Por Márcio Falcão, TV Globo — Brasília


  • O ministro Flávio Dino, do STF, disse nesta quinta que é necessário garantir o cumprimento de uma decisão da Corte que acaba com o chamado 'orçamento secreto'

  • Orçamento secreto foi o nome dado às emendas de relator, mecanismo de distribuição de emendas parlamentares pouco transparente e marcado pela ausência de critérios

  • Durante uma audiência de conciliação, Dino afirmou que a decisão do STF de 2022, que declarou inconstitucional a execução do orçamento sem publicidade, ainda não foi totalmente cumprida

  • Ele ressaltou que a determinação do STF se aplica a todas as modalidades de destinação de recursos, não apenas às emendas de relator

  • A audiência contou com a participação de representantes do Executivo, Legislativo, Ministério Público, TCU e AGU

  • O objetivo da reunião é estabelecer procedimentos claros para garantir o cumprimento da decisão da Corte

O ministro do STF Flávio Dino, em imagem de dezembro de 2023 — Foto: Pedro França/Agência Senado

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta quinta-feira (1º) que é preciso "assegurar efetivamente" o fim do do chamado "orçamento secreto" no Brasil.

O ministro deu a declaração na abertura de uma audiência de conciliação que discute se o Executivo e o Congresso estão cumprindo a determinação do STF que vetou a falta de transparência no pagamento de emendas parlamentares. Para o tribunal, a ordem não foi totalmente cumprida.

Além do ministro do Supremo, participam da reunião representantes do Executivo, Câmara dos Deputados, Senado, Ministério Público, Tribunal de Contas da União (TCU) e Advocacia-Geral da União (AGU).

Segundo Flávio Dino, a decisão do STF que declarou inconstitucional a execução do orçamento sem a devida publicidade e transparência não se restringiu às emendas de relator, mas a qualquer modalidade da aplicação desses recursos.

O magistrado ressaltou que "não houve ainda pleno cumprimento dessa decisão, em alguns casos, talvez, por indisponibilidade, inclusive, de dados, nas várias repartições que executam o orçamento da União".

"A razão de decidir do Supremo é que qualquer modalidade de orçamento secreto fica banida. E é o fenômeno, assentado na jurisprudência do Supremo, da chamada continuidade normativa. Ou seja, dizendo de outro modo, não basta mudar o número para mudar a essência", acrescentou Dino.

O ministro reforçou que a determinação é de transparência e que não é possível uma "execução privada de recursos públicos" de forma sigilosa.

"É preciso cumprir a Constituição no que se refere à transparência ou publicidade, e ou publicidade, e rastrear viabilidade, por idênticas razões, tal como fixado no acordo do Supremo, é preciso atender isto", disse.

Dino afirmou também que a audiência busca fixar um procedimento claro para por fim ao orçamento secreto.

"Pretendemos que haja deliberações concretas de procedimentos, prazos, medidas para que essa questão, essa controvérsia seja elucidada e nós tenhamos efetivamente o fim do orçamento secreto do Brasil. Esse é o objetivo desta audiência", declarou o magistrado.

Decisão burlada por outros mecanismos

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Os participantes vão analisar o cumprimento da decisão do STF que, em 2022, declarou o "orçamento secreto" inconstitucional e determinou que fosse dada transparência à aplicação dos recursos.

Segundo o colunista do g1 Valdo Cruz, os ministros do STF avaliam que a lei prevê vários caminhos para obrigar o governo e o Congresso a cumprirem as regras.

  • Para os magistrados, o Congresso simplesmente transferiu os recursos para outros mecanismos, burlando a decisão judicial.

Com isso, foram turbinadas as emendas de comissão e as "emendas PIX" – estas destinadas à base eleitoral dos parlamentares, em alguns casos, sem sequer identificar o deputado ou senador que assina o envio.

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