Por Kellen Barreto, TV Globo — Brasília


  • O embaixador Breno Dias da Costa, expulso da Nicarágua, reuniu-se com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em Brasília

  • A expulsão do diplomata foi uma retaliação pela ausência do Brasil nas celebrações da Revolução Sandinista, refletindo a deterioração das relações entre Lula e Ortega

  • Em resposta, o Brasil expulsou a embaixadora da Nicarágua, Fulvia Patricia Castro Matus

  • As relações entre os países pioraram após Lula congelar as relações devido à prisão de religiosos na Nicarágua

  • Ortega, no poder há 17 anos, é acusado de autoritarismo e nepotismo. O seu governo é classificado como uma autocracia

O diplomata Breno Dias da Costa e o chanceler Mauro Vieira durante reunião no Itamaraty — Foto: Divulgação/Itamaraty

O embaixador Breno Dias da Costa, que foi expulso da Nicarágua pelo governo de Daniel Ortega, participou nesta segunda-feira (12) de uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em Brasília.

A expulsão de Breno Dias da Costa foi uma retaliação do governo da Nicarágua pela ausência do Brasil nas celebrações, em julho, pelos 45 anos da Revolução Sandinista – Daniel Ortega, presidente nicaraguense, é um ex-guerrilheiro do movimento.

A medida extrema também é considerada um indicador de como as relações entre os governos de Lula e Ortega, antigos aliados, vêm se deteriorando nos últimos anos.

"O ministro Mauro Vieira recebeu o embaixador Breno Dias da Costa, que ocupou, até 8 de agosto, o cargo de embaixador do Brasil na Nicarágua. Na audiência, trataram do estado das relações bilaterais e dos últimos acontecimentos antes de sua partida do posto", afirmou o Itamaraty em comunicado.

Em resposta à expulsão do diplomata brasileiro, o governo Lula também decidiu, pelo princípio da reciprocidade, expulsar a embaixadora da Nicarágua no Brasil, Fulvia Patricia Castro Matus.

Ela deixou o Brasil na madrugada da última quinta-feira, antes mesmo de ser informada da decisão do governo brasileiro.

Gesto grave

Relação entre Brasil e Nicarágua deteriora com expulsão de embaixadores

Relação entre Brasil e Nicarágua deteriora com expulsão de embaixadores

A expulsão de um embaixador brasileiro é um gesto grave nas relações diplomáticas entre dois países e indica a piora nas relações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o governo do nicaraguense Daniel Ortega, de quem Lula já foi aliado.

Em abril, Lula decidiu congelar as relações com a Nicarágua por um período de um ano em retaliação à prisão de padres e bispos no país.

Por conta desse congelamento, o embaixador brasileiro foi instruído a não comparecer às celebrações pela Revolução Sandinista, conforme o Itamaraty.

Em 2022, o governo de Daniel Ortega iniciou uma ofensiva contra a Igreja Católica do país, confiscando imóveis, dissolvendo ordens jesuítas e prendendo padres e bispos que denunciavam a guinada autoritária do líder esquerdista.

O Brasil tentava atuar como mediador entre o Vaticano e Manágua e pedia que o governo nicaraguense que soltasse bispos presos no país desde 2022.

No entanto, decidiu romper com o governo nicaraguense após Ortega se negar a soltar o bispo católico Rolando Álvarez, um dos principais críticos da gestão de Ortega.

Álvarez foi preso pela primeira vez em 2022. Depois, com a mediação do Brasil e a pedido do Vaticano, foi solto, mas o governo exigiu que ele deixasse a Nicarágua. O bispo se recusou e, por isso, foi preso novamente.

O fracasso nessa negociação aprofundou o afastamento entre Lula e Ortega. O Vaticano, na ocasião, rompeu relações com a Nicarágua e passou a classificar o país como uma ditadura.

Quase duas décadas no poder

Daniel Ortega, presidente da Nicarágua — Foto: Leonardo Fernandez Viloria/Reuters

Há 17 anos no poder, Ortega também é acusado por críticos de ditador e nepotismo -- sua própria esposa, Rosario Murillo, é a vice-presidente do país e, no ano passado, e ele já nomeou diversos parentes para seu governo.

O ex-guerrilheiro alega que seu governo é do povo e defende a soberania do país dos "ataques" dos Estados Unidos.

Segundo o índice V-DEM, que mede o status das democracias pelo mundo, a Nicarágua é uma autocracia. O presidente é Daniel Ortega, reeleito para o quarto mandato em 2021, em eleições apontadas pelos Estados Unidos como "nem justas nem livres".

Ortega é um ex-guerrilheiro de um movimento de esquerda dos anos 1970 conhecido como sandinista.

Ele também governou o país nos anos 1980, depois que seu partido, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), derrubou em 1979 o ditador Anastasio Somoza. A derrubada de Somoza é conhecida como a Revolução Sandinista.

Os sandinistas governaram Nicarágua até 1990, quando foram derrotados na eleição presidencial realizada no país.

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