir um desempate a favor do Brasil. Quem é que pode desempatar uma guerra interna a favor do Brasil?".

    GMN: Quando o senhor fala em guerra interna, o senhor se refere a conflitos de rua ?
    Saturnino Braga: "A conflitos de rua e a situações inconciliáveis : uma obstrução das instituições. Pode haver baderna no Congresso; não funcionar mais a instituição. Pode haver invasão do poderes; muita coisa pode acontecer de grave, extremamente grave, num clima de tensão que está numa escalada que a gente não pode imaginar onde vai parar".

    GMN: Se o senhor participasse um gabinete de crise e fosse convocado a Brasília par uma reunião de emergência no Palácio do Planalto, qual o primeiro conselho que o senhor daria a Dilma Rousseff?
    Saturnino Braga: "Convoque a nação, convoque os líderes empresariais, os líderes sindicais, os líderes estudantis - enfim, as lideranças da sociedade - e procure um entendimento para encontrar a saída, porque, pelos partidos políticos, parece que que a coisa vai à guerra. E, na guerra, a gente não sabe o final".

    GMN: Se a situação se agravar, a ponto de a presidente estar diante de duas opções - a renúncia ou enfrentar o impeachment - o que é que o senhor diria a ela?
    Saturnino Braga: "O caminho da renúncia é sempre um caminho deprimente. É um caminho que tem conotações de diminuição e de redução da personalidade. Eu não daria a ninguém o caminho da renúncia. Já o caminho do enfrentamento cego também acaba em deposição. É preciso fazer o esforço da negociação com a sociedade, na medida em que negociação com os partidos políticos está muito fechada, muito complicada, muito radicalizada. Com as lideranças empresariais, lideranças sindicais, lideranças estudantis, lideranças da juventude, lideranças da mídia, é preciso buscar na sociedade a possibilidade de um entendimento, a viabilidade de um entendimento!".

     

  • GHIGGIA, O 'CARRASCO', MANDAVA FLORES PARA OS JOGADORES BRASILEIROS


    Duas cenas comoventes me vêm à lembrança agora, quando recebi a notícia da morte de Ghiggia, o mais célebre "carrasco" da história do futebol brasileiro.

    Ghiggia nos recebeu para uma longa entrevista, em 2013, na casa modesta onde vivia, em Las Piedras, perto de Montevidéu.

    Primeira cena: diante da câmera - e também nos bastidores - ele usou uma palavra bonita para explicar por que evitava falar da Copa de 50 quando se encontrava com os jogadores brasileiros - de quem tinha ficado amigo.

    Não falava da Copa de 50 por "respeito" aos brasileiros. "Respeito" - era esta a palavra que ele usava. Porque sabia que a glória dos uruguaios em 1950 era uma dor brasileira.

    Pensei, na hora: eis aí um campeão legítimo, um herói uruguaio que, por sobre toda rivalidade com o Brasil, falava em respeito - tanto tempo depois.

    Segunda cena: aos 86 anos, Ghiggia fez uma pequena confissão: fazia planos de terminar logo a construção da casa - também modesta - para onde pretendia se mudar em companhia da mulher. Viúvo, tinha se apaixonado por Beatriz, quatro décadas mais nova. Os dois faziam planos para o futuro, como jovens apaixonados.

    O campeão não deve ter tido tempo de se mudar para a casa que estava construindo aos poucos. Mas deixou, ali, naquele encontro com o repórter, uma dupla lição: de respeito pelos brasileiros e de amor juvenil por Beatriz.

    Uma canção anarquista italiana diz: "mandem flores para os rebeldes que falharam". Era o que Ghiggia fazia: ao declarar "respeito" à Seleção Brasileira de 50, ele estava, na verdade, mandando flores para os jogadores que falharam.

    Neste 16 de julho, é a nossa vez: de mandar flores para o campeão que sai de cena e para Beatriz, a última paixão de Ghiggia.

  • ROBERTO CARLOS ESTAVA CERTO - COMO DOIS E DOIS SÃO CINCO

    Quarta-feira, dez de junho de 2015. Justiça seja feita: o Supremo Tribunal Federal escreveu um capítulo brilhante na história da liberdade de expressão no Brasil. Por nove votos a zero, o STF mandou para o lixo a censura prévia às biografias. Ninguém votou pela manutenção do obscurantismo. A ministra Cármen Lúcia pronunciou aquela que é, desde já, presença certa na lista das frases do ano: “Cala a boca já morreu”. Ou seja: ninguém pode calar a boca de ninguém.

