Por Arthur Stabile, g1


Bolsonaro disse que 'qualquer ação' poderia acontecer até 31 de dezembro de 2022

Bolsonaro disse que 'qualquer ação' poderia acontecer até 31 de dezembro de 2022

Em trecho de conversa entre o general da reserva Mario Fernandes, preso nesta terça-feira (19) em operação da PF, e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o militar disse que conversou com o ex-presidente sobre supostas ações golpistas e que ouviu dele que "qualquer ação" poderia acontecer até o último dia de 2022.

"Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo", diz o trecho da conversa feita 2022 contido em relatório da PF.

Vagabundo seria uma referência ao presidente Lula, na época presidente eleito, e que foi diplomado pelo TSE em 12 de dezembro daquele ano.

A conversa foi obtida pela investigação da Polícia Federal (PF) que deflagrou uma operação nesta terça-feira (19) contra uma organização criminosa que teria planejado um golpe de Estado após as eleições de 2022 para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e restringir a atuação do Poder Judiciário.

Segundo a PF, entre as ações elaboradas pelo grupo havia um "detalhado planejamento operacional, denominado 'Punhal Verde e Amarelo', que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022" para matar os já eleitos presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Além disso, havia um plano para matar o ministro Alexandre de Moraes, que na época era presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

A PF não cita nenhuma ação de Bolsonaro, e o ex-presidente não foi alvo da operação.

Outro trecho da conversa com Cid obtido pela PF, Fernandes demonstra preocupação com a possibilidade de o movimento dos apoiadores de Bolsonaro, que na época estavam acampados em frente aos quartéis, perder força, e que ele teria conversado isso com o então presidente.

"A partir de semana que vem, eu cheguei a citar isso para ele, das duas uma, ou os movimentos de manifestação na rua, ou eles vão esmaecer ou vão recrudescer. Recrudescer com radicalismos e a gente perde o controle, né? Pode acontecer de tudo. Mas podem esmaecer também.

Imagens do general no acampamento golpista — Foto: Reprodução

O general visitou o Palácio do Alvorada em 8 de dezembro de 2022, disse ter conversado com Jair Bolsonaro (PL) e comemorou, em áudio, que o então presidente aceitou o "nosso assessoramento" após o ex-presidente voltar a se manifestar publicamente sobre a eleição de 2022.

A visita ao Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência da República, aconteceu às 17h daquele dia e foi confirmada pela PF nos registros oficiais de acesso ao local.

Bolsonaro estava no Alvorada no dia 8 de dezembro. Naquele dia, segundo o próprio ex-presidente, que ele recebeu lá o senador Marcos do Val e o ex-deputado Daniel Silveira.

No dia seguinte, 9 de novembro, Bolsonaro rompeu o silêncio em que se mantinha desde a derrota para Lula (PT) na eleição de outubro e falou com apoiadores em frente ao Alvorada.

No discurso, Bolsonaro afirmou que as Forças Armadas eram "o último obstáculo para o socialismo" e ter certeza de que elas estavam "unidas e devem, assim como eu lealdade ao nosso povo, respeito à Constituição".

O então presidente derrotado disse ainda que iriam vencer, e que tudo daria certo "no momento oportuno."

Em áudio encaminhado a Mauro Cid, ajudante-de-ordens de Bolsonaro, pouco depois, Mario Fernandes comentou o episódio.

"Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara para o público dele, para a galera que confia, acredita nele até a morte".

O militar também disse que, após falar com Bolsonaro, o grupo tinha perdido muitas oportunidades de colocar o plano golpista em prática.

"Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades", disse Fernandes para Cid, segundo o documento da PF.

Quem é quem no plano de golpe que previa matar Lula

Quem é quem no plano de golpe que previa matar Lula

Mario Fernandes é general da reserva — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Fernandes era 'ponto focal' do governo Bolsonaro com golpistas, diz PF

Durante o governo Bolsonaro, Fernandes ocupou o cargo de chefe substituto na secretaria-geral da Presidência da República, o que lhe dava, segundo a PF "estreita proximidade com o então presidente Jair Bolsonaro".

De acordo com as investigações, Fernandes tinha também relação integrantes dos movimentos golpistas, como os caminhoneiros que estavam acampados em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília.

"O contexto das mensagens evidencia que Mário Fernandes era o ponto focal do governo de Jair Bolsonaro com os manifestantes golpistas", diz a PF.

A PF cita que, após o encontro com Bolsonaro, Fernandes pediu a Mauro Cid para que o então ajudante-de-ordens pedisse ao presidente para atuar para evitar a apreensão de caminhões em frente ao QG do Exército por ordem da Justiça.

"Então isso seria importante, se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça para segurar a PF ou para a Defesa alertar o CMP [Comando Militar do Planalto], e, porra, não deixa", disse Fernandes.

Em resposta, Cid se comprometeu a falar com Bolsonaro sobre o assunto.

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