Por Gustavo Garcia, g1 — Brasília


  • O indiciamento de Jair Bolsonaro pela Polícia Federal por tentativa de golpe não traz novas consequências eleitorais imediatas, pois ele já está inelegível até 2030

  • No entanto, se a Procuradoria-Geral da República apresentar denúncia e o Supremo Tribunal Federal o condenar por organização criminosa, ele será enquadrado na Lei da Ficha Limpa, ficando inelegível por mais tempo

  • A Polícia Federal indiciou Bolsonaro e outras 36 pessoas por crimes como golpe de Estado e organização criminosa, com penas que variam de 3 a 12 anos de prisão

  • Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral já havia tornado Bolsonaro inelegível por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação nas eleições de 2022

  • Aliados de Bolsonaro esperam reverter a decisão do TSE em 2026 ou conseguir anistia através de um projeto no Congresso, embora essa proposta tenha perdido força recentemente

Ex-presidente Jair Bolsonaro 04/10/2022 — Foto: REUTERS/Adriano Machado

O indiciamento pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe, por si só, não gera novas consequências eleitorais para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – que atualmente já está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Entretanto, se, futuramente, a Procuradoria-Geral da República (PGR) oferecer uma denúncia contra o político do PL e o Supremo Tribunal Federal (STF), eventualmente, condená-lo por organização criminosa, Bolsonaro será enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

A lei foi sancionada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2010 e prevê que:

  • quem for condenado por uma lista de crimes, que inclui o de organização criminosa, pode ser proibido de disputar eleições futuras – ou seja, fica inelegível;
  • essa condenação precisa ser definitiva, ou vir de um órgão colegiado – por exemplo, de uma das Turmas ou o plenário do Supremo Tribunal Federal;
  • a inelegibilidade é longa: vale desde a condenação até o prazo de 8 anos após o cumprimento da pena.

"Imagine uma pessoa que é condenada, colegiadamente, em 2025, a 12 anos de reclusão, e que começa a cumprir a sua pena em 2030, e que, portanto, encerra o cumprimento da pena em 2042. Essa pessoa ficará inelegível de 2025, data da decisão colegiada, a 2050, data em que se encerrará o prazo de 8 anos contados do fim do cumprimento da pena aplicada no processo criminal", explicou ao g1 o advogado Matheus Pimenta de Freitas, que atua nas áreas eleitoral e criminal.

🔎 Nesta quinta-feira (21), a Polícia Federal encaminhou ao Supremo o indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas – a maioria militares – pelos crimes de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa.

As penas previstas para essas condutas são:

  • golpe de Estado: 4 a 12 anos de prisão;
  • abolição violenta do estado democrático de direito: 4 a 8 anos de prisão;
  • organização criminosa: 3 a 8 anos de prisão.

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentar dar golpe de Estado

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Caso seja condenado pelas penas máximas previstas pelo Código Penal aos crimes em que foi enquadrado, sem agravantes, o ex-presidente poderia pegar até 28 anos de prisão. Assim, ele só poderia retornar à vida política em 2060, aos 105 anos, totalizando 37 anos afastado.

Se essa condenação acontecer após o dia 21 de março de 2025, aniversário de Bolsonaro, a pena máxima pode ser reduzida. Isso porque o Código Penal prevê a idade acima de 70 anos como uma circunstância atenuante, mas sem estipular o tempo de redução da pena.

Bolsonaro já está inelegível

Em junho de 2023, o TSE condenou o ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação nas eleições de 2022.

Na ocasião, os ministros da Corte Eleitoral, à época presidida por Alexandre de Moraes, analisaram ação proposta pela coligação do presidente Lula contra a realização de uma reunião com embaixadores estrangeiros, no Palácio da Alvorada.

Nessa reunião, o então presidente e pré-candidato à reeleição difamou sem provas o sistema eleitoral brasileiro. O encontro, ocorrido em julho de 2022, foi transmitido pela TV oficial do governo.

Ao condenar o ex-presidente, a Corte Eleitoral declarou Bolsonaro inelegível por oito anos e somente poderá voltar a disputar as eleições gerais de 2030, quando estará com 75 anos. Veja abaixo:

Inelegível: TSE condena Bolsonaro por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação

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➡️ Aliados do ex-presidente, no entanto, nutriam a esperança de uma reversão da decisão do TSE pela própria Corte, em 2026 – quando o tribunal será presidido pelo ministro Nunes Marques, que foi indicado pelo ex-presidente ao STF em 2020.

Em outra frente, apostam na aprovação de um projeto em tramitação no Congresso Nacional para anistiar pessoas envolvidas nos atos contra a democracia praticados desde 2022.

A proposta, no entanto, tem perdido força com os recentes episódio de violência contra as instituições, especialmente, de ataques contra o Poder Judiciário.

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