    (É óbvio que, numa democracia, todas as partes têm todo o direito de se manifestar nos tribunais. Mas não custa nada anotar que o advogado de Roberto Carlos fez um papel patético: virou a única voz pró-obscurantismo. Peço licença aos senhores jurados para manifestar um pensamento politicamente incorreto: ao ouvir parte das perorações do representante do senhor RC, tive a tentação de pensar que advogado consegue ser pior do que jornalista! Por um bom “cachê”, um advogado é capaz de defender publicamente censura ou, por exemplo, encontrar em cinco minutos uma dúzia de atenuantes para um selvagem que ataca os outros com uma faca numa festa....).

    Uma nota paralela: o país esperava, há meses, que o Senado Federal, assim como ocorrera com a Câmara dos Deputados, derrubasse a censura prévia a biografias. O Senado demorou, demorou, demorou. Não votou a matéria até hoje. Resultado: o STF é que vai ficar, com todas as honras, com os “louros” da vitória. O Senado engoliu mosca. Lamentável. Perdeu uma grande chance de tomar uma decisão histórica.

    Roberto Carlos começou com toda esta confusão. Pisou na bola feíssimo.

    A obsessão de Roberto Carlos em censurar uma biografia que, no fim das contas, lhe é elogiosa parece ser um caso clínico. Triste, triste, triste. Não é exagero dizer que Roberto Carlos manchou a própria biografia ao investir contra os biógrafos.

    Justiça seja feita - de novo: é um grande intérprete. O repertório é cheio de altos e baixíssimos. Aquele verso “meu cachorro me sorriu latindo” é indefensável sob qualquer critério: estético, ético, veterinário, filosófico, artístico, musical, sinfônico, sociológico ou antropológico. Há momentos gloriosos: aquele disco “Roberto Carlos em ritmo de aventura” é bonito.
    Idem para “O inimitável”.

    Roberto Carlos cantando “Como dois e dois” - música bonita de Caetano Veloso - é emocionante:

    Há uma sintonia indiscutível entre Roberto Carlos e o gosto popular.

    Estive há pouco no sertão de Pernambuco, numa cidade minúscula chamada Solidão, para gravar um documentário para a Globonews.

    Era dia de feira: uma caixa de som, na rua, passou o dia inteiro tocando Roberto Carlos. Numa entrevista, um morador, homem humilde que sonhava em um dia conhecer o Rio de Janeiro, dizia que admirava a cidade porque era lá que vivia a maioria dos artistas. “E Roberto Carlos, para mim, é o número um”, disse, com os olhos brilhando.

    A sintonia entre RC e o gosto popular existe e sempre existiu.

    Pergunta-se: por que um artista com tanta presença na história dos brasileiros se meteu numa “roubada” dessas?

    Não há meias palavras: as atitudes de Roberto Carlos no caso das biografias são indefensáveis, indefensáveis, indefensáveis. A beleza de tantas das interpretações de Roberto Carlos é igualmente indiscutível.

    Um exemplo aleatório, entre tantos: uma música que nem fez tanto sucesso. Chama-se “Alô”. É provável que os versos soassem banais na voz de qualquer outro intérprete. Cantados por Roberto Carlos, vão fundo. É esta a diferença: https://goo.gl/gS1dT4

    Sou insuspeitíssimo para falar, porque perdi a conta de parágrafos que escrevi contra a censura prévia a biografias. Detonei as lamentabilíssimas atitudes do “Rei”. (Já o entrevistei algumas vezes. Tenho certeza de que ele jamais me dará outra entrevista. Tudo bem). Mas sei: o que Roberto Carlos já cantou é maior do que qualquer polêmica em que ele tenha se envolvido. É o que vai ficar. Um dia, a briga pela publicação das biografias estará esquecida. Uma caixa de som de alguma cidade do sertão estará tocando uma música de Roberto Carlos.

    De qualquer maneira, não posso deixar de dizer: nessa confusão toda, as coisas que Roberto Carlos fez e disse estão certas, sempre estiveram certas - como dois e dois são cinco.

