Por Lorena Fraga, Gabriella Soares, Elisa Clavery, GloboNews — Brasília


Discussão e votação de propostas na Câmara — Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

Em meio ao prazo inicialmente estabelecido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para anunciar qual nome terá seu apoio na sucessão pelo comando da Casa, a disputa segue sem um favorito claro e três deputados do Centrão insistem que não vão desistir.

Embora um nome tenha a preferência de Lira, o de Elmar Nascimento (União-BA), a falta de certeza sobre seu sucesso tem se tornado uma dor de cabeça para o alagoano, segundo parlamentares.

Enquanto isso, os outros dois pré-candidatos “correm por fora” e buscam estratégias para ganhar apoio: Antonio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

Segundo aliados de Lira, o presidente da Câmara queria “cumprir um ritual” antes de fazer o anúncio: tratar do tema com o presidente da República, em uma espécie de reverência e, também, numa tentativa de fazer com que o governo não interfira na disputa. A reunião aconteceu nesta quarta-feira (28).

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira rejeita título de antagonista do governo

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Os candidatos

Elmar Nascimento (União-BA)

O deputado Elmar Nascimento (União-BA), líder do União Brasil na Câmara — Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Uma fonte próxima ao presidente da Câmara garante que Elmar será o nome escolhido por Lira.

Hoje líder do maior bloco da Câmara, que reúne oito partidos, Elmar tem o mesmo perfil de Lira, assertivo e não tão aberto ao diálogo, o que não agrada muito os parlamentares do chamado “baixo clero”.

Além disso, sofre resistências de uma ala petista da Bahia e por parte dos governistas, que não confiam em deixá-lo no comando da Câmara por dois anos.

Por outro lado, Elmar é visto como um nome “combativo” e que pode proteger os interesses dos deputados frente ao Executivo em temas como emendas parlamentares e mais espaço na Esplanada.

Para reduzir resistências do governo, Elmar conseguiu “furar a bolha” do Centrão e recebeu a sinalização de apoio de dois partidos do campo progressista: o PDT e o PSB.

Mas, ainda não há certeza sobre a federação PT/PCdoB/PV. Um parlamentar do grupo disse que os três partidos combinaram de escolher juntos e não devem anunciar separadamente a escolha, ainda que as opiniões sejam divergentes.

Antonio Brito (PSD-BA)

Deputado Antonio Brito (PSD-BA) — Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Já Antonio Brito tem a preferência da maior parte dos governistas e é visto como um perfil que pode facilitar a atuação do Palácio do Planalto, depois de dois anos não tão harmoniosos com Lira na condução.

Se por um lado o perfil de Brito ganha a simpatia do governo, por outro há o receio de uma postura “submissa”, que não bate de frente com o Executivo em nome dos deputados.

Aliados de Brito, contudo, fazem questão de lembrar que ele também é próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que recentemente o presenteou com uma medalha que só é dada a aliados mais próximos.

Apesar de mais carismático, há quem diga que Brito está na sombra de Gilberto Kassab, presidente do PSD, e “ninguém quer o Kassab no comando da Câmara”, como definiu um deputado.

Marcos Pereira (Republicanos-SP)

O deputado federal Marcos Pereira, em entrevista ao Estúdio i. — Foto: Reprodução/GloboNews

Presidente do Republicanos, Marcos Pereira é o atual vice-presidente da Câmara e, segundo pessoas próximas, aguarda há muitos anos a possibilidade de concorrer ao posto mais alto da Casa.

Pereira e Lira já conversaram sobre a disputa nesta semana. Como fez chapa com o presidente da Câmara nas últimas eleições, havia certa expectativa de que o deputado tivesse seu apoio no futuro — o que não é a aposta de aliados do atual presidente da Casa.

O conteúdo da reunião, no entanto, não foi divulgado pelos deputados.

A favor de Pereira está o fato de ter um perfil conciliador, com bom trânsito entre governo e oposição. Mas nos últimos meses deu declarações que desagradaram parlamentares ligados ao ex-presidente Bolsonaro e, integrante da Igreja Universal, sofre rejeição de outros grupos evangélicos.

Um encontro em Brasília na última terça-feira (27) é visto como um movimento de apoio ao seu nome.

O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia — que sofreu uma derrota para Lira na eleição para a presidência da Câmara em 2021, quando não conseguiu eleger seu sucessor, Baleia Rossi (MDB-SP) — reuniu alguns integrantes do MDB, Republicanos e PSD, entre eles Brito e Pereira.

