Por Kevin Lima, g1 — Brasília


Dep. André Janones (AVANTE - MG) — Foto: Mario Agra / Câmara dos Deputados

A oposição na Câmara dos Deputados apresentou recurso para levar à votação no plenário da Casa uma decisão do Conselho de Ética que arquivou um processo disciplinar aberto contra André Janones (Avante-MG) por um suposto esquema de desvio de recursos públicos do gabinete parlamentar — a chamada “rachadinha”.

O requerimento, assinado por 62 deputados, é inédito em toda a história do Conselho de Ética. Segundo a secretaria do órgão, esta é a primeira vez que uma decisão preliminar tomada pelos membros do colegiado é questionada via recurso.

Caberá ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), incluir o recurso na pauta de votações do plenário. Não há prazo para isso.

Conselho de Ética arquiva processo contra Janones por suposta ‘rachadinha

Conselho de Ética arquiva processo contra Janones por suposta ‘rachadinha

Pelas regras internas da Câmara, o plenário da Casa poderá acolher — ou não — o recurso, o que, na prática, reverteria o entendimento adotado pelo Conselho de Ética com base em um parecer apresentado por Guilherme Boulos (Psol-SP).

Nesse caso, se o recurso for provido, o processo retornará ao Conselho de Ética, receberá um novo relator e prosseguirá para a fase de coleta de provas e depoimentos

O acolhimento do recurso inédito dependerá do placar da votação em plenário.

Para técnicos da Secretaria-Geral da Mesa, por não haver menção explícita ao número mínimo de votos para que o recurso seja provido, deverá ser adotada como parâmetro a maioria simples (maioria dos votos dos presentes à sessão).

Denúncia

A denúncia fazia referência a uma gravação de áudio, divulgada pela imprensa no último ano, na qual o deputado mineiro diz a assessores que parte deles teria que devolver uma quantia do salário para abater um prejuízo na campanha eleitoral de 2016.

A “rachadinha” é uma prática ilegal na qual o gabinete de um parlamentar contrata funcionários, mas impõe a condição de que eles "devolvam" parte dos salários. Janones já é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pela suposta prática.

Em uma sessão marcada por confusões, sob protestos da oposição, a maioria dos membros do Conselho de Ética acolheu parecer de Boulos pelo arquivamento do caso, com o argumento de que havia “ausência de justa causa”.

O recurso, protocolado pela oposição no último dia 19, questiona justamente as conclusões de Guilherme Boulos.

No parecer, Boulos defendeu que o caso não deveria prosseguir por tratar de “fatos ocorridos antes do início do mandato” de André Janones. Na argumentação, utilizou um caso antigo do Conselho de Ética que envolvia o então deputado e hoje ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA).

À época, o órgão rejeitou a denúncia e arquivou a ação por entender que tratava de fatos anteriores ao mandato de Costa. O deputado era acusado de participar de esquema de desvio de recursos públicos destinado à construção de 1.120 casas populares.

“Não há justa causa, pois não há decoro parlamentar, se não havia mandato à época — o que foge do escopo, portanto, do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar — o mesmo caso visto agora”, escreveu Boulos.

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