  • MALUF DIZ QUE DEU DINHEIRO PARA CAMPANHAS DE TANCREDO

    Paulo Maluf durante entrevista para Geneton Moraes Neto
    A Globonews exibe hoje, às 15h30, reprise da entrevista exclusiva com Paulo Maluf


    O ex-governador de São Paulo e duas vezes candidato a Presidente da República Paulo Maluf revela: deu dinheiro para campanhas eleitorais de Tancredo Neves ao Senado e ao governo de Minas - um gesto que surpreende, já que os dois, durante toda a vida, militaram em campos opostos. Maluf e Tancredo se enfrentariam na última eleição indireta para a escolha de um Presidente da República - em 1985.

    A declaração de Maluf - a primeira que ele dá, publicamente, sobre esta cena dos bastidores da política brasileira - foi feita em entrevista que o ex-governador nos deu, para o DOSSIÊ GLOBONEWS, no palacete em que mora, em São Paulo. Maluf atribui a ajuda a uma questão de amizade pessoal.

    A ajuda de Maluf, nos bastidores, à campanha eleitoral de Tancredo Neves ao governo de Minas foi tratada pelo repórter político Jorge Bastos Moreno, num dos capítulos do livro "A História de Mora - a Saga de Ulysses Guimarães. Ali, Moreno dá uma explicação política ao surpreendente gesto de Maluf: diz que não foi apenas uma questão de amizade pessoal. Maluf já se articulava para tentar suceder o general Figueiredo na Presidência da República. Se o adversário de Tancredo Neves na eleição para o governo de Minas - Eliseu Resende - vencesse a disputa, quem sairia fortalecido seria Mário Andreazza, aliado de Resende, ministro de Figueiredo e também de olho na Presidência. Maluf não tinha, portanto, o menor interesse na eleição de Resende. É uma explicação possível.

    Maluf ataca, na entrevista, o general Newton Cruz, ex-chefe da agência central do Serviço Nacional de Informações, o SNI. Os dois estão brigando, na justiça, porque o general acusa Maluf de tê-lo procurado para insinuar que alguma coisa deveria ser feita para tirar Tancredo Neves do páreo. Maluf teve uma reação agressiva quando o assunto foi tratado na entrevista. Chegou a perguntar ao repórter: "Quer dizer que meu rabo vale para todo mundo e o seu não vale?".

    Quando perguntei se ele seria capaz de comprar um carro usado de um fugitivo da Interpol - no caso, o próprio Paulo Maluf - ele respondeu que compraria, sim. Disse que aceita de submeter um interrogatório - mas só se for aqui no Brasil. Recusa-se a ir aos Estados Unidos. Um promotor americano quer ouvir Maluf sobre depósitos suspeitos identificados no sistema bancário americano. Maluf se recusa a ir até lá. Por este motivo, entrou na lista de procurados.
     
    Um trecho da entrevista de Maluf:

    GMN: É verdade que o senhor ajudou financeiramente Tancredo Neves quando ele foi candidato ao governo e ao senado em Minas Gerais?

    Maluf: "Arrumei recursos para ele ser eleito senador e recursos para ele ser eleito governador".

    GMN: Tancredo Neves pediu dinheiro ao senhor?

    Maluf: "Não. Nunca pediu. Era um homem ético e de um elegância rara. Era aquele PSD mineiro verdadeiro. quando a gente se encontrava, ele dizia "Paulo, você trem aí um funcionário seu que pode me ajudar...alguma coisa que você possa fazer por mim? " Tancredo intuía e eu entendia".

    GMN: O senhor revelou surpreendentemente que deu uma ajuda financeira a campanhas eleitorais de Tancredo Neves em minas ao governo e ao senado.  Que interesse o senhor tinha na eleição de Tancredo Neves em Minas Gerais?

    Maluf: "Nenhum! Eu era amigo pessoal de Tancredo. Era um homem de bem e honrado. Político conversa com político. Tancredo precisava de alguns recursos. Indiquei pessoas que foram falar com ele. Quero dizer o seguinte: a sorte de Minas Gerais é que Tancredo foi eleito, naquela ocasião, governador. Quero dizer que o azar do Brasil foi Tancredo ter morrido antecipadamente. Teria sido um grande Presidente".