Embora não admitam, há quem diga que os três partidos poderiam se unir para uma eventual derrota de Elmar, especialmente se houver segundo turno na disputa.

  • Além dos três nomes que garantem a candidatura, outros deputados também são lembrados para concorrer, como Isnaldo Bulhões (MDB-AL), Hugo Motta (Republicanos-PB) e Dr. Luizinho (PP-RJ).

Por que o governo ‘não quer se meter’?

Em reunião com líderes partidários nesta semana, Lula disse que não vai interferir na eleição da Câmara, nem vetar o nome escolhido por Lira.

Defendeu, ainda, que Lira tem o direito de escolher seu sucessor, assim como ele próprio quer fazer o seu na presidência da República.

Aliados de Elmar enxergam na fala um “sinal verde” ao seu nome. Ainda assim, há um receio de que a imagem de Lira se desgaste caso o governo entre na briga num momento mais próximo da eleição.

Quem defende a distância do governo na corrida lembra de dois casos emblemáticos e que deram dor de cabeça aos governos petistas: em 2005, quando Severino Cavalcanti venceu a disputa contra o nome apoiado pelo presidente Lula, Luiz Eduardo Greenhalgh, e em 2015, quando Eduardo Cunha venceu o candidato de Dilma Roussef, Arlindo Chinaglia.

Briga pelas emendas

A briga pelas emendas parlamentares também entrou no centro da disputa pela eleição da Câmara, desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu suspender o pagamento dos recursos até que sejam aprovadas regras de transparência.

Por um lado, parlamentares próximos a Lira avaliam que sua postura combativa com o STF reforça a popularidade do presidente e seu perfil de defensor da Casa.

Segundo essa avaliação, a defesa que Lira faz das emendas foi importante não só para reforçar os votos para seu sucessor como também para virar votos a seu favor, principalmente de quem está “machucado” com o presidente.

Um aliado diz que existe muita gente cansada do jeito duro de Lira e isso acaba pesando contra a imagem dele.

Por outro lado, a impossibilidade de utilizar esses recursos na composição de acordos para seu sucessor amarra o presidente da Câmara e pode atrapalhar seus planos, segundo parlamentares.

As emendas parlamentares, em especial as indicadas pelas comissões, são uma ferramenta de poder dentro da Casa.

Votação secreta e com segundo turno

Como a eleição para a Mesa Diretora é secreta, os pré-candidatos têm em mente que não basta firmar acordos com as lideranças dos partidos, é preciso “conquistar o coração” dos deputados, inclusive os do “baixo clero”.

Segundo uma fonte que acompanha as negociações na Câmara, “na votação, estão apenas o deputado, a urna e as mágoas acumuladas com Lira e Elmar nos últimos 4 anos.”

Além disso, uma disputa acirrada pode empurrar a eleição para um segundo turno. Segundo o regimento da Casa, vence em 1º turno o candidato que tiver a maioria absoluta dos votantes — ou seja, se 400 deputados votarem, a disputa se encerra no 1º turno se um dos candidatos receber 201 votos.

Um eventual segundo turno é visto com receio por aliados de Lira. Há quem aposte que, neste cenário, Republicanos, PSD e MDB poderiam fazer uma “jogada casada”, ainda que ninguém admita, e que pode contar com a participação do governo.

Neste caso, o nome que for para o segundo turno com Elmar pode reunir mais votos e vencer.

Três eleições

Para aliados de Lira, o presidente da Câmara vive um momento de pressão não só pela sucessão, mas porque neste momento enfrenta três eleições: na Câmara, em Maceió, e em Barra de São Miguel, onde seu pai é prefeito.

Em Maceió, as preocupações são duas: o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), vice de João Henrique Caldas (PL-AL), era um aliado, mas se afastou nos últimos meses e protagonizou uma disputa com Lira durante a votação, no Senado, do projeto da taxação das compras internacionais; e Rafael Brito (MDB), candidato do seu adversário no estado Renan Calheiros (MDB-AL).

Lira também reforça a campanha eleitoral em Barra de São Miguel, onde seu pai, Benedito de Lira (PP-AL), é prefeito e tenta a reeleição. A manutenção do comando do município na mão da família é central para Lira.

Em meio a tantas disputas e traumas de ex-presidentes da Câmara — que caíram no esquecimento ou tiveram complicações judiciais —, segue a tentativa de Lira em manter sua influência já que, nas palavras de um aliado, “a política costuma ser ingrata”.

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