Jair Bolsonaro dá entrevista em Brasília — Foto: Adriano Machado/Reuters
A GloboNews apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem pedido a ministros e aliados "moderação" nos comentários sobre o relatório final da Polícia Federal que indicia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado.
Nesta terça (26), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou o relatório final da investigação da PF sobre a trampa golpista para a Procuradoria-Geral da República, que pode oferecer uma denúncia contra os alvos da apuração.
De acordo com interlocutores do Palácio do Planalto, o objetivo do pedido de Lula por contenção é evitar dar força a possíveis discursos de oposicionistas de que há uma "perseguição política" contra o grupo de Bolsonaro.
Embora Lula não esteja impedindo ministros de comentar os indiciamentos, o presidente tem recomendado "sobriedade" nas declarações.
A orientação tem sido seguida por integrantes do governo – que estão fazendo comentários mais comedidos sobre as conclusões da Polícia Federal.
Grupos do PL evitam comentários
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Apesar de alguns nomes do PL terem ido às redes sociais afirmar que os indiciamentos são apenas narrativas e que não há provas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro na trama golpista, nos grupos de WhatsApp de políticos do partido quase ninguém tem comentado o relatório final da PF.
Além do ex-presidente, outros políticos do PL, como o ex-ministro Braga Netto e o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do estado democrático, golpe de Estado e organização criminosa.
Aliados de Valdemar Costa Neto entendem que Bolsonaro também deveria adotar o silêncio sobre o caso e consideram um "erro" a entrevista concedida pelo ex-presidente na véspera da divulgação do relatório final da investigação.
Cúpula do Exército vê imagem 'arranhada'
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Nos bastidores, integrantes do comando do Exército avaliam que o relatório da PF gerou constrangimento e que a imagem da instituição está "arranhada" com as revelações feitas pelos investigadores sobre o envolvimento de militares na trama golpista.
Também relatam "surpresa" com o conteúdo de algumas mensagens, com termos pejorativos e ofensivos contra generais e comandantes que resistiram e não cederam a pressões golpistas.
Entretanto, o Exército quer ressaltar a ideia de que, apesar do envolvimento de militares de alta patente, a instituição em si não embarcou no plano de ruptura democrática.
Uma manifestação oficial da força, no entanto, não será emitida por enquanto. A ideia é aguardar eventual avanço do processo no STF.
Uma fonte do Exército diz que todo o episódio reforça a ideia de que militares não devem se envolver com a política, como tem ocorrido nos últimos anos e foi ampliado no governo Bolsonaro.
No Congresso, há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para diminuir a participação de militares da ativa na política. O texto, contudo, não é consensual dentro do governo Lula.