    GMN: Quem eram essas pessoas que o senhor indicou para efetivar a ajuda financeira a Tancredo Neves ?

    Maluf: "Com todo respeito à pergunta, sobre certos fatos de trinta anos atrás, você não vai colocar as pessoas na berlinda para depois outro ir lá perguntar. Mas foi dada, sim, ajuda financeira: assumo a responsabilidade. Era dinheiro lícito e doação legal".

    GMN: O ex-chefe da agência central do Serviço Nacional de Informações, general Newton Cruz, disse que foi procurado pelo senhor para uma conversa a sós. Nessa conversa, na casa do general, em Brasília, o senhor teria insinuado que o então candidato Tancredo Neves deveria ser removido do cenário. O senhor já negou que tenha feito tal insinuação, mas a pergunta que fica é a seguinte: o que é que um candidato, como o senhor era, tinha a tratar de tão sigilioso com o general-chefe da agência central do SNI?

    Maluf: "Digo olho no olho que o general Newton Cruz - que estava completamente afastado da mídia-  pregou uma grande mentira para poder aparecer: agrediu Paulo Maluf. Com todo respeito, general newton cruz: o senhor é um mentiroso!".

    GMN: Mas o senhor teve esse encontro com ele?

    Maluf: "Não é só com ele: é com ele, com governadores, com generais, com embaixadores, com senadores, com deputados federais, todos os dias -  ou no Congresso ou em reuniões em embaixadas. Eu conhecia, sim, o general. Mas é uma sordidez a afirmação que ele faz".

    (Newton Cruz no Dossiê Globonews, em 2010: "De repente, ele apareceu na minha casa, na residência do Comando Militar do Planalto. Eu sabia, o Brasil inteiro sabia que Tancredo ia ganhar. Ele sabia. Por isso, foi à minha casa. Conversou comigo, numa conversa de joão-sem-braço: que era preciso fazer alguma coisa, para evitar que Tancredo tomasse posse...")

    GMN: O senhor processou o general?

    Maluf: "O processo ainda não terminou. Mas quero ver este general condenado".

    GMN :O senhor quer que ele retire o que disse?

    Maluf: "Não precisa retirar. É mentiroso. Mas me diga o seguinte: você nunca deu crédito ao general Newton Cruz! Por que é que agora você dá crédito ao general?  Só porque ele falou mal de Paulo Maluf?"

    GMN: Eu entrevistei Newton Cruz...

    Maluf: "Quer dizer que meu rabo vale para todo mundo e o seu não vale? Em alto e bom som para ficar gravado e pra você botar no ar: você é dos brasileiros que acreditam nele?"

    GMN: Não tenho motivo pata duvidar, como não tenho motivo para duvdar do senhor aqui....

    Maluf: "Quero que vá para o ar : Geneton disse que acredita em Newton Cruz!  Dê licença! Eu acho que essa pecha vai ficar no jornalismo contra você o resto da vida...Se você o leva a sério, você foi ludibriado..."

    GMN: O  senhor - que já enfrentou tantas campanhas eleitorais - com certeza recebeu nos bastidores informações impublicáveis sobre os adversários. O sehor confirma que recebeu uma cópia da ficha médica do então candidato a presidente e adversário do senhor,  Tancredo Neves?  Quem lhe passou essa informação? O senhor teve a tentação de usar essa informação contra Tancedo Neves?

    Maluf: "A ficha médica tal como foi eventualmente arquivada no serviço médico da Câmara eu não vi. Mas tive uma informação fidedigna de pessoa insuspeitas. Primeiro: o deputado federal Renato Cordeiro - que era médico - viu quando Tancredo Neves entrou no ambulatório da Câmara dos Deputados amparado pelo deputado federal Israel Pinheiro Filho - que, com seus dois metros de altura e cento e cinquenta quilos, escondeu Tancredo. Doutor Renault Mattos avaliou a eventual doença que Tancredo tinha. Também tive por parte de Flávio Marcílio - que era presidente da Câmara dos Deputados -  a informação de que Tancredo Neves tinha uma infecção. Ninguém sabe exatamente o que ele tinha dentro de si, porque Tancredo não quis se examinar. Políticos escondem a doença porque acham que a doença é um impeditivo para uma eleição. Isso foi o caso de Tancredo: tinha um abcesso grande na barriga. Tinha de ter aberto , tirado o abcesso , o eventual tumor que ele tinha - e, com certeza, Tancredo seria presidente da República por cinco, seis anos".

