PF: "Bolsonaro planejou, atuou e teve domínio de plano para golpe"
Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta quarta-feira (18) pelo jornal "Folha de S.Paulo" indica que metade dos brasileiros acha que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou promover um golpe após a derrota para Lula (PT) na eleição geral de 2022. São 52% ante os 39% que não acreditam nessa hipótese. Os que não sabem são 7%.
Em relação ao levantamento anterior, feito em março deste ano, a parcela dos que creem que Bolsonaro tentou dar um golpe oscilou negativamente e dentro da margem de erro. O percentual entre aqueles que acreditam na inocência do ex-presidente não mudou.
- Sim, tentou: 52% (55% em março);
- Não tentou: 39% (39% em março);
- e não sabem: 9% (7% em março).
Em novembro, a Polícia Federal entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o inquérito que investigava a tentativa de golpe de Estado em 2022. Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas foram indiciadas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
No documento, Alexandre de Moraes destaca que, segundo a PF, os indiciados atuavam como um grupo criminoso para "desacreditar o processo eleitoral, planejar e executar o golpe de Estado e abolir o Estado Democrático de Direito; com a finalidade de manutenção e permanência no poder, e com a característica de interligação entre eles, uma vez que alguns investigados atuaram em mais de uma tarefa, colaborando em diversos núcleos de forma simultânea e coordenada".
Em 14 de dezembro, a PF prendeu o general Walter Souza Braga Netto, por suspeita de participar da trama golpista.
Braga Netto é general da reserva do Exército. Ele também foi ex-ministro da Casa Civil e da Defesa do governo de Bolsonaro e foi candidato a vice na chapa com o ex-presidente que perdeu a eleição de 2022.
Segundo o instituto, os menos instruídos (59%), menor renda (60%) e nordestinos (64%) avaliam que Bolsonaro tentou dar um golpe. Aqueles com curso superior (47%), maior renda (59%), moradores da região Sul (50%) e evangélicos (52%) avaliam que Bolsonaro não está envolvido em trama golpista.
O Datafolha ouviu 2.002 eleitores nos dias 12 e 13 de dezembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Maioria acha que houve grande risco de golpe após eleição de 2022
Em 8 de janeiro de 2023, centenas de pessoas insatisfeitas com a vitória de Lula e sua posse, que aconteceu sete dias antes, invadiram e depredaram as sedes dos três poderes em Brasília após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o petista no pleito de 2022. A Polícia Federal investiga um possível planejamento para usurpar o poder e matar autoridades.
Por causa disso, o instituto também perguntou aos entrevistados sobre se o Brasil correu grande risco de sofrer um golpe de Estado na ocasião:
- 43% diz que correu grande risco;
- 17% diz que correu risco médio;
- 8% diz que correu risco pequeno;
- 25% diz que não correu risco:
- e 7% não sabe;
46% acham que Bolsonaro não participou de trama para matar autoridades
O Datafolha também apurou como a população avalia a trama que tinha como objetivo matar Lula, o vice-presidente, Geraldo Alckmin (MDB), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
- Teve participação: 39%
- Não teve participação: 46%
- Não sabem: 15%
Em novembro, a PF deflagrou uma operação que revelou um plano de militares do Exército para matar Lula, Alckmin e Moraes.
O plano — batizado de Punhal Verde e Amarelo — foi traçado no fim de 2022, pouco antes de Lula e Alckmin tomarem posse.
Quatro militares do Exército e um agente da PF, envolvidos com a estratégia golpista e homicida, foram presos.
Quatro dos cinco presos na operação estão na lista dos indiciados na trama golpista junto com Braga Netto. São eles:
- Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, general da reserva e homem de confiança de Bolsonaro
- Wladimir Matos Soares, policial federal que fazia a segurança no hotel de Lula durante a transição de governo.
- Rafael Martins de Oliveira, major do Exército
- Hélio Ferreira Lima, major de Exército
A PF não cita nenhuma ação de Bolsonaro, e o ex-presidente não foi alvo da operação.
Jair Bolsonaro (PL) e o general Braga Netto — Foto: Gabriela Biló/ESTADÃO CONTEÚDO