    GMN: O senhor teve, em algum momento, a tentação de usar essa informação privilegiada contra a candidatura de Tancredo Neves?

    Maluf: "Fui aconselhado a usar. Mas me neguei.  Quem me aconselhou foi Prisco Viana - que era braço direito de José Sarney na antiga Arena, no PDS. Sarney foi o presidente do partido. Eu disse: não.  Quero ganhar ganhando, não quero ganhar com os outros perdendo".

    GMN: O senhor já repetiu centenas de vezes que não tem conta no exterior, mas , em meio à investigação sobre o desvio de dinheiro quando o senhor ocupava o cargo de prefeito, o City Bank de Genebra informou que a conta número 334-018 pertencia a Paulo Maluf. O senhor - que sempre foi notoriamente religioso - seria capaz de jurar com a mão sobre a Bíblia que o Paulo Maluf dono dessa conta não é o senhor?

    Maluf: "Quero dizer a você muito claramente: desde já, em cartório, lavro uma procuração para que este dinheiro fique de sua propriedade. Vão buscar um a conta que digo que não é minha....Já estou dando para você a procuração para você ficar com o dinheiro - e você não sorri de felicidade?".

    (O Dossiê Globonews procurou o dinheiro. Primeiro contato: o Ministério Público de São Paulo. O promotor José Carlos Blat informou que as contas investigadas não têm Paulo Maluf como titular, mas como um dos beneficiários.  Depois de acordos com bancos estrangeiros, o Ministério Público já conseguiu que 52 milhões de dólares fossem devolvidos à Prefeitura de São Paulo, o dinheiro já foi depositado na conta da Prefeitura ).

    GMN: O senhor disse que, comparado com Lula, hoje se considera um comunista. Isso é uma ironia ou é verdade?

    Maluf: "Não mudei. Mas Lula, graças a Deus, mudou para melhor. O Lula de 89 contra Collor era um Fidel Castro - que vinha para invadir e expropriar fazendas,  fazer o diabo. A sorte do Brasil é que Lula foi derrotado três vezes: cada derrota foi pedagógica. Depois, Lula foi eleito. O quanto ele ajudou a indústria automobilística - que é multinacional ! O quanto ele ajudou os banqueiros - com juros altos e lucros astronômicos ! Perto de Lula, hoje, eu me sinto um comunista..."

    GMN: O senhor - que era deputado federal - não votou a favor das eleições diretas. O senhor se arrepende de ter ido contra a vontade popular - ou: não ter votado pelas diretas?

    Maluf:"Se eu conhecesse a história a história futura, diria que me arrependo. Mas quem me pediu para votar contra as diretas - e você pode conferir com ele - foi o presidente do PDS, José Sarney.
    Vou contar uma coisa que ninguém sabe: o presidente do Senado, Moacyr Dalla, recebeu uma ligação telefônica de Tancredo Neves - que pediu que não fossem votadas as eleições diretas no Senado, já que ele, Tancredo, já tinha ganhado as indiretas....Ou seja: quem não queria as diretas foi Tancredo Neves, foi José Sarney. Aquilo tudo foi uma armação, uma falsidade para eleger Tancredo e Sarney".

    Uma anotação sobre os bastidores da entrevista:
    Por uma questão de justiça, diga-se que as performances de Maluf diante de uma câmera são, sempre, garantia de um bom espetáculo televisivo.

    É capaz de ouvir todo e qualquer tipo de pergunta sem dar sinais de abalo - mas eventualmente se irrita.

    O ex-governador de São Paulo sempre apostou alto, altíssimo. Tentou duas vezes ser Presidente da República. A primeira, em 1985: enfrentou o candidato do MDB, Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral, na última eleição indireta para presidente realizada no Brasil. Teve 180 votos, contra 480 de Tancredo Neves.
    Tentou de novo o Palácio do Planalto - na eleição direta de 1989, a primeira realizada no país depois do fim do regime militar. Chegou em quinto lugar - atrás de Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola e Mário Covas. Teve 5.986.575 votos.

    (a propósito: em certo momento da entrevista, Maluf diz que, diante do que aconteceu depois, se arrepende de não ter dado apoio à emenda que restabelecia eleições diretas para a Presidência da República, em 1984. Mas "tira o corpo": "Quem me pediu para votar contra as diretas - e você pode conferir com ele - foi o presidente do PDS, José Sarney".

    Fica claro que Maluf até hoje não engole o fato de Sarney, por um grande acaso, ter recebido a Presidência da República "de presente").

    Paulo Maluf respondeu, também, a perguntas sobre as repetidas denúncias de superfaturamento em obras públicas quando era prefeito de São Paulo. Num momento de irritação, disse que o locutor-que-vos-fala poderia ficar com todo o dinheiro que por acaso fosse encontrado em nome de Maluf no exterior. Mas há dinheiro, sim, no exterior, não necessariamente em nome da pessoa física Paulo Maluf - é o que informa o Ministério Público de São Paulo.

    Em meio ao inacreditável vai-e-vem da política brasileira, Maluf hoje apoia Lula e Dilma. Terminada a entrevista, numa conversa rápida antes das despedidas, enquanto o dublê de cinegrafista e editor de imagens Aldrin Luciano Gazio desmontava o equipamento, Maluf arriscou um palpite para a eleição presidencial de 2018: diz que Lula pode, sim, voltar a concorrer. Aposta que o candidato do PSDB será o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, porque Aécio Neves, segundo Maluf, não terá condições políticas de se lançar candidato de novo. Fica registrada a previsão.

  • ANOTAÇÕES DE UM ENCONTRO COM O GENERAL LEÔNIDAS PIRES GONÇALVES - QUE SAIU DE CENA HOJE


    O general Leônidas Pires Gonçalves morreu hoje, aos 94 anos de idade. Gravei com ele para o Dossiê Globonews uma entrevista que deu o que falar, porque o general, ministro do Exército do primeiro governo civil depois da ditadura, manifestou posições duras, para dizer o mínimo. Disse, por exemplo, que o Brasil não teve exilados - mas "fugitivos". E assim por diante.
    (Tentei cumprir, ali, o papel de repórter: o de tentar levar ao público "diferentes visões do mundo" - sem exercer "patrulhagem ideológica" sobre o entrevistado. Nem sempre é fácil. Diante do general, fiz o que fiz diante de ex-guerrilheiros - per exemplo: perguntas. Ponto. Que outra coisa um repórter pode fazer?).
    Um detalhe curioso: o general só aceitou dar entrevista depois da terceira tentativa. A princípio, relutou, disse que já tinha falado antes, mas insisti, apelei para a vaidade do possível entrevistado: disse que seria importante que ele contasse, com detalhes, o que aconteceu na noite em que o presidente eleito Tancredo Neves foi internado às pressas num hospital de Brasília, na véspera da posse. O general, como se sabe, se aproximou de uma roda de políticos que discutiam, no hospital, quem deveria tomar posse: se o vice-presidente José Sarney ou se o presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães.
     
    Ainda no telefone, Leônidas contou que o debate entre os políticos se encerrou quando ele disse que não havia o que discutir: pela Constituição, Sarney deveria assumir. (tal interpretação não era unânime entre os políticos ali presentes. O senador Pedro Simon, por exemplo, achava que quem deveria assumir era Ulysses, na condição de presidente da Câmara. Se Tancredo não iria tomar posse, o vice também não poderia). Dali, o general ligaria para José Sarney, já de madrugada. Quando notou que Sarney relutava em assumir o posto, Leônidas cortou a conversa algo bruscamente. Disse ao relutante Sarney que já havia problemas demais a serem resolvidos. Pronunciou, então, a frase que Sarney, tempos depois, disse que iria usar como título de um livro de memórias até hoje não publicado: "Boa noite, Presidente". 
     
    Em suma: Leônidas terminou cedendo ao meu argumento de que valeria a pena gravar ali, em  2010, uma entrevista sobre os vinte anos do fim do regime militar.  Um dia antes da gravação, liguei para o general, para confirmar. Leônidas reagiu: "Você se esqueceu de que combinou com um milico! Se eu disse que é amanhã às cinco da tarde, vai ser amanhã às cinco da tarde!".
    Depois, tivemos algumas conversas por telefone - e alguns encontros casuais, pelas ruas do Leblon.
    Nem faz tanto tempo, encontrei com o general no corredor do shopping Vitrine do Leblon, na avenida Ataulfo de Paiva. O general morava perto dali. Era um final de manhã. Estava sozinho. Caminhava com uma firmeza surpreendente para um nonagenário. Conversou comigo, animado.
    Fiz umas anotações assim que cheguei em casa. Dou uma checada agora: o encontro foi no dia cinco de junho de 2014 - há exatamente um ano, portanto.
    Palavras textuais do general - numa conversa que, obviamente, não era uma entrevista:
    "Tive o mesmo professor de Luís Carlos Prestes. E ele me disse: "Aquele foi o aluno mais brilhante que já tive". Eu digo que Prestes é o herói sem vitória. Tudo em que ele entrou deu errado".
    "Veja Lula: lá no Rio Grande do Sul, se usa a palavra ladino - é mais do que sabido. É ladino!".
    "E essa história do mensalão? Sempre houve compra de voto. Você acha que não houve compra de voto para a eleição de Fernando Henrique? Mas sempre foi pontual. A diferença é que, com o mensalão, foi sistemático".
    "Falam da espionagem dos EUA. Todo mundo faz - inclusive a gente!".
    "Sua virulência intelectual é igual à minha! Igual ! Igual !. E eu até brinquei na entrevista: disse que você tinha um laivozinho de esquerda..."
    "Devo ter recebido uns 400 telefonemas por causa da entrevista. E sabe quantas vezes reprisaram? Umas cem. Você tem a estatística oficial ?" (aqui, o general exagera no número de reprises da entrevista).
    O general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do governo Sarney
    "Noventa e três anos - e com a memória de vinte anos atrás! E mais: três vezes por semana, vou para a Academia".
    Aproveitei para perguntar se o Alto Comando indicava informalmente ao Presidente da República um nome de militar que deva ser promovido: "Não. Porque, ali, todo mundo quer. É tudo candidato! Fernando Collor me procurou em casa, depois de eleito. Queria saber se eu indicava um nome. Eu disse que não. Mas poderia citar três".
    "Disse a um amigo que tinha encontrado com você num restaurante. Perguntaram se a gente tinha conversado. E eu: "Não, porque as meninas tomaram a cena!". Lembranças a elas!". (aqui, o general se refere a duas crianças que "participaram" de outro encontro casual com ele).
    Por fim: faz três meses, voltei a ligar para o general. Propus a gravação de uma reportagem em que ele dialogaria com um ex-guerrilheiro. Poderia ser um diálogo importante: tanto tempo depois, personagens com visões radicalmente opostas poderiam debater, civilizadamente, os chamados "anos de chumbo". O general disse que preferia não participar do programa, mas, ainda assim, perguntou quem seria o ex-guerrilheiro convidado para a reportagem. Pareceu-me levemente tentado a aceitar o convite. Eu disse a ele que poderia ser, quem sabe?, Cid Benjamin - um dos participantes do sequestro do embaixador americano. Citei na hora o nome de Cid Benjamin - com quem tinha feito, igualmente, uma entrevista para o Dossiê Globonews. O general comentou: "Vou dizer uma coisa que você não sabe: ele foi prisioneiro meu" .Disse-me que tinha lembrança de ter visto a mãe de Cid e César Benjamin - bem jovens à época da guerrilha - preocupada com os filhos. "Eram meninos!". O general aproveitou para fazer uma tese de inesperado teor psicanalítico: achava que os dois tinham entrado para a luta armada provavelmente porque eram filhos de pais separados. Tempos depois, comentei com o próprio Cid o que tinha ouvido do general Leônidas. Cid riu, divertido, com a investida psicanalítica do general.
    Leônidas Pires disse que iria sondar amigos, para ver se algum toparia participar de um possível diálogo com um ex-guerrilheiro. 
    Não voltamos a nos falar.

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O blog apresenta reportagens orientadas pela fórmula ideal do jornalismo: quando entrevistava um personagem, Geneton fazia, a si mesmo, a pergunta sugerida por um editor inglês: "Por que será que estes bastardos estão mentindo para mim?". Esta coleção de posts, com entrevistas memoráveis, fica como um arquivo e uma homenagem do G1 a um jornalista apaixonado pela